Casa Branca troca a fonte dos documentos oficiais para uma menos “woke"

Em meio a disputas políticas sobre diversidade e profissionalismo, governo Trump manda abandonar a Calibri e ressuscita a clássica Times New Roman

Crédito de imagem: Alex Wong/Getty Images
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João Paes

Redator
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João Paes

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Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

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A crise da vez nos bastidores da política norte-americana não envolve orçamento, segurança nacional ou diplomacia internacional, mas uma fonte tipográfica. A nova direção do Departamento de Estado dos EUA, sob comando de Marco Rubio, determinou que todos os documentos oficiais voltem a usar a tradicional Times New Roman. O motivo? Calibri seria “informal”, “pouco profissional” e, segundo Rubio, parte de um “desperdício de programa de diversidade”.

Sim, em 2024, o governo Trump abriu uma guerra cultural contra as serifas. A decisão reverte uma mudança implementada em 2023, durante a gestão Antony Blinken, quando a Calibri foi adotada como padrão com o argumento de que era mais acessível para pessoas com deficiência visual. A fonte sem serifa — também padrão dos produtos da Microsoft — foi recomendada, segundo a imprensa americana, por grupos de diversidade e acessibilidade dentro do governo.

Mas no último dia 9 de dezembro, um comunicado interno enviado a todas as embaixadas americanas decretou o fim da Calibri no setor público. No texto, o Departamento de Estado afirma que “a tipografia molda a aparência profissional de um documento oficial” e que a fonte anterior “carece de decorum”. O discurso vai além: diz que abandonar a Calibri também significa “abolir mais um desperdício de programa DEIA” — sigla para diversidade, equidade, inclusão e acessibilidade, alvo direto da nova administração.

O memorando também invoca o “One Voice for America’s Foreign Relations”, uma diretriz de Trump que exige que a comunicação externa do país mantenha um tom unificado — o que, aparentemente, inclui ressuscitar a Times New Roman como guardiã da seriedade institucional.

O debate por trás dessa troca tipográfica carrega um subtexto bem mais pesado. Desde que reassumiu a Casa Branca, Trump acelerou o desmonte de políticas de diversidade, ordenando demissões de responsáveis por programas de diversidade, equidade e inclusão, cortando verbas e desencorajando iniciativas em empresas e universidades. Para seus aliados, essas políticas seriam discriminatórias contra homens brancos e enfraqueceriam a ideia de mérito. Ignorando o impacto dos programas ao reduzir preconceitos estruturais que permanecem em ambientes supostamente “neutros”.

No meio disso tudo, a fonte de um documento se transforma em arma política e a Times New Roman, símbolo dos textos formais dos anos 1990 e 2000, volta ao centro do palco. Uma decisão que, embora pareça pequena, revela até onde vai a guerra cultural nos Estados Unidos de hoje: nem a tipografia escapa.



Crédito de imagem: Alex Wong/Getty Images


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