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O prédio que girou 90 graus com tudo funcionando: o feito surreal que marcou a engenharia nos anos 1930

Durante um mês inteiro, um edifício de 11 mil toneladas foi movido em Indianápolis sem parar suas atividades — com 600 funcionários trabalhando lá dentro e a cidade inteira assistindo de perto.

Bass Photo Co Collection, Indiana Historical Society. Imagem: Edificio de Indiana Bell em processo de rotação.
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Sofia Bedeschi

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Sofia Bedeschi

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

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Em novembro de 1930, Indianápolis, nos Estados Unidos, viveu um dos maiores feitos da engenharia moderna: o prédio da Indiana Bell Telephone Company — com 11 mil toneladas e sete andares — foi girado em 90 graus e movido 16 metros sem interromper seus serviços.

A operação manteve o fornecimento de energia, água, gás e telefonia, e ainda abrigava, normalmente, 600 funcionários. Um marco silencioso, preciso e surpreendente da história da arquitetura e da engenharia.

Uma história que começou com imigrantes alemães

A trajetória desse prédio começa décadas antes, em 1888, com a fundação do escritório Vonnegut, Bohn & Mueller por dois imigrantes alemães, Bernard Vonnegut e Arthur Bohn. Em 1907, o escritório projetou um edifício Art Déco para a Central Union Telephone Company, que mais tarde seria adquirido pela Indiana Bell.

Com a fusão das companhias em 1929, e o aumento da demanda por comunicação telefônica, surgiu a necessidade de expandir a sede. A proposta inicial era demolir o prédio original para dar lugar a uma nova estrutura, mas a interrupção dos serviços causaria prejuízos imediatos. Foi então que Kurt Vonnegut Sr. — filho de Bernard e pai do futuro escritor Kurt Vonnegut — apresentou uma solução ousada: mover o prédio inteiro.

Mover em vez de destruir: uma ideia revolucionária para a época

A ideia parecia insana: realocar uma construção inteira sem tirar do ar os serviços que ela prestava. Mas foi aprovada. O projeto foi elaborado pelos engenheiros Bevington, Taggert & Fowler, e executado pela construtora John Eichlea Co. O desafio era monumental: mover um prédio inteiro, sem rachaduras, sem quedas, sem ruídos — e sem que as pessoas dentro dele percebessem.

O edifício foi erguido com o uso de macacos hidráulicos e posicionado sobre rolos hidráulicos instalados sobre uma base de concreto e vigas de madeira de 75 toneladas, feitas especialmente para a operação. Enquanto o prédio descansava sobre um rolo, o próximo era posicionado. Assim, o edifício avançava a uma velocidade de cerca de 40 centímetros por hora. O deslocamento durou 34 dias.

Para manter o acesso ao prédio durante o movimento, uma passarela móvel foi construída e ajustada conforme o avanço. Internamente, tudo funcionava: o abastecimento de água, gás e luz foi adaptado em tempo real, e o atendimento ao público e às chamadas telefônicas continuou normalmente.

Um marco na história — mesmo que temporário

A operação terminou em meados de novembro de 1930 com sucesso total. Apesar do esforço quase cinematográfico, o prédio teve vida útil até o fim dos anos 1950. Em 1963, foi demolido para dar lugar a uma nova sede, mais alta e moderna, para acomodar o crescimento da empresa.

Fachada da sede da Indiana Bell Telephone Company Fachada da sede da Indiana Bell Telephone Company. Foto: Cortesia de AT&T Archives and History Center

Hoje, o terreno abriga um complexo de 22 andares da AT&T, que ainda carrega traços do estilo Art Déco original em homenagem ao edifício anterior. O feito, no entanto, segue vivo na memória da engenharia civil.

Muito além de Indianápolis: um exemplo pioneiro no mundo

O Indiana Bell foi um dos primeiros edifícios no mundo a ser deslocado ao invés de demolido — prática que mais tarde seria repetida em lugares como o Shubert Theater, em Minneapolis, o Belle Tout Lighthouse, na Inglaterra, e até no Empire Theater, em Nova York.

A obra de expansão feita em 1966, que demoliu o edifício antigo. Foto: The Indiana Album: Steve Herman Collection A obra de expansão feita em 1966, que demoliu o edifício antigo. Foto: The Indiana Album: Steve Herman Collection

A técnica, embora rara, prova que nem sempre é preciso destruir para evoluir. Mover estruturas pode ser uma forma de preservar o passado sem abrir mão do futuro. Uma decisão técnica, sim — mas também profundamente simbólica.

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