Tendências do dia

Um museu fechou suas portas para que Dua Lipa pudesse criar conteúdo; isso provocou um debate furioso

Museus, influenciadores e estrelas pop são os ingredientes de uma mistura altamente controversa

Dua Lipa
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
pedro-mota

PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Até as instituições mais renomadas estão atentas às últimas tendências em comunicação, e é por isso que museus experientes (mas não necessariamente presos ao passado ou ao analógico) adotam estratégias de promoção e divulgação fora do comum. A mais recente: influenciadores e estrelas pop visitando museus. Muitas vezes, com os prédios fechados.

Dua Lipa gosta de Bosch

Foi o que aconteceu com Dua Lipa, que aproveitou a passagem por Madri com a turnê Radical Optimism para publicar alguns de seus planos de lazer pela cidade. Um deles foi visitar o que ela afirma ser sua pintura favorita, "O Jardim das Delícias Terrenas". Claro, ela o fez com o museu fechado, em uma ação promocional que foi convenientemente compartilhada pela conta oficial do Museu do Prado. Dua Lipa não é a primeira, nem a única.

O que pode ser feito

Esse tipo de ação é muito valorizada pelos museus, pois lhes dá muita visibilidade entre um público que normalmente não acompanha suas redes sociais. Entre as atividades mais comuns – e analisadas em estudos como este da empresa EVE, especializada em projetos inovadores para museus – estão visitas privadas com o museu fechado, campanhas publicitárias com celebridades emprestam sua imagem, eventos especiais e, como neste caso, a criação de conteúdo colaborativo para as redes, algo cada vez mais disputado em tempos de guerra por cada segundo de atenção online.

Mais casos

Como dissemos, o caso de Dua Lipa não é isolado. Em 2020, a influenciadora italiana Chiara Ferragni visitou a Galeria Uffizi, em Florença, em uma sessão de fotos para a revista "Vogue Hong Kong" e com direito a uma visita guiada pelo próprio diretor da galeria de arte. O museu soube tirar proveito da ocasião, comparando a influenciadora à musa renascentista Simonetta Vespucci. Fotos de outras celebridades em ascensão, como Jay Z e Beyoncé, também costumam ser controversas, especialmente quando são fotografadas eclipsando obras de arte – como a cabeça de Nefertiti – imagem para a qual o casal obteve permissão especial do Neues Museum, em Berlim para acessar.

Museus estão se modernizando

Ações como essas fazem parte de um trabalho de modernização dos museus, o que naturalmente reflete no seu conteúdo de redes sociais. O Museu do Prado, por exemplo, tem sido muito elogiado por sua mistura calculada de entretenimento e divulgação, com um tom descontraído. Começaram com especialistas da casa que explicavam detalhes das grandes obras e sua restauração, mas hoje contam com uma variedade de conteúdos, com todos os tipos de divulgadores que ajudam a expandir o significado das obras. É uma nova forma de crítica de arte.

Tendência internacional

Essa modernização das redes também é visível em museus, como o Carnegie Museum of Art ou a Tate Gallery. O pioneiro, no entanto, foi o MET em Nova York, uma das primeiras instituições de arte com uma conta no TikTok e que alcançou um impacto notável mesmo antes da pandemia com iniciativas como #MetGalaStyle, que convidou usuários a criarem seu próprio conteúdo inspirado na famosa gala anual.

As reclamações

Naturalmente, propostas como essas podem gerar controvérsias. Os vídeos de Dua Lipa foram muito criticados nas redes sociais por a mostrarem a cantora tirando fotos no museu, algo proibido para o público comum. E há mais: fala-se de uma banalização da arte, da preocupação dos influenciadores em aparecer à frente das obras (como Beyoncé faz), e esse essa estratégia digital não estaria prejudicando mais as instituições do que a divulgação de seus catálogos.

De toda forma, trata-se de mais um sintoma da popularização da cultura e de como, depois de um tempo, a arte voltou a ser “cool”. Parte dessa responsabilidade é das tendências ditadas por influenciadores e superestrelas — mas também, sejamos justos, a conta do Instagram do Museu do Prado está, de fato, excelente.

Inicio