A exploração de Marte está em um momento de tensão. A NASA perdeu recentemente o contato com uma de suas sondas orbitais mais importantes e enfrenta o envelhecimento crítico de toda a sua frota em volta do Planeta Vermelho. A crise na infraestrutura de comunicação pode comprometer seriamente a quantidade de dados que recebemos dos rovers na superfície.
A situação reacende um debate urgente: se a NASA leva a sério o futuro em Marte, já passou da hora de enviar novas missões orbitais.
A MAVEN desaparece enquanto a frota envelhece
O ponto de inflexão mais recente foi a perda de comunicação com a sonda MAVEN (link no primeiro parágrafo) no último fim de semana. Lançada em 2013, a MAVEN fez descobertas cruciais sobre como a atmosfera de Marte foi erodida ao longo de bilhões de anos.
No entanto, o valor da MAVEN vai além da ciência: ela é um nó vital na rede de retransmissão de dados da NASA. Sua órbita única permitia longos períodos de comunicação, suportando a maior taxa de transferência de dados entre todas as opções disponíveis. Antes da falha, a sonda tinha combustível para operar até 2030.
Com a MAVEN fora de ação, o foco se volta para o restante da frota, que está criticamente envelhecida:
- Mars Odyssey (Lançamento: 2001): está no espaço há mais de duas décadas e deverá ficar sem combustível nos próximos dois anos, de acordo com a agência.
- Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) (Lançamento: 2005): embora esteja em boas condições, com combustível para durar até 2030, a MRO é fundamental por ter a melhor câmera em Marte, essencial para mapear futuros locais de pouso. É uma peça insubstituível.
O risco para os rovers
Os veículos exploradores Curiosity e Perseverance podem se comunicar diretamente com a Terra, mas é a rede orbital que lhes permite enviar grandes volumes de dados científicos e imagens espetaculares.
Sem satélites de retransmissão funcionando de forma otimizada, a quantidade de informações que chega ao nosso planeta seria drasticamente reduzida.
O problema não é apenas a perda da MAVEN, mas sim o risco de um colapso em cascata. O iminente fim de vida da Mars Odyssey e o envelhecimento da MRO colocam em xeque a capacidade da agência de sustentar suas operações de superfície, além de comprometer o mapeamento de alta resolução necessário para futuras missões, incluindo as tripuladas.
A solução: telecomunicações dedicadas
Diante da crise, o governo dos EUA finalmente demonstrou interesse em investir em uma solução robusta.
O Congresso aprovou recentemente uma dotação de US$ 700 milhões para um novo Orbitador de Telecomunicações de Marte dedicado e de "alto desempenho". Este novo orbitador, que seria desenvolvido através de um contrato de preço fixo (com empresas como a Blue Origin e a Rocket Lab já apresentando conceitos), visa substituir a rede atual e garantir o suporte de comunicação de alta capacidade necessário para as futuras décadas de exploração.
A medida reconhece que acoplar rádios de retransmissão a sondas científicas (a estratégia anterior da NASA) não é mais suficiente. Se o projeto for adiante, Marte finalmente terá uma rede de comunicação digna de sua importância científica e exploratória.
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