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Ignorada pelos Estados Unidos, ESA acaba de assinar acordo de colaboração com uma potência emergente: a Índia

Estratégia inclui primeira fase de voos para a órbita baixa da Terra e segunda fase na Lua

Imagem | ISRO
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Parecia que a nova corrida espacial tinha dois lados bem definidos, mas as últimas reviravoltas na NASA deixaram parceiros leais, como a Agência Espacial Europeia, na mão. Agora, a ESA voltou seu olhar para o Oriente.

Habemus pactum

A Agência Espacial Europeia e sua contraparte indiana (ISRO) acabaram de assinar uma declaração conjunta de intenções para colaborar em voos espaciais. A estratégia inclui uma primeira fase de cooperação em órbita baixa da Terra e uma segunda fase na Lua.

Ambas as agências se comprometeram a trabalhar na interoperabilidade de suas respectivas espaçonaves, para que possam se encontrar e atracar em órbita baixa. A colaboração se estenderá ao treinamento de astronautas, simulações em solo e voos parabólicos.

Da órbita baixa para a Lua

O acordo também abre caminho para que a Europa lance experimentos nas plataformas POEM da Índia, que aproveitam os estágios superiores dos foguetes PSLV como plataformas orbitais.

A longo prazo, será uma oportunidade para astronautas europeus viajarem para a estação espacial planejada pela Índia, a Estação Bharatiya Antariksh, cuja conclusão está prevista para 2035, com um primeiro módulo em 2028.

Missões robóticas conjuntas à Lua também estão incluídas. A Índia está na lista de potências espaciais que pousaram com sucesso na Lua. A missão Chandrayaan-3 levou o módulo Vikram e o rover Pragyan ao polo sul lunar.

Novas alianças

O acordo, assinado pelo Diretor-Geral da ESA, Josef Aschbacher, em Nova Déli, chega em um momento crítico para os projetos espaciais europeus. A Casa Branca apresentou na semana passada uma proposta orçamentária que representaria um corte de quase 25% para a NASA. Essa "tesoura" tem impacto total nos programas em que a ESA investiu significativamente: a sonda espacial Orion e a estação lunar Gateway.

Em comunicado, Aschbacher afirmou que busca um meio-termo entre a cooperação internacional e o aprimoramento de suas capacidades autônomas. "As complexidades e os custos das missões espaciais frequentemente excedem as capacidades de uma única nação", afirmou. "Nesse contexto, as parcerias nos permitiram alcançar grandes marcos que seriam inimagináveis ​​sozinhos."

Em março, a ESA já havia assinado um acordo com a agência espacial japonesa JAXA para explorar missões conjuntas à Lua e a Marte. A tendência é clara: diante da guinada dos Estados Unidos para uma abordagem mais nacionalista, focada em sistemas comerciais privados (SpaceX, Blue Origin...) para suas ambições lunares e marcianas, a ESA está diversificando suas alianças.

Diplomacia europeia

Enquanto os Estados Unidos priorizam a rapidez e a redução de custos por meio do setor privado, deixando de lado os modelos tradicionais de colaboração internacional, a ESA utiliza a diplomacia ao se apresentar como "parceira confiável".

Parte dessa diplomacia torna improvável uma colaboração próxima com a China, a menos que a NASA continue sendo sua principal parceira. A Índia, com suas crescentes ambições espaciais e futuros voos tripulados, surge como uma alternativa estratégica fundamental neste novo tabuleiro geopolítico espacial.

Imagem | ISRO

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