Em meio à guerra tarifária que acabou se transformando em um confronto bilateral entre Estados Unidos e China, o gigante asiático respondeu bloqueando a exportação de terras raras. A Casa Branca, ao que tudo indica, já esperava por isso e jogou uma de suas últimas cartas.
A administração Trump redigiu uma ordem executiva para permitir o armazenamento de metais encontrados no leito marinho do Oceano Pacífico, segundo o Financial Times. Essa iniciativa busca combater a influência da China sobre as cadeias de suprimento de minerais críticos, já que o país controla 70% do mercado global.
Uma grande reserva
Esses metais estão presentes nos nódulos polimetálicos do leito marinho, que contêm minerais como níquel, cobalto, cobre, manganês e traços de terras raras. De acordo com o veículo britânico, o governo dos Estados Unidos considerou que a mineração em águas profundas garantirá uma fonte nacional desses materiais e, por isso, busca acelerar os pedidos de mineração com base na legislação nacional. Dentro dessa estratégia, estaria incluída a criação de uma reserva estratégica de minerais para garantir o autoabastecimento.
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês) é a responsável por regular a mineração em águas internacionais. Em uma reunião recente, ainda não se chegou a um acordo sobre como proceder com a mineração submarina. Muitos países estão pedindo uma moratória sobre essa prática devido ao impacto em ecossistemas marinhos pouco conhecidos.
No caso dos Estados Unidos, o país não ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982, o tratado que dá sustentação legal à ISA. Em outras palavras, os EUA não fazem parte da entidade, o que levanta uma grande dúvida sobre a legalidade de conceder permissões a empresas para operar em águas internacionais. Por sua vez, entidades como a The Metals Company têm insistido que a ISA não possui um mandato exclusivo, mas alguns especialistas jurídicos alertam que agir sem sua autorização é um movimento arriscado que pode colocar todas as nações contra os Estados Unidos.
Esse oceano e não outro
Enquanto os EUA enfrentam essa situação, a escolha do Pacífico tem muito mais profundidade estratégica — e está diretamente ligada ao gigante asiático. A China é um dos principais atores da mineração submarina, com contratos de exploração concedidos pela ISA na Zona Clarion-Clipperton (CCZ), uma região rica em nódulos polimetálicos. Além disso, estima-se que esse corredor submarino possa conter mais minerais críticos do que muitas reservas terrestres combinadas, o que o torna um alvo estratégico.
Recentemente, a China iniciou a construção de um laboratório submarino a 2.000 metros de profundidade no Mar do Sul da China, reforçando sua posição científica e operacional nos fundos oceânicos. Segundo o Financial Times, tudo faz parte de uma visão mais ampla: o Pacífico como o novo front de competição econômica e militar, onde o controle dos recursos profundos pode fazer toda a diferença.
O fundo oceânico é uma das nossas grandes incógnitas, por isso a ISA está promovendo essas reuniões para estabelecer o quanto antes um código de mineração entre todas as nações. Por sua vez, cientistas e grupos ambientalistas têm alertado que é urgente proteger os oceanos diante dos efeitos irreversíveis que essa atividade pode causar.
Imagem | Trump White House Archived e Mister Pommeroy
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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