Imagine comprar um dos hipercarros mais cobiçados e exclusivos do mundo, e ele te dar tanta dor de cabeça que você desiste de usá-lo e pede para a fabricante aceitá-lo de volta.
Foi exatamente isso que aconteceu com o dono de um Aston Martin Valkyrie. Apesar de ter o carro há apenas três anos e de ter rodado míseros 441 km, ele relata que os problemas de confiabilidade foram tantos que o levaram a pedir o cancelamento da compra à Aston Martin.
Falhas do carro e batalha legal
Assim como outros hipercarros, o Aston Martin Valkyrie rouba a cena por onde passa e é o sonho de qualquer entusiasta automotivo. E com razão: além do design espetacular, ele tem características que impressionam. Seu motor V12 aspirado de 6.5 litros, desenvolvido pela Cosworth, gera mais de 1.000 cavalos de potência. Com a ajuda de um motor elétrico, a potência total chega a 1.176 cavalos, suficiente para levar os 1.355 kg do carro de 0 a 100 km/h em pouco mais de 2,5 segundos e ultrapassar os 350 km/h.
No entanto, toda essa potência e exclusividade parecem ter vindo acompanhadas de uma série de problemas, levando a uma disputa legal entre o proprietário e a Aston Martin.
Além de tudo isso, o Valkyrie é o único carro de produção que serviu de base para o desenvolvimento de um hipercarro do WEC, o Aston Martin Valkyrie AMR-LMH. No entanto, sua produção foi bastante limitada: apenas 150 unidades foram fabricadas entre 2021 e 2024. Isso o torna um dos carros mais exclusivos do mundo. Contudo, nem todos os seus proprietários estão satisfeitos com essa "besta inglesa".

Um cidadão alemão, que possui um dos poucos Aston Martin Valkyrie existentes, está tão insatisfeito com o veículo que decidiu processar a Aston Martin. A informação foi divulgada pelo jornal Handelsblatt.
Ele comprou o carro por aproximadamente R$ 17 milhões (três milhões de euros) em 2018. Desde que a Aston Martin o entregou em 2022, ele dirigiu o veículo por apenas 441 quilômetros. No entanto, essa quilometragem foi suficiente para que ele percebesse que o carro apresenta inúmeros defeitos, conforme relatou ao Handelsblatt sob o pseudônimo de "Sebastian Kunze".
Múltiplos defeitos e danos
O proprietário do Aston Martin assegura que seu Valkyrie "tem mais defeitos do que todos os meus outros carros juntos". Por essa razão, ele processou a Aston Martin e exige o cancelamento da compra e a devolução do valor pago.
Entre as falhas apontadas, ele menciona que, pouco tempo após receber o carro, foi alertado sobre uma pane elétrica – problema que, segundo ele, não seria inédito no Valkyrie. Além disso, o veículo teria sofrido danos durante o transporte quando foi levado para a oficina.
Ele também relata falhas relacionadas ao sistema Rocket Locker do carro. Esse sistema é projetado para evitar que a suspensão hidráulica afunde quando o veículo fica parado por muito tempo e perde pressão. Kunze afirma que o carro afundou.

Mas o que realmente tirou o proprietário do sério foi o acidente que Kunze quase sofreu com uma ambulância enquanto dirigia seu carro no final de agosto de 2024.
O motor Cosworth do Valkyrie é tão barulhento que não permite ao motorista ouvir mais nada. Obviamente, isso é um problema em um carro de rua. Por essa razão, a Aston Martin equipou o Valkyrie com um sistema de microfones que captam o som externo e o reproduzem através de fones de ouvido que o motorista deve usar. Ou, pelo menos, deveria usá-los para estar ciente do que acontece ao seu redor em todos os momentos.
O problema de Kunze foi que, segundo ele, esses fones de ouvido não funcionaram, e ele quase sofreu um acidente com uma ambulância porque não conseguiu ouvir sua aproximação.

O advogado de Kunze relata que a Aston Martin comunicou que as falhas apontadas por seu cliente não são significativas, sendo características específicas de um veículo extremamente potente. A fabricante, sediada em Gaydon, argumenta que hipercarros como o Valkyrie são veículos complexos que exigem um serviço especial e um manuseio muito cuidadoso.
Além disso, a Aston Martin informou ao advogado de Kunze que, mesmo que a devolução do Valkyrie fosse aceita, seria cobrada uma indenização de aproximadamente R$ 375 mil pelos 441 km rodados pelo carro.

De qualquer forma, a Aston Martin não aceitou a devolução do carro e afirma que a ação judicial não é válida. A empresa alega que o processo foi aberto em um tribunal em Aachen, na Alemanha, mas que qualquer questão legal relacionada ao veículo deveria ser resolvida no Reino Unido. Isso porque o carro foi comprado lá, e o contrato de compra estabelece essa condição em uma de suas cláusulas.
O advogado de Kunze, por outro lado, argumenta que seu cliente adquiriu o veículo como pessoa física e, portanto, é um consumidor protegido pelas leis europeias. Essas normas permitem que ações legais sejam iniciadas no local de residência do demandante. Por enquanto, Kunze continua com seu Valkyrie, mas não o dirige desde o quase acidente com a ambulância. Resta saber qual será o desfecho dessa história.
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