Ucrânia está perdendo ajuda dos EUA, então propôs algo à Europa: você me dá o dinheiro, eu fabrico as armas

A chave para o modelo: permitir que países aliados comprem diretamente armas produzidas no país

Ucrânia aposta tudo em armamentos
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

A Ucrânia era conhecida por ter construído uma indústria de drones diante da falta de ajuda. O que não se sabia mais era que, desde que a Rússia lançou sua invasão em larga escala em 2022, a indústria de defesa ucraniana havia experimentado um crescimento explosivo, multiplicando sua capacidade produtiva por 35, de 1 bilhão para 35 bilhões de dólares em potencial anual.

O problema era que o "potencial" não tinha saída devido à falta de financiamento. Até agora.

Os EUA recuam

O Wall Street Journal noticiou com exclusividade. O governo Trump decidiu redirecionar a tecnologia de defesa antidrone, originalmente destinada à Ucrânia, para as forças americanas no Oriente Médio, uma medida que marca uma mudança na prioridade estratégica do Pentágono e um menor envolvimento na defesa de Kiev.

Especificamente, trata-se de fusíveis especiais para foguetes do Sistema Avançado de Armas de Precisão (Advanced Precision Kill Weapon System), vitais para abater drones russos, que agora serão atribuídos a unidades da Força Aérea em caso de potenciais confrontos com o Irã ou os Houthis no Iêmen.

Primeiro, as críticas

Embora a medida se baseie em poderes de gastos emergenciais e tenha sido comunicada ao Congresso, ela recebeu críticas por seu potencial impacto negativo na capacidade defensiva da Ucrânia e pela falta de transparência sobre a real urgência. Enquanto isso, o governo não solicitou mais financiamento para o programa de assistência à Ucrânia, e altos funcionários, como o secretário de Defesa, têm evitado reuniões importantes da OTAN, insistindo que a Europa deve assumir um peso maior no apoio militar a Kiev, enquanto os Estados Unidos concentram sua atenção no Pacífico.

Componentes do Sistema Avançado de Armas de Precisão Componentes do Sistema Avançado de Armas de Precisão

Falta de recursos

A situação não é nova na Ucrânia, onde a falta de ajuda tem sido uma constante desde a invasão russa em 2002. O imenso desenvolvimento da defesa ucraniana não abrangeu apenas grandes empresas, mas também pequenas oficinas que operam até mesmo em garagens privadas, adaptando-se às necessidades do campo de batalha. No entanto, apesar dessa capacidade crescente, o país é limitado pela falta de financiamento: o orçamento do Estado permite apenas a compra de cerca de 11,5 bilhões de dólares em armamentos, o que deixa mais de dois terços do potencial industrial ocioso.

De fato, empresas do setor e altos funcionários concordam com o Insider que, se os fundos necessários estivessem disponíveis, a Ucrânia poderia triplicar sua produção de armas, fortalecendo assim sua resiliência e reduzindo sua dependência de fornecedores estrangeiros. Agora, eles acreditam ter encontrado a solução na Dinamarca.

Modelo dinamarquês

Para resolver esse paradoxo, a indústria ucraniana propôs uma solução já em andamento em pequena escala: o chamado "modelo dinamarquês". Essa fórmula, aplicada pela Dinamarca desde 2023, permite que países aliados comprem diretamente armas produzidas na Ucrânia, em vez de enviá-las de seus próprios arsenais ou comprá-las de fornecedores ocidentais.

Essa rota não apenas reduz custos e acelera a entrega de materiais, mas também garante que os soldados recebam exatamente o que precisam, fabricando de acordo com suas demandas táticas e com logística otimizada. Vários países já aderiram a essa abordagem e outros, como a Alemanha, estão trabalhando em suas próprias adaptações. Graças a essa fórmula, a Ucrânia conseguiu aumentar a produção de sistemas-chave, como o obus autopropulsado Bohdana, e já possui uma lista de armamentos (incluindo artilharia e veículos blindados) prontos para serem fabricados caso mais recursos sejam canalizados para o programa.

Colaboração e alternativas

Embora o modelo dinamarquês represente o caminho mais rápido e fácil, não é o único. Serhiy Goncharov, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Defesa da Ucrânia, e outros líderes do setor também propuseram à Comissão Europeia modelos mais complexos, baseados na coprodução e no financiamento de armas ucranianas que incluem componentes europeus.

Essa fórmula, embora mais lenta, pode ser atraente para uma indústria europeia que também está expandindo sua capacidade em meio a temores de expansão russa no continente. Além disso, o uso de ativos russos congelados como fonte de financiamento e o estabelecimento de alianças industriais para transferência de tecnologia estão sendo considerados. No entanto, Goncharov alerta que muitos parceiros ocidentais ainda não estão expandindo sua capacidade defensiva com a urgência que a situação exige e que, portanto, a Ucrânia não tem escolha a não ser continuar crescendo por conta própria para atender às suas próprias necessidades.

Oportunidade estratégica

A colaboração com a Ucrânia não representa apenas uma maneira de apoiar sua defesa no curto prazo, mas também uma oportunidade estratégica para os países aliados. A indústria de armamentos ucraniana, nascida e adaptada em meio ao conflito, acumula experiência de combate direto inestimável para qualquer potência militar. Considere que seu contato constante com a frente de batalha permite que o design e o desempenho das armas sejam ajustados de acordo com as condições reais do campo de batalha, algo que muitas indústrias ocidentais não conseguem replicar tão rapidamente.

Nesse sentido, a parceria com a Ucrânia oferece à Europa e a outras regiões uma dupla vantagem: fortalecer uma linha de suprimentos essencial para Kiev e aprender com um ecossistema militar que se mostrou extraordinariamente resiliente, inovador e eficaz sob pressão. Como conclui Goncharov, "não escolhemos estar em guerra, mas essa é a nossa realidade", e dentro dela, a capacidade de produção está pronta.

Imagem | Ministério da Defesa

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