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Japão tem ideia para evitar que crise de natalidade esgote sua defesa: inspirar-se nos Estados Unidos para suas armas

  • O país quer abrir um centro de pesquisa em Defesa inspirado no bem-sucedido DARPA dos EUA

  • As autoridades buscam maneiras de reforçar suas Forças de Autodefesa em meio à crise de natalidade

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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

O Japão não tem vida fácil em matéria de Defesa. No âmbito nacional, o país enfrenta uma persistente crise de natalidade que dificulta cada vez mais o reforço de suas Forças de Autodefesa. Como se esse desafio não fosse suficiente, o cenário geopolítico tem se complicado do lado de fora das fronteiras, com tensões regionais e a perspectiva de que os Estados Unidos mudem sua política internacional caso Donald Trump vença nas eleições em novembro de 2024 e retorne à Casa Branca.

Diante disso, o governo acaba de tomar uma iniciativa: decidiu impulsionar um centro de pesquisa em tecnologia de Defesa, inspirando-se no modelo dos EUA. Conforme noticiado em veículos locais, o Ministério da Defesa do Japão pretende inaugurar um instituto de pesquisa em Tóquio em outubro de 2024. Sua missão será agrupar talentos, aproveitar a experiência do setor privado e desenvolver tecnologias de Defesa capazes de fazer a diferença no campo de batalha.

Estima-se que o centro empregará cerca de cem pessoas e a maioria será externa ao Ministério, vinda de empresas ou universidades. De início, o orçamento do ano fiscal reservará aproximadamente 21,7 bilhões de ienes — equivalente a R$ 828 milhões — para sua implementação.

Buscando sua própria DARPA

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A proposta é ambiciosa. A agência de notícias Kyodo reporta que as autoridades japonesas se inspiraram na famosa Agência de Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa dos EUA, a DARPA, que desempenhou um papel fundamental no surgimento de tecnologias revolucionárias como GPS, internet, drones, veículos militares "furtivos" e satélites meteorológicos.

O objetivo: servir de ponte entre o setor privado e o braço estatal encarregado da defesa do país. Considera-se contratar especialistas em inteligência artificial ou engenharia robótica, entre outras áreas-chave.

Mudar as regras

Em um texto sobre o novo centro tecnológico, o jornal South China Morning Post (SCMP) vai além e afirma que o objetivo do governo japonês é desenvolver armas "que mudem as regras do jogo". Quais seriam essas armas? Por enquanto, algumas de suas linhas de trabalho já foram divulgadas: o desenvolvimento de veículos não tripulados com inteligência artificial capazes de se mover de forma autônoma no escuro, além de novas (e melhores) maneiras de detectar submarinos e mísseis hipersônicos.

Ou seja, obter "tecnologias de ponta de usos múltiplos que ajudem na criação de equipamentos de defesa", como já havia sido definido em 2022 na Estratégia de Defesa Nacional do Japão.

Questão de vocação... e ienes

Como pano de fundo, está o aumento do esforço orçamentário do Japão em matéria de Defesa. Em abril de 2024, o Nikkei revelou que as autoridades decidiram aumentar os gastos nessa área para 1,6% do PIB, o que, em termos concretos, se traduz em 56,7 bilhões de dólares (R$ 308 bilhões) — embora parte desse montante seja destinado à Guarda Costeira e a operações da ONU. Tudo indica que o esforço de investimento também será considerável em 2025.

O anúncio do Ministério da Defesa é importante, mas o contexto é ainda mais relevante. O Japão decidiu agir em um cenário marcado por tensões regionais, como os desentendimentos entre Seul e Pyongyang, a crescente tensão entre China e Taiwan (que se estende aos EUA) e entre Pequim e as Filipinas. E isso sem contar a disputa aberta entre Japão e China em relação à soberania das águas das ilhas Senkaku.

Olhando para o tabuleiro global

A esse panorama, acrescenta-se o fato de que China, Coreia do Norte e Rússia possuem armas nucleares, além das consequências que um hipotético retorno de Trump à Casa Branca poderia acarretar.

"O Japão precisa fazer mais por si mesmo", afirmou recentemente o cientista político Kazuto Suzuki, da Universidade de Tóquio, à This Week in Asia. "Estamos cientes de que os EUA são nosso aliado mais importante, mas também sabemos que, se não fizermos o suficiente para nos proteger, é possível que um futuro governo não nos ajude [...]. Houve uma mudança em nossa ideia de que não podemos depender dos EUA para sempre", declarou ele.

À perspectiva do que pode ocorrer na política americana em novembro de 2024, acrescenta-se outro fator, lembra o SCMP: a decisão dos EUA de pausar, de forma surpreendente, seu projeto Next Generation Air Dominance, que tem objetivo de desenvolver um caça de sexta geração. O Japão observa o projeto de perto devido ao seu potencial no confronto com a China.

Os EUA possuem a base aérea de Kadena no Oceano Pacífico e, recentemente, o próprio Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA explicou que a unidade estabelecida no final de 2023 na base naval da ilha japonesa de Okinawa foi criada para "contrabalançar a agressão da República Popular da China".

Um inimigo a ser vencido

Nem todos os desafios do Ministério da Defesa do Japão estão fora do país. Em casa, há outro, provavelmente o maior de todos: uma crise demográfica que reduziu os nascimentos a mínimos históricos e está dificultando o reforço das fileiras de suas Forças de Autodefesa (JSDF).

No final de 2023, o The New York Times estimou que, após anos sem conseguir atingir suas metas de recrutamento para Exército, Marinha e Força Aérea, o país viu suas forças ativas se manterem em cerca de 247 mil pessoas, quase 10% a menos do que no início da década de 90. Ao longo do ano fiscal de 2023, a Defesa conseguiu recrutar apenas 9.959 pessoas para as JSDF, muito longe de uma meta que girava em torno de 19.600 recrutas. E as expectativas, reconheceu recentemente o ministro da Defesa, não são boas: "Espera-se que a situação continue difícil".

Sob esse panorama, o professor Suzuki reconhece que o país é obrigado a buscar soluções: "Precisamos recorrer à tecnologia, porque o Japão enfrenta escassez de mão de obra. Já estamos enfrentando tempos difíceis para recrutar pessoal suficiente para o Exército, e é provável que isso piore no futuro, então precisamos mudar nossa ideia de como operar tropas e equipamentos, especialmente no âmbito marítimo", disse ele.

Isso já está acontecendo. A fragata Noshiro, por exemplo, colocada em serviço há pouco tempo, foi projetada para operar com dois terços da tripulação que o modelo anterior precisava. E, pelo menos até o final de 2023, estava operando com ainda menos pessoal.

Ao exército ou às empresas?

Para reverter a situação, o Japão precisa frear sua crise de natalidade e buscar soluções para a concorrência que o setor privado representa na hora de atrair talentos jovens. "Há pouca informação disponível para convencer um jovem graduado universitário de que se juntar às JSDF é melhor do que conseguir um emprego na Toyota", reconhece um especialista ao Japan Times. Apesar de ter aumentado a idade máxima para os recrutas e reforçado seu investimento em Defesa, o país continua vendo milhares de soldados desistirem a cada ano.

Este texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagem | Miki Yoshihito (Flickr)

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