Uma das revistas mais importantes dos EUA comprou um Cybertruck por R$ 577 mil para testá-lo por um ano; após várias falhas e uma batida, o preço de revenda despencou

Apenas duas oficinas em Los Angeles estão habilitadas a reparar o modelo

Bastou uma batida forte para que o Cybertruck necessitasse de um reparo que custava quase seu valor de mercado / Imagem: Tesla
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Em julho de 2024, a revista norte-americana Edmunds comprou um Tesla Cybertruck para submetê-lo a um teste de longa duração. Menos de um ano depois, essa picape acabou sendo considerada perda total e o que restou dela foi vendido por quase 94 mil dólares a menos do que custou.

Desta vez, não se trata de especulação. O estopim foi um sinistro, já que consertar o estrago seria tão complicado e, acima de tudo, tão caro, que a Edmunds decidiu não reparar sua picape elétrica.

Consertar um Tesla Cybertruck sinistrado é extremamente complicado

A revista Edmunds, fundada em 1966 nos Estados Unidos, continua apostando em reviews de carros de longa duração e, para realizar seu teste mais recente, escolheu o Tesla Cybertruck.

Não faria muito sentido no Brasil, já que esse modelo não é vendido em nosso mercado, mas o carro está à venda nos Estados Unidos. Quando foi lançado, no final de 2023, o Cybertruck gerou expectativas sem precedentes, especialmente em lugares onde o carro elétrico começa a ganhar relevância, como na Califórnia, o mesmo estado onde fica a sede da Edmunds. Não é de se estranhar, portanto, que essa revista tenha escolhido a picape elétrica como protagonista de seu mais recente teste de longa duração.

Nesse tipo de teste, a Edmunds não solicita o carro ao fabricante, mas o compra diretamente e o incorpora à sua frota de testes. A compra foi realizada em julho de 2024, quase cinco anos depois do pagamento do depósito inicial de 100 dólares para garantir a reserva. A Edmunds comprou um Tesla Cybertruck Dual Motor Foundation Series, ou seja, a edição especial de lançamento com configuração de dois motores, 608 cv e tração integral. A revista pagou 101.985 dólares (R$ 577 mil) por essa unidade.

Quando a Edmunds anunciou que havia comprado esse modelo, explicou o motivo: “Independentemente do que você pense sobre o design exagerado do Cybertruck, suas origens estranhas ou da própria Tesla, não se pode negar que este é um dos veículos mais interessantes lançados em muito tempo”.

Pois bem, ainda não se passou um ano desde então, mas o teste de longa duração do Cybertruck já terminou — na verdade, a Edmunds já o vendeu. Conseguiu 8 mil dólares (R$ 45 mil) por ela, ou seja, 93.985 dólares a menos do que pagou. Sim, em menos de um ano.

Cybertruck

Já sabemos que a desvalorização do Tesla Cybertruck é enorme, mas isso não explica o péssimo negócio que a Edmunds fez com sua unidade. Ou, pelo menos, não completamente. Segundo relatou o veículo de comunicação, uma batida foi a responsável pela venda do Cybertruck — e pela venda com uma perda tão grande de dinheiro.

“No dia 11 de dezembro de 2024, nosso Cybertruck estava estacionado na rua, em frente a um restaurante em West Hollywood, quando um carro compacto avançou um cruzamento e bateu no parachoque e na roda traseira do lado do motorista. Como pode ser visto nas fotos, houve danos significativos na roda, pneus, painel de aço inoxidável e parachoque, sem falar nas dezenas de componentes internos que foram quebrados no processo. O impacto foi suficientemente forte para deslocar o Cybertruck de 2.993 kg para cima da calçada e parte do eixo traseiro se rompeu e caiu no chão.”

Segundo a Edmunds, o pesadelo começou depois do acidente. Em qualquer carro, um impacto desse tipo já seria caro de reparar, mas, com o Cybertruck, foi simplesmente inviável. A revista conta que oficinas convencionais não estão dispostas a mexer no Cybertruck e que ele só pode ser reparado por uma oficina oficial da Tesla — mas não qualquer uma, apenas aquelas certificadas para trabalhar com a carroceria de aço inoxidável. Há apenas duas em um raio de 80 quilômetros em Los Angeles.

Cybertruck

“A primeira oficina em Huntington Beach nos deu um agendamento para dali a um mês apenas para obter um orçamento. E, se quiséssemos seguir com o conserto, teríamos que esperar mais seis meses. A realidade dessa situação: teríamos que rebocar nosso Tesla até Huntington Beach, conseguir o orçamento, rebocá-lo de volta e guardá-lo em algum lugar por cinco meses e depois rebocá-lo novamente para o reparo”, relatou a Edmunds, que então descartou essa opção.

Na segunda oficina, a Edmunds também teve que esperar um mês apenas para obter o orçamento, mas lá havia a possibilidade de iniciar o conserto da picape imediatamente depois. Eles aceitaram, mas a Tesla ligou informando que a oficina estava com excesso de agendamentos e que seria preciso esperar um mês para começar a reparar o carro.

O orçamento fornecido pela oficina foi de 57.879,89 dólares (R$ 327 mil). A Edmunds afirma que o valor de mercado do carro (sem o dano, naturalmente) é de 86.160 dólares (R$ 487 mil), por isso o Cybertruck foi declarado diretamente como perda total. Pelo menos, a revista conseguiu vender o que restou do Cybertruck para uma casa de leilões por 8.000 dólares (R$ 45 mil). A Edmunds detalhou o orçamento do conserto:

  • Arranhões e molduras: US$ 619
  • Motores e componentes: US$ 4.191
  • Suportes do motor: US$ 77
  • Rodas e peças: US$ 1.758
  • Direção: US$ 2.040
  • Suspensão traseira: US$ 9.149
  • Interior e componentes: US$ 3.800 (incluindo US$ 3.240 para uma estrutura de aço de alta resistência)
  • Caçamba: US$ 8.762,79
  • Tampa da caçamba: US$ 2.495
  • Para-choques traseiros: US$ 2.417,73
  • Carroceria traseira e lanternas: US$ 1.668,50
  • Peças diversas: US$ 357,22
  • Outras peças não especificadas: US$ 5
  • Pintura e materiais: US$ 610
  • Imposto sobre peças e materiais: US$ 3.320,65
  • Mão de obra: US$ 16.584
  • Outros reparos: US$ 25

Além da batida e da experiência desastrosa com a tentativa de conserto, a Edmunds afirma que o Cybertruck apresentou problemas desde o início e que nunca conseguiram testá-lo com seus procedimentos habituais, pois seus instrumentos técnicos eram incompatíveis com o veículo.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Motorpasión.

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