O CEO da Nvidia ousa dizer em voz alta o que o mundo inteiro pensa sobre a China

Longe da linguagem evasiva habitual dos executivos, ele destaca uma realidade brutal: a América tem os chips, mas a China tem o concreto e a energia para fazê-los funcionar

Jensen Huang / Imagem: JV Tech
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Foi durante uma intervenção no CSIS (Center for Strategic and International Studies) que Jensen Huang, CEO da Nvidia, decidiu falar sem rodeios. Se, por um lado, todos concordam que os EUA dominam amplamente o mercado de concepção tecnológica, por outro o executivo questiona a capacidade do país de construir as infraestruturas necessárias para concretizar suas ambições. 

Segundo ele, a burocracia e a lentidão logística estadunidenses se tornaram um grande obstáculo, especialmente quando comparadas à eficiência chinesa. Ele ilustra esse descompasso com uma comparação:

“Se você quiser construir um centro de dados aqui nos EUA, entre a primeira pá de terra e a entrada em operação de um supercomputador de IA, provavelmente são necessários cerca de três anos. (Na China), eles conseguem construir um hospital em um fim de semana.”

A energia: o verdadeiro ponto central da guerra

Para além dos tijolos e do cimento, é o fornecimento de eletricidade que mais preocupa o CEO. A inteligência artificial é extremamente voraz no consumo de energia e, também aqui, os números apresentados por Huang são assustadores para a economia estadunidense.

A China já dispõe de uma capacidade energética duas vezes maior que a dos EUA, mesmo com a economia americana sendo, em termos gerais, maior. Pior ainda: ao observar as dinâmicas de produção, fica claro que a China não será alcançada tão cedo:

“A capacidade energética deles dispara, enquanto a nossa permanece basicamente estável neste momento. Isso não faz o menor sentido para mim.”

Trata-se de um problema estrutural que outros especialistas também vêm apontando. Kevin O’Leary observou recentemente que os prazos para obtenção de licenças nos EUA (de 6 a 18 meses) travam os projetos, enquanto a China inaugura novos complexos todos os meses. Sem eletricidade abundante e barata, os supercomputadores não passam de caixas vazias. Com todos esses dados em mente, há poucas chances de os EUA manterem a liderança.

A Nvidia mantém a vantagem tecnológica, mas por quanto tempo?

Apesar de tudo, Jensen Huang fez questão de tranquilizar seus aliados estadunidenses: do ponto de vista puramente tecnológico, o Tio Sam ainda mantém uma vantagem confortável. Ele afirma que a Nvidia continua tendo “gerações de vantagem” sobre a China no que diz respeito à concepção de chips de IA e aos modelos de fronteira.

No entanto, ele descreve a competição atual como um “bolo de cinco andares” (energia, chips, infraestrutura, modelos, aplicações). Se os EUA dominam o topo do bolo (chips e modelos), a China está travando a base (energia e infraestrutura) e também a aplicação concreta por meio do código aberto.

O CEO não esconde certa frustração por ver sua empresa excluída do mercado chinês, que ele define como o “segundo maior mercado tecnológico do mundo”. Ele alerta que subestimar a capacidade da China de recuperar seu atraso manufatureiro seria um erro grave:

“Qualquer um que pense que a China não é capaz de fabricar (chips) está deixando escapar uma ideia essencial.”

Para Huang, a solução passa por uma reindustrialização rápida dos EUA, um processo que a administração Trump parece querer acelerar ao classificar os data centers como infraestruturas críticas. A corrida está apenas começando e não será decidida apenas no código, mas também nos canteiros de obras.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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