Tendências do dia

Em Singapura, luxo não é ter uma Ferrari ou uma Lamborghini; é ter um carro, mesmo que seja ruim

Em Singapura, o luxo não se mede pelo ronco de um V12. Aqui, ter um volante já é uma exceção.
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
fabricio-mainenti

Fabrício Mainenti

Redator

O luxo não se mede pelo ronco de um V12 no país asiático; lá, ter um volante já é uma exceção, porque o simples direito de ter um carro custa uma pequena fortuna

O sistema COE: pagando pelo direito de dirigir

No cerne do modelo de Singapura estão os Certificados de Autorização (COEs), criados em 1990 para reduzir a poluição e o congestionamento. Esses certificados, válidos por apenas 10 anos, são essenciais para o registro de qualquer carro. Como são concedidos? Esse é o problema.

Duas vezes por mês, um lote de COEs é leiloado. Ao preço atual, eles alcançam mais de € 70.000 (cerca de R$ 437.775) cada. Como a demanda é tão grande, apenas os mais ricos podem pagar pelo direito de dirigir. Pior ainda: depois de economizar o suficiente para comprar um certificado, você ainda precisa comprar o carro! Assim, somando o preço do COE, um carro urbano padrão pode custar mais de € 100.000 (cerca de R$ 625.394).

O exemplo do corretor de seguros Andre Lee, citado pelo New York Times, é revelador. Em 2020, ele pagou US$ 24.000 (aproximadamente R$ 127.604) por um Kia Forte 2010, o que é cerca de cinco vezes o preço deste modelo nos Estados Unidos. Por que tanto luxo? O empresário queria simplesmente impressionar seus clientes. "É como usar um Rolex", confessa.

Três anos depois, Lee vendeu o veículo. Entre manutenção, combustível e estacionamento, ele não conseguia mais se sustentar, apesar do alto salário. A proprietária da empresa, Su-Sanne Ching, conta uma história semelhante: US$ 150.000 (aproximadamente R$ 797.527) por um Mercedes-Benz, incluindo US$ 60.000 (cerca de R$ 319.000) só pelo COE. "Eu pago pela conveniência", admite.

O Sistema COE: Pagando pelo Direito de Dirigir

Transporte público eficiente como alternativa real aos carros

Singapura é uma cidade-estado com 5,9 milhões de habitantes, compactada em uma ilha menor que a cidade de Nova York. Tal território teria dificuldade em suportar um número significativo de carros, razão pela qual o COE foi implementado. O mínimo que podemos dizer é que essa política está funcionando: em Singapura, há 11 carros para cada 100 habitantes

Na União Europeia, o número se aproxima de 56 a 57 veículos para cada 100 pessoas. Nos Estados Unidos, o número sobe para mais de 80 (fontes: Eurostat e ACEA). Menos carros significa ruas mais limpas, viagens mais rápidas (especialmente para serviços de emergência), mais espaços para pedestres e menos poluição sonora e de carbono. Quase tudo positivo!

Essa fórmula também funciona porque depende de uma rede de transporte público confiável, pontual e acessível. Em Singapura, uma longa viagem de metrô custa menos do que o equivalente a R$ 10, e plataformas como a Grab (um Uber para táxis) permanecem acessíveis e altamente eficientes.

Nos últimos 10 anos, a cidade-estado fez esforços significativos: várias novas linhas de metrô, mil ônibus novos, 200 trens adicionais... em suma, quantias colossais foram investidas em transporte público. Hoje, 80% das famílias estão localizadas a menos de 10 minutos de uma estação. Em outras palavras, abrir mão do carro não é um problema para a maioria das pessoas.

Um modelo exportável?

Um modelo exportável?

Por razões ecológicas óbvias, mas não apenas isso, muitas cidades buscam reduzir o tráfego urbano. Por isso, algumas estão experimentando algumas alternativas, sem nunca copiar o modelo asiático. Exemplos:

  • O México limita o tráfego por placa.
  • Londres e Estocolmo implementam pedágios urbanos.
  • Nova York começou este ano.

Nenhuma cidade chega tão longe quanto Singapura. Por quê? Talvez porque exija muito investimento. Talvez imponha uma mudança muito grande para as populações locais. Por fim, talvez não seja desejável tornar os carros um luxo reservado aos ricos.

Inicio