Esqueça o que você viu em Fallout: a ciência calculou o limite real de sobrevivência em um bunker e o resultado é assustador

Entre a ficção de Vaults e Silos e a realidade fria da física nuclear, especialista explica por quanto tempo um abrigo realmente para que serve um abrigo nuclear

Crédito de imagem: Xataka Brasil
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João Paes

Redator
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João Paes

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Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

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Se Fallout e Silo nos ensinaram alguma coisa à cultura pop, é que o fim do mundo pode ser longo, burocrático e, de uma forma não tão agradável, até habitável. Nos games e na série do Prime Video ou nos livros e série do Apple TV, os Vaults e os Silos são verdadeiras cápsulas do tempo: bunkers capazes de sustentar gerações inteiras por décadas, às vezes séculos, até que o planeta esteja “seguro” novamente. O problema é que nada disso se sustenta quando a ficção dá lugar à ciência.

A pergunta é simples e perturbadora: por quanto tempo um abrigo nuclear real precisa funcionar? A resposta, segundo Alex Wellerstein — historiador especializado em armas nucleares e criador do simulador NUKEMAP —, está muito longe da fantasia vendida por Fallout, Silo e afins.

Em entrevista à WIRED, Wellerstein foi direto ao ponto: a maioria dos abrigos nucleares do mundo real não foi projetada para sustentar a vida humana por anos. Nem meses. Em muitos casos, o tempo estimado de permanência é de duas semanas e, dependendo da situação, ainda menos. Isso porque o objetivo principal desses espaços não é esperar o mundo voltar ao normal, mas atravessar o período mais crítico após uma explosão nuclear.

A verdade não é tão divertida como no entretenimento, porém segue uma lógica bem objetiva. A radiação da chamada precipitação radioativa cai drasticamente nos primeiros dias após a detonação. Quanto mais tempo passa, menor é o risco. O abrigo serve como um escudo temporário, não como um lar definitivo. A ideia de passar décadas trancado embaixo da terra, como nas obras citadas, simplesmente não faz parte do plano.

Outro mito desmontado por Wellerstein é talvez ainda mais desconfortável: abrigos nucleares não são feitos para resistir a uma explosão atômica direta. Se uma bomba cair exatamente onde você está, não existe porta de aço ou parede de concreto que resolva. O verdadeiro papel do bunker é funcionar como uma barreira física entre o corpo humano e as partículas radioativas do ambiente externo.

O especialista usa uma comparação didática: o abrigo é como o avental de chumbo usado em exames de raio-X. Ele não elimina a radiação, apenas reduz sua intensidade a níveis menos letais. É arquitetura aplicada à sobrevivência mínima, não à reconstrução da civilização.

É aí que Fallout e Silo se revelam ainda mais como obras de ficção científica. Dentro do universo da Bethesda, os Vaults nunca foram pensados para salvar a humanidade, mas para servir como laboratórios sociais. Experimentos extremos, éticos apenas no papel, justificam estruturas tão complexas e autossuficientes. Já na obra adaptada pela Apple, diferentes silos parecem abrigar gerações e gerações enquanto a  superfície do planeta segue inabitável.

No mundo real, a conversa é outra. Organizações como a Cruz Vermelha Americana publicam diretrizes práticas sobre como improvisar ou identificar abrigos adequados, sempre com foco em curto prazo. Sobreviver ao pico da radiação já é um desafio enorme. Pensar em décadas é pura ficção..

Talvez o aspecto mais assustador dessa descoberta não seja o tempo limitado em um bunker, mas a constatação de que a ficção nos treinou para esperar algo que nunca existiu. 

A segunda temporada de Fallout estreou na última terça-feira (16) no Prime Vídeo com episódios semanais. Já a terceira temporada de Silo é esperada para chegar ao Apple TV em algum momento de 2026.


Crédito de imagem: Xataka Brasil


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