Aranhaverso na vida real? Cientistas encontram megacidade de aranhas em caverna europeia

Descoberta revela teia de 106 m² e uma colônia com mais de 111 mil aranhas vivendo em cooperação em uma caverna na fronteira entre Albânia e Grécia

Aranha em caverna. Créditos: Urak
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Em uma caverna na divisa entre Albânia e Grécia, uma equipe internacional de pesquisadores, formada por cientistas de 10 países diferentes, identificou a maior teia de aranha já registrada no mundo: uma estrutura de 106 m², o equivalente ao tamanho de uma quadra de tênis, que se estende pelas paredes da Caverna de Enxofre. A descoberta, publicada na revista Subterranean Biology, também revelou uma colônia com mais de 111 mil aranhas vivendo em conjunto em um ambiente tóxico e completamente escuro, um tipo de organização social que não havia sido documentado antes para essas espécies.

Maior teia já registrada é identificada em caverna na fronteira entre Albânia e Grécia

A formação da teia de aranha gigantesca na Caverna de Enxofre começou a chamar a atenção de pesquisadores em 2022, quando espeleólogos (profissionais dedicados ao estudo de cavernas) da República Tcheca relataram uma formação incomum no local. Um ano depois, especialistas de dez países retornaram ao local equipados com trajes de mergulho, lanternas potentes e instrumentos de coleta para investigar o local. Esse tipo de roupa é necessário pois o ambiente é impregnado de gás sulfídrico, um gás incolor, tóxico e inflamável, com odor característico de ovo podre.

Durante a expedição na caverna, enquanto iluminavam as rochas, o grupo observou uma imensa manta de seda sobre a parede. A estrutura, muito parecida com uma colcha viva de seda, deixou os cientistas impressionados, tanto pela coerência quanto pela dimensão da teia.

Após analisarem a estrutura, a equipe identificou que a colônia é formada principalmente por duas espécies de aranha: 69 mil Tegenaria domestica, mais conhecidas como aranhas-de-funil ou aranhas-domésticas, e 42 mil Prinerigone vagans, que normalmente preferem ambientes úmidos. O curioso é que nenhuma delas tem o costume de viver em grupo como nessa caverna, o que chamou a atenção dos cientistas.

Megacidade de aranhas revela comportamento coletivo incomum em espécies normalmente solitárias

A Caverna de Enxofre é chamada assim pela enorme presença de  gás sulfídrico em seu interior, que exala um cheiro fortíssimo. Ela se formou ao longo de milhares de anos pela corrosão do calcário devido à ação desses ácidos sulfurosos. O ambiente mantém temperatura constante de cerca de 26 °C e concentra níveis de sulfeto de hidrogênio que seriam fatais para a maioria dos animais. Mas, mesmo assim, a caverna é abrigo de uma uma enorme quantidade de aranhas e uma cadeia alimentar completa que é totalmente independente do mundo exterior.

Na base do sistema estão bactérias capazes de oxidar o enxofre presente no gás da caverna, produzindo matéria orgânica por um processo chamado quimioautotrofia. Essa “película branca” cobre as rochas e serve de alimento para milhões de pequenos mosquitos não picadores, estimados em mais de 2,4 milhões de indivíduos. Os mosquitos, por outro lado, sustentam a enorme população de aranhas, que dependem exclusivamente deles para sobreviver.  A seguir, veja um vídeo mostrando o interior da caverna:

Ambiente subterrâneo estável pode ter permitido o crescimento contínuo da superestrutura por décadas

Em condições normais, as duas espécies que convivem em harmonia predam a outra na natureza, mas isso não acontece na Caverna de Enxofre. Como a escuridão é total, os cientistas acreditam que a ausência de visão elimina o comportamento predatório e favorece a coexistência dessas duas.

Exames de DNA indicam que as populações da caverna já apresentam mutações próprias, sinal de que estão isoladas há muitos anos. O microbioma das aranhas, um conjunto de microrganismos associados ao corpo, também é menos diverso do que o visto no exterior da caverna, refletindo o ambiente extremo. Além disso, as Tegenaria domestica locais produzem menos ovos do que indivíduos de superfície, o que pode estar ligado à toxicidade do ambiente.

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