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Bactéria desconhecida na Terra se desenvolveu na estação espacial chinesa: astronautas enfrentam situação digna de filme de ficção científica

Essa descoberta, digna de cenários de ficção científica, levanta novas questões sobre a vida em órbita e os riscos microbiológicos

Bactéria encontrada na estação espacial chinesa Tiangong intriga cientistas / Imagem: Wikimedia Commons
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Foi em maio de 2023, durante uma missão de rotina realizada pela tripulação Shenzhou-15, que amostras coletadas em um módulo habitacional da estação espacial chinesa Tiangong revelaram a presença de uma bactéria até então desconhecida na Terra. Batizada de Niallia tiangongensis, em homenagem à estação onde foi descoberta, essa espécie intriga os cientistas por suas características únicas e sua adaptação ao ambiente espacial.

Segundo o estudo conduzido no âmbito do programa China Space Station Habitation Area Microbiome Program (CHAMP), o microbioma da estação Tiangong se distingue claramente daquele da Estação Espacial Internacional (ISS). Os pesquisadores observaram uma predominância de microrganismos associados ao ser humano, mas também uma diversidade funcional e genética marcante, com mutações provavelmente ligadas à adaptação às condições extremas do espaço: microgravidade, radiação aumentada, confinamento e ciclos rigorosos de limpeza.

Niallia tiangongensis é parente da Niallia circulans, uma bactéria do solo conhecida por sua robustez, anteriormente classificada entre os Bacillus patogênicos. Como suas parentes, ela é capaz de formar esporos, verdadeiras cápsulas de sobrevivência frente ao estresse ambiental. Mas o que a distingue é sua capacidade inédita de degradar gelatina para extrair nitrogênio e carbono, uma vantagem valiosa para construir um biofilme protetor e resistir às condições hostis do espaço.

Por outro lado, ela parece ter perdido a capacidade de utilizar outras fontes de energia, o que demonstra a impressionante plasticidade da vida diante de um novo ambiente. Essa capacidade de adaptação rápida mostra o quanto o espaço funciona como um laboratório natural para a evolução microbiana.

Riscos para a saúde e a segurança das missões

Embora ainda não se saiba se a Niallia tiangongensis representa uma ameaça direta à saúde dos astronautas, sua parentesco com bactérias capazes de causar infecções severas em pessoas imunodeprimidas exige cautela. Ainda mais porque o acúmulo de mutações e a crescente resistência a antibióticos observados na estação podem complicar o manejo de eventuais contaminações.

Os pesquisadores destacam a importância de entender como esses microrganismos se instalam, evoluem e interagem com os humanos e os equipamentos a bordo. Pois o risco não é apenas sanitário: uma proliferação microbiana descontrolada também poderia danificar equipamentos sensíveis e até comprometer o bom andamento das missões.

A descoberta de Niallia tiangongensis não é um caso isolado. Estudos realizados em salas limpas da NASA, durante os preparativos para a missão Phoenix a Marte, revelaram a presença de dezenas de espécies bacterianas desconhecidas, capazes de sobreviver a condições antes consideradas estéreis. Esses micróbios devem sua resiliência a genes especializados na reparação do DNA e na resistência a substâncias tóxicas.

Diante da perspectiva de missões tripuladas à Lua, a Marte e além, o controle do microbioma espacial torna-se um desafio crucial. Não se trata mais apenas de prevenir contaminações, mas de antecipar como esses organismos se adaptam e evoluem em ambientes fechados e extremos.

A descoberta dessa bactéria desconhecida na estação Tiangong abre uma nova página na pesquisa sobre a vida no espaço. Ela nos lembra que, apesar de todas as precauções, o ser humano nunca está sozinho em suas viagens interestelares. Os microrganismos invisíveis podem desempenhar um papel fundamental no sucesso — ou no fracasso — das futuras grandes aventuras espaciais.

Imagem: Wikimedia Commons

Este texto foi traduzido/adaptado do site JV Tech.

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