Tendências do dia

A geração Z da China enfrenta insegurança no emprego e pobreza: influenciadores digitais mostram como preparar duas refeições por US$ 1

A geração Z da China teme o futuro do trabalho; a última tendência: gastar US$ 1 por dia com comida ou usar uma barra de sabonete comum para toda a higiene em vez de cremes e outros cosméticos

Imagem de capa | Ondřej Matouš no Unsplash
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
fabricio-mainenti

Fabrício Mainenti

Redator

A China atravessa uma grave crise de emprego que afeta particularmente os jovens do país. O país, que investiu pesadamente na automação de muitos processos fabris a ponto de ter mais robôs do que todos os outros países do mundo juntos, enfrenta níveis recordes de desemprego.

Há um ano, viralizou na rede social chinesa Xiaohongshu a publicação de um desafio que membros mais velhos da Geração Z e jovens millennials compartilhavam com orgulho online: frugalidade, ou seja, comer com moderação. Muitos veículos de comunicação afirmam que eles compartilham isso como algo "legal". O orçamento era de US$ 66 (cerca de R$ 348,5) por mês.

Agora, há influenciadores digitais até mesmo promovendo a redução dos gastos com alimentação. Enquanto as autoridades alegam que o consumo interno insuficiente em grande parte da sociedade está prejudicando o crescimento, os recém-formados têm motivos para se preocupar com o futuro.

Na China, o desemprego entre os jovens tem se mantido em torno de 20% há algum tempo. Quem tem emprego teme perdê-lo, as condições de trabalho continuam difíceis, há uma desilusão generalizada com a situação atual e a persistente crise imobiliária pode fazer com que a perspectiva de ter uma casa própria pareça inatingível, especialmente nas grandes cidades. Assim, nas redes sociais, muitos jovens influenciadores demonstram como conseguem preparar duas refeições por dia com apenas um dólar (cerca de R$ 5,2).

Influenciadores de uma vida com menos

Essa tendência é impulsionada por influenciadores dedicados a mostrar como é possível viver bem com muito pouco. Por exemplo, a BBC apresenta a história de uma jovem de 24 anos, conhecida online como Zhang Small Grain of Rice, que demonstra como é prático usar uma única barra de sabonete para todas as suas necessidades de higiene pessoal, em vez de vários produtos caros de limpeza facial.

Ela também visita áreas comerciais para mostrar roupas baratas, práticas e de alta qualidade que duram mais. A influenciadora acredita que o que faz é muito positivo porque ajuda as pessoas a entenderem "as armadilhas do consumismo para que possam economizar dinheiro. Isso reduzirá o estresse e lhes dará paz de espírito."

Outro caso é o do jovem de 29 anos conhecido como "Little Grass Floating In Beijing", que posta vídeos preparando pratos simples. Ele afirma que consegue fazer duas refeições com pouco mais de um dólar.

Ele se descreve como uma pessoa comum de uma região rural da China, sem "educação superior ou conexões influentes, então preciso trabalhar duro para ter uma vida melhor", o que também significa viver com o básico. Ele trabalha para uma empresa de vendas online e diz que seu estilo de vida extremamente modesto lhe permitiu economizar mais de US$ 180 mil (cerca de R$ 950,6 mil) em seis anos.

O que a China precisa é de mais consumo interno

Ao mesmo tempo, essas tendências virais entre os jovens são uma mancha na economia chinesa. A China conquistou a reputação de ser uma economia capaz até mesmo de resistir à guerra comercial do presidente americano Donald Trump, apesar de sua indústria manufatureira tradicionalmente depender muito das exportações para os Estados Unidos.

No entanto, análises alertam que o país enfrentará desafios significativos a longo prazo se não impulsionar o consumo interno. O país chegou a discutir a necessidade de mudar radicalmente a jornada de trabalho, passando de 996 horas para dias mais curtos com mais pausas, por razões bastante lógicas: impulsionar o consumo interno e aumentar as taxas de natalidade. Se as pessoas trabalham menos horas, há mais tempo livre e mais tempo para gastar.

Nesse sentido, enquanto os Estados Unidos enfrentam o problema do hábito da sua população de contrair dívidas excessivas com cartões de crédito, na China o desafio é o oposto. As pessoas já tendem a poupar em vez de gastar, e essa tendência se intensifica quando percebem tempos difíceis pela frente.

O governo chinês vem prometendo há anos aumentar o consumo das famílias, mas este ainda representa apenas cerca de 39% do Produto Interno Bruto (PIB), em comparação com 60% em muitos países do Norte Global. Parte do problema reside no fato de que os jovens de hoje são mais pessimistas do que os das décadas de 1990 e início de 2000.

Imagen de capa | Ondřej Matouš no Unsplash


Inicio