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Empresa testa semana de trabalho de quatro dias; agora, funcionários acreditam que o ideal é trabalhar sete dias

  • Depois de testar a semana de quatro dias, a Lumen foi além: agora seus funcionários trabalham 32 horas por semana, do jeito que quiserem

  • A empresa só exige três horas semanais para reuniões e treinamentos. O resto do tempo cada um organiza conforme seu ritmo

trabalhar 7 dias por semana home office trabalho semana flexível. Imagem: Lumen
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

O debate sobre reduzir a jornada de trabalho está cada vez mais agitado, e vários países estão repensando o modelo tradicional, cogitando alternativas como a semana de quatro dias.

A Lumen, uma consultoria pequena de SEO lá de Cardiff, testou a semana de quatro dias e teve resultados incríveis. Mas o CEO, Aled Nelmes, achou que dava pra ir além e decidiu testar um modelo ainda mais flexível: trabalhar 32 horas por semana, distribuídas como o funcionário quiser — pode ser em sete dias, pode ser do jeitinho que cada um preferir.

Segundo o próprio Aled contou no LinkedIn, a mudança tirou uma barreira importante: a empresa não vai mais impor quantos dias ou quais horários os funcionários devem cumprir essas 32 horas. A palavra final é dos próprios colaboradores, que decidem quando e como trabalhar.

Segundo o CEO, há dois anos a Lumen adotou a semana de quatro dias. Os resultados passaram todas as expectativas: a rotatividade caiu para zero, a produtividade subiu, e os funcionários estavam mais descansados e engajados. Nas palavras de Nelmes, “nosso time dizia estar mais feliz, com melhor saúde e mais produtivo”. Mas dava pra melhorar ainda mais o modelo.

Sete dias para cumprir sua jornada

“A ideia da semana de 32 horas é ir além da flexibilidade que a de quatro dias nos oferecia”, explicou Nelmes. No sistema que a Lumen propõe, a única condição é que os funcionários cumpram seus projetos e metas, gerenciando seu tempo com total autonomia. Nelmes deixou claro em entrevista ao El Confidencial que “o que eu peço é muita autodisciplina, capacidade de concentração, autorregulação, iniciativa e independência”. A empresa busca colaboradores capazes de liderar seu próprio tempo e entregar o melhor de si.

“Eu acho que microgerenciamos demais o dia a dia dos nossos trabalhadores, assumimos qual tipo de jornada eles deveriam ter para serem produtivos. Meu argumento é que não é assim, a gente não sabe, e precisa delegar essa decisão para cada indivíduo”, destacou o jovem CEO ao El Confidencial.

A exceção: reuniões e treinamentos

Segundo o Financial Times, a única exceção à flexibilidade total da Lumen é o tempo reservado para reuniões de equipe para definir projetos e formações obrigatórias. No total, o CEO garante que não ultrapassam três horas semanais. Isso garante a conexão e a coordenação do time, sem sacrificar a autonomia individual.

Fora isso, cada funcionário organiza sua semana de trabalho com total flexibilidade, sem horários fixos de entrada ou saída.

Resultados e surpresas

Durante os três meses de teste desse novo modelo de flexibilidade, Nelmes percebeu que, na real, os funcionários não mudaram muito seus horários. A maioria manteve rotinas parecidas com as convencionais, ajustando só pequenos detalhes para aproveitar atividades pessoais. “As pessoas gostam de ter rotina e estrutura, então muitos… ainda preferem se movimentar dentro de um horário padrão”, explicou o CEO ao El Confidencial.

A flexibilidade ficou basicamente em adaptar o horário de trabalho para encaixar atividades pessoais, como esportes, consultas médicas, ou para combinar com os horários dos filhos, e depois compensar esse tempo em outro momento da semana.

O caso mais extremo, segundo Nelmes, foi uma funcionária que aproveitava essa liberdade para ajustar seus dias de folga durante a semana conforme o clima ou suas necessidades. Depois, trabalhava aos domingos, porque era quando encontrava mais concentração e menos interrupções.

Flexibilidade com valores e limites claros

Como o CEO contou, esse modelo não significa desconexão total da empresa. A Lumen tem muito cuidado na seleção do time para garantir que todos compartilhem os valores de compromisso e responsabilidade.Não contrataríamos alguém que só quisesse trabalhar 16 horas em dois dias”, afirma Nelmes. Aliás, o diretor garante que já tiveram que dispensar pessoas que não se adaptaram a esse nível de liberdade e exigência.

O objetivo é permitir que os funcionários tenham flexibilidade suficiente para se realizarem como pessoas e cuidarem das suas famílias, o que também ajuda a economizar com creches, faxinas e atividades extracurriculares. Segundo Nelmes, “se você deixa seus funcionários serem bons pais, eles também vão ser bons trabalhadores”. A empresa está especialmente focada em atrair pais e mães, convencida de que essa flexibilidade melhora tanto a produtividade quanto a qualidade de vida.

Um modelo adaptável, mas não para todos

Embora o executivo afirme que os resultados obtidos com sua equipe tenham sido positivos, ele reconhece que esse modelo não é viável para todas as empresas nem para todos os setores. Consultorias, bancos, escritórios de advocacia ou empresas de marketing podem se beneficiar desse tipo de abordagem, já que conseguem combinar a flexibilidade do trabalho remoto com a organização baseada em metas.

Por outro lado, ele admite que é uma alternativa de difícil aplicação em setores como a indústria manufatureira, a construção civil, a hotelaria ou o turismo, onde a presença física e os horários fixos são parte essencial da dinâmica de trabalho.

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