As terras raras não são terras, nem são tão raras. Trata-se de um conjunto de 17 elementos químicos que se tornaram a alavanca que move tanto a geopolítica quanto praticamente todos os setores tecnológicos e energéticos da atualidade. Tão importante quanto saber como produzi-las é saber onde estão as reservas, e em ambos os casos há um nome que domina o cenário internacional: a China.
Neste gráfico podemos ver quais países têm a vantagem. Ou melhor, "o país".
Elaborado pela Visual Capitalist com base em dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o gráfico é bastante claro ao visualizar as reservas estimadas de terras raras. A China possui mais que o dobro das reservas do segundo colocado na lista, que por sua vez possui o triplo das reservas do terceiro. O gigante asiático teria reservas de 44 milhões de toneladas métricas, o Brasil com 21 milhões e a Índia com 6,9 milhões.
Bem distantes na lista estão países como Austrália (5,7 milhões), Rússia (3,8 milhões), Vietnã (3,5 milhões), Estados Unidos (1,9 milhão) e Groenlândia (1,5 milhão), se considerarmos aqueles que ultrapassam um milhão de toneladas. O mais impressionante é que o total mundial é estimado em cerca de 92 milhões de toneladas métricas, portanto a China detém aproximadamente 50% das reservas.
Importância das terras raras
As terras raras estão presentes em praticamente tudo que podemos imaginar. Desde os elementos mais sutis, como componentes de smartphones ou ímãs em fones de ouvido que usamos diariamente, até os mais complexos, como telescópios espaciais, tecnologia aeroespacial, sistemas de orientação por radar militar e armamentos avançados.
Elas também são cruciais para a fabricação de componentes essenciais para a geração de energia: baterias para carros elétricos e acumuladores para energias renováveis, além dos sistemas internos de painéis solares e turbinas eólicas. Aqui, um ponto importante: você pode ter reservas, mas se não as utilizar, elas serão inúteis.
Terras raras como arma
O problema é que esses elementos de terras raras não ocorrem isolados na natureza, mas sim ligados a outros minerais. É necessário separá-los, o que é feito por meio de um processo de refino extremamente caro e poluente. Devido às políticas ambientais ocidentais, durante anos relegamos essa tarefa à China, com regulamentações mais flexíveis (embora isso tenha mudado recentemente), e com as tarifas impostas por Donald Trump ao país asiático, vimos como os chineses se aproveitaram de sua posição. O mesmo que aconteceu com a soja.
Eles possuem a tecnologia e o conhecimento para processar terras raras e têm respondido às novas tarifas, que cortam o fornecimento de metais e elementos que o Ocidente precisa para criar armas ou para realizar essa mudança de paradigma tecnológico por meio de energias renováveis. O Ocidente, durante anos, financiou sua própria vulnerabilidade estratégica e tecnológica. Até mesmo minas ocidentais, como a Mountain Pass, nos Estados Unidos, enviavam seu material para a China para ser refinado.
Produções afetadas
A Suzuki teve que interromper a produção do Swift devido à escassez de componentes, a indústria automobilística europeia também reclamou e Elon Musk não tem dinheiro para fabricar seus robôs.
Como a China transformou as terras raras em sua principal alavanca de poder, o Ocidente teve que se movimentar e diferentes países empreenderam missões para buscar novos depósitos de terras raras. É uma estratégia que está dando frutos, com a descoberta de depósitos promissores na Espanha, Noruega, Groenlândia e Japão.
Está sendo realizado um estudo sobre como reiniciar a produção de terras raras no Ocidente, embora existam dificuldades tanto devido à técnica quanto, principalmente, às restrições de emissões.
Na Espanha, por exemplo, existem vários depósitos que, devido a essa extração problemática e poluente, param em projetos de mineração sido contestados por associações de moradores e prefeituras. Um exemplo é o de Torrenueva, em um importante sítio localizado em Campo de Montiel.
É por isso que existem vários projetos e pesquisas em andamento que priorizam não o refino de terras raras, mas a reciclagem desses elementos para, na medida do possível, deixar de depender tanto de um país que detém o monopólio, tanto em termos de reservas quanto de capacidade de produção, e de contratos com as maiores mineradoras do outro lado do mundo. Por exemplo, a planta de Serra Verde, que vende exclusivamente para a China até 2027.
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