Tendências do dia

Não é viável: Europa quer acabar com os carros a combustão em 2035, mas montadoras traçam seus próprios planos

  • A Europa quer carros com motor a combustão a partir de 2035 apenas se forem de zero emissões de carbono

  • As montadoras já conquistaram pequenas vitórias até agora para flexibilizar as regras

Original
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
sofia-bedeschi

Sofia Bedeschi

Redatora
sofia-bedeschi

Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

892 publicaciones de Sofia Bedeschi

A Europa tem sido, sem dúvida, a região mais restritiva e ambiciosa na transição para o carro elétrico. Foram suas as políticas que apontaram para a proibição da venda de automóveis a combustão (com algumas ressalvas) a partir de 2035. Agora, as mesmas montadoras que diziam querer abraçar o carro elétrico estão pressionando para driblar essas metas.

Não é viável

Esse foi o último recado das fabricantes. Desta vez, quem falou foi a ACEA, associação que reúne as montadoras europeias. Não é a primeira vez que a entidade faz declarações nesse sentido, mas é a primeira em que leva o pedido formalmente aos reguladores por meio de uma carta.

O documento é assinado por Ola Källenius (presidente da ACEA e CEO da Mercedes) e Matthias Zink (presidente da Associação Europeia de Fornecedores de Automóveis, CLEPA). Nele, afirmam que os objetivos são pouco realistas e destacam sua frustração com a ausência de um plano integral de políticas que facilite a transição.

O que defendem? 

Segundo a carta, as montadoras já investiram 250 bilhões de euros até 2030 para colocar no mercado veículos mais limpos. No entanto, alegam que o cenário mudou e que existem obstáculos importantes a serem superados.

Um exemplo citado é a tarifa de 15% que os Estados Unidos vão aplicar às exportações de veículos vindos da Europa — um golpe direto nas fabricantes alemãs e também no mercado de autopeças. Além disso, reforçam que os números não mentem: a fatia dos elétricos no mercado mostra que a adoção dessa tecnologia está sendo mais lenta do que o previsto.

Quais as soluções? 

As de sempre: menos impostos, mais subsídios e maior flexibilidade nas regras para permitir a venda de diferentes tecnologias, incluindo os carros a combustão. Mais uma vez, as fabricantes pressionam para flexibilizar as normas.

O que a União Europeia tem em mãos? Duas fases importantes que as montadoras querem pular ou, ao menos, suavizar:

  • 2027: primeiro marco. Entre 2025 e 2027, a média de emissões das frotas não pode ultrapassar 93,6 g/km de CO2. Caso isso ocorra, a montadora deve pagar multa de 95 euros por grama excedido por carro vendido.
  • 2030: o limite cai para 49,5 g/km de CO2. Isso significa que um carro a gasolina não poderá consumir mais de 2,1 litros/100 km e um a diesel não poderá passar de 1,8 litros/100 km.
  • 2035: proibida a venda de carros a combustão que não sejam neutros em carbono.

A União Europeia conseguiu algum resultado? Sim.

 As regulamentações e a ameaça de multas bilionárias já chacoalharam a indústria. Não é coincidência que o lançamento de novos modelos das marcas esteja concentrado em elétricos ou veículos altamente eletrificados, com híbridos plug-in que já passam dos 100 km de autonomia no modo elétrico.

As pressões regulatórias sempre impulsionaram mais investimentos e novos desenvolvimentos. Nos últimos anos, vimos esforços claros em modernização de fábricas para a produção de elétricos e na construção de plantas para baterias.

Houve até anúncios de que algumas marcas se dedicariam exclusivamente ao carro elétrico, planos que foram se diluindo com o tempo.

E as fabricantes conseguiram algo?

 Sim, embora o resultado possa ser descrito como uma fuga para frente. O primeiro grande feito foi adiar as multas por emissões para 2027. Em teoria, a partir de 2025 a Europa já começaria a multar quem ultrapassasse o limite de 93,6 g/km de CO2, o que representaria multas bilionárias.

Por fim, os reguladores cederam e decidiram que as multas vão se basear na média de emissões de CO2 entre 2025 e 2027. Ou seja, se uma montadora exceder em 10 gramas o limite em 2025, terá dois anos para reduzir e ficar abaixo da meta. Isso, porém, vai obrigar a vender muito mais carros elétricos e híbridos plug-in entre 2026 e 2027.

Sutil, mas decisivo

Depois de múltiplas pressões lideradas por Alemanha e Itália, a proibição de 2035 mudou discretamente, mas de forma crucial. Antes se falava em motores de combustão “neutros em emissões”, mas a nova redação passou a falar em motores de combustão “neutros em emissões de carbono”.

Essa diferença é essencial para permitir a venda de motores a combustão que utilizem combustíveis sintéticos ou hidrogênio. Essas opções não são neutras em emissões, já que liberam partículas finas altamente nocivas à saúde. O problema está na própria queima do combustível e não tem solução viável.

Ao introduzir o detalhe de “neutros em emissões de carbono”, os fabricantes podem desenvolver esse tipo de propulsor, já que estarão autorizados a emitir tais partículas. 

O uso de combustíveis sintéticos e de hidrogênio os torna “neutros” nesse tipo específico de gás. Ainda assim, seriam veículos destinados a ser exceção, se os planos europeus forem cumpridos.

E o que esperar do futuro?

É difícil prever. A indústria europeia é extremamente forte e tem grande poder de pressão em países como Alemanha, Itália, França e Espanha, onde há alta produção de veículos. Conscientes disso, as montadoras sempre buscaram negociar à sua maneira, seja para atrasar normas ou conseguir mais subsídios.

Se os planos seguirem adiante, deveremos ver um forte aumento nas vendas de elétricos. É o caminho mais rápido para reduzir o consumo, já que os híbridos plug-in passaram a ser contabilizados com números mais altos de emissões, devido à mudança no método de medição.

Estamos, portanto, diante de mais um movimento da indústria para pressionar os reguladores e tentar flexibilizar as regras. Se terão sucesso ou não, só o tempo dirá.

Inicio