Depois de assistir Predador: Terras Selvagens, passei a temer pela sequência de Alien: Romulus

Predador: Terras Selvagens chegou aos cinemas neste fim de semana e, por mais incrível que pareça, tem agradado a maior parte do público e até da crítica — e isso me faz temer pela sequência de Alien: Romulus. O motivo principal é um que é fácil de perceber ao assistir a nova obra: a descaracterização de uma franquia.

Em Xataka Brasil

A nova série de streaming de ‘Alien’ nos levará de volta aos xenomorfos, mas com uma ideia muito arriscada: leva-os à Terra

Presa e Predador 

Este não é o primeiro trabalho de Dan Trachtenberg com a raça alienígena que caça presas super agressivas. Na verdade, é o terceiro. Trachtenberg comandou O Predador: A Caçada (Prey) de 2022 e a animação Predador: Assassino de Assassinos de 2025. Ambos saíram direto para o streaming, mas com propostas bem diferentes — mesmo que compartilhando a qualidade em suas histórias.

No filme de 2022, Trachtenberg trabalhou com o roteiro de Patrick Aison fazendo uma aventura no passado, com um Predador caçando na Terra de 1700 e uma atmosfera que remete muito ao filme original, de 1987. Já na animação, o diretor dividiu essa função com Josh Wassung e escreveu o roteiro com Micho Rutare para contar diferentes histórias (em diferentes tempos) que são usadas para expandir o mito da espécie de outro planeta que caça criatura em todos os cantos dos universos.

Quando Terras Selvagens foi anunciado, novamente com Aison e Trachtenberg trabalhando juntos (e agora dividindo também o roteiro), fiquei esperando algo na mesma qualidade dessas duas obras anteriores, com a violência — não necessariamente gráfica — fazendo parte da história como faz nos melhores filmes de Predador.

Mas Terras Selvagens tem outro plano. A violência da espécie Yautja, como eles são conhecidos, aparece aqui e ali no filme, mas de forma praticamente gratuita e sem nada para dizer. Se nos melhores filmes da franquia há um paralelo entre invasores violentos, aqui nós somos jogados em uma história que poderia ser de qualquer filme mais ou menos da Marvel.

E eu cito a Marvel justamente por ela pertencer ao mesmo conglomerado que Predador faz parte desde que a Disney comprou todas as IPs que eram da Fox — e fica claro a estratégia de “marvelização” quando conhecemos a personagem interpretada por Elle Fanning. A sintética que compete para ser a androide mais chata já feita pela Weyland Yutani serve para juntar os universos, mas também parece tirada de qualquer filme da Marvel onde temos um personagem tagarela e bobinho, que adora fazer piadas (mesmo sem graça) a todo momento. Em certa parte, ela até faz um golpe característico da Viúva Negra, mesmo que só em partes.

No espaço, ninguém consegue gritar “parem de fazer isso”

É claro que a Disney não foi a primeira a pensar em juntar Alien e Predador num mesmo universo. A Fox fez isso anteriormente — em filmes que são completamente horríveis, bobos, toscos… enfim. No entanto, a própria Fox tinha desistido disso e entregado a Ridley Scott o comando criativo de Alien que rendeu dois filmes prequels que, se não são excelentes como o primeiro de 1979, pelo menos não são Alien Vs Predador.

A Disney chegou em Predador antes do que em Alien, com o já citado Prey de 2022. O filme fez tanto sucesso que Romulus, dirigido por Fede Alvarez e produzido por Scott, garantiu um lançamento nos cinemas, mesmo depois de ter sido planejado para ser direto para streaming, como Prey foi. O filme fez bastante sucesso, agradou público e crítica e garantiu uma sequência que ainda está em desenvolvimento.

Neste meio tempo, a Disney fez a primeira série desse universo com Alien: Earth, uma série que agrada na maior parte do tempo, mesmo com um meio estranho e um final super covarde — e que até agora não teve garantia de segunda temporada. A boa notícia é que, tanto em Romulus quanto em Earth, não há nada que junte os universos novamente.

A má notícia é que isso existe em Terras Selvagens, com a Weyland Yutani sendo parte central da trama da aventura que coloca um Predador como personagem principal pela primeira vez na franquia. Sim, a história se passa “muito no futuro”, com novas tecnologias (que, em todos os casos, parecem não fazer sentido algum) e sem nenhum Xenomorfo ou vínculo com as histórias passadas.

O atual presidente do 20th Century Studios, David Greenbaum, já disse que um novo Alien Vs Predador é uma possibilidade para o estúdio da Disney, mas sabe que é preciso fazer diferente do que já foi feito — o que, de certa forma, é um alento.

Será que Prey está para Romulus, como Terras Selvagens estará para o próximo Alien?

O que Romulus e Prey possuem em comum é o respeito com o que veio antes na franquia. Há cenas e arcos que remetem diversos filmes e obras que foram criados antes dessas entradas em suas franquias, mas eles conseguem expandir os temas das obras e respeitar as criações originais.

Terras Selvagens, não fosse o visual característico dos Yautja, poderia ser qualquer filme de ação e aventura espacial. Não há nada que o torne único. Ele não é péssimo (inclusive os efeitos especiais são muito bons), mas mostra pouco das tais Terras Selvagens e acaba virando um buddy-cop espacial genérico.

Alien: Romulus termina com os protagonistas em rota de um suposto planeta paraíso e é basicamente isso que temos para o futuro. Greenbaum já falou em entrevistas que quer contar a história seguindo esses personagens e com a visão de Alvarez e Scott. No entanto, a dupla vai só produzir o roteiro que Alvarez fez com Rodo Sayagues, que também co-escreveu Romulus. O estúdio está em busca de um diretor para o projeto.

Para onde essa história vai? Teremos uma continuação fechada em sua história, como Romulus foi, ou vão querer mudar toda a franquia para expandir o universo e fazer mais e mais filmes e bonecos de criaturas fofinhas e bobinhas, como fizeram com Predador? O medo que sinto pelo próximo Alien é maior do que qualquer filme da franquia já me proporcionou — e isso é culpa de Terras Selvagens.

Crédito de imagem: Xataka Brasil via Perplexity.