A Ucrânia era conhecida por ter construído uma indústria de drones diante da falta de ajuda. O que não se sabia mais era que, desde que a Rússia lançou sua invasão em larga escala em 2022, a indústria de defesa ucraniana havia experimentado um crescimento explosivo, multiplicando sua capacidade produtiva por 35, de 1 bilhão para 35 bilhões de dólares em potencial anual.
O problema era que o "potencial" não tinha saída devido à falta de financiamento. Até agora.
Os EUA recuam
O Wall Street Journal noticiou com exclusividade. O governo Trump decidiu redirecionar a tecnologia de defesa antidrone, originalmente destinada à Ucrânia, para as forças americanas no Oriente Médio, uma medida que marca uma mudança na prioridade estratégica do Pentágono e um menor envolvimento na defesa de Kiev.
Especificamente, trata-se de fusíveis especiais para foguetes do Sistema Avançado de Armas de Precisão (Advanced Precision Kill Weapon System), vitais para abater drones russos, que agora serão atribuídos a unidades da Força Aérea em caso de potenciais confrontos com o Irã ou os Houthis no Iêmen.
Primeiro, as críticas
Embora a medida se baseie em poderes de gastos emergenciais e tenha sido comunicada ao Congresso, ela recebeu críticas por seu potencial impacto negativo na capacidade defensiva da Ucrânia e pela falta de transparência sobre a real urgência. Enquanto isso, o governo não solicitou mais financiamento para o programa de assistência à Ucrânia, e altos funcionários, como o secretário de Defesa, têm evitado reuniões importantes da OTAN, insistindo que a Europa deve assumir um peso maior no apoio militar a Kiev, enquanto os Estados Unidos concentram sua atenção no Pacífico.

Falta de recursos
A situação não é nova na Ucrânia, onde a falta de ajuda tem sido uma constante desde a invasão russa em 2002. O imenso desenvolvimento da defesa ucraniana não abrangeu apenas grandes empresas, mas também pequenas oficinas que operam até mesmo em garagens privadas, adaptando-se às necessidades do campo de batalha. No entanto, apesar dessa capacidade crescente, o país é limitado pela falta de financiamento: o orçamento do Estado permite apenas a compra de cerca de 11,5 bilhões de dólares em armamentos, o que deixa mais de dois terços do potencial industrial ocioso.
De fato, empresas do setor e altos funcionários concordam com o Insider que, se os fundos necessários estivessem disponíveis, a Ucrânia poderia triplicar sua produção de armas, fortalecendo assim sua resiliência e reduzindo sua dependência de fornecedores estrangeiros. Agora, eles acreditam ter encontrado a solução na Dinamarca.
Modelo dinamarquês
Para resolver esse paradoxo, a indústria ucraniana propôs uma solução já em andamento em pequena escala: o chamado "modelo dinamarquês". Essa fórmula, aplicada pela Dinamarca desde 2023, permite que países aliados comprem diretamente armas produzidas na Ucrânia, em vez de enviá-las de seus próprios arsenais ou comprá-las de fornecedores ocidentais.
Essa rota não apenas reduz custos e acelera a entrega de materiais, mas também garante que os soldados recebam exatamente o que precisam, fabricando de acordo com suas demandas táticas e com logística otimizada. Vários países já aderiram a essa abordagem e outros, como a Alemanha, estão trabalhando em suas próprias adaptações. Graças a essa fórmula, a Ucrânia conseguiu aumentar a produção de sistemas-chave, como o obus autopropulsado Bohdana, e já possui uma lista de armamentos (incluindo artilharia e veículos blindados) prontos para serem fabricados caso mais recursos sejam canalizados para o programa.
Colaboração e alternativas
Embora o modelo dinamarquês represente o caminho mais rápido e fácil, não é o único. Serhiy Goncharov, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Defesa da Ucrânia, e outros líderes do setor também propuseram à Comissão Europeia modelos mais complexos, baseados na coprodução e no financiamento de armas ucranianas que incluem componentes europeus.
Essa fórmula, embora mais lenta, pode ser atraente para uma indústria europeia que também está expandindo sua capacidade em meio a temores de expansão russa no continente. Além disso, o uso de ativos russos congelados como fonte de financiamento e o estabelecimento de alianças industriais para transferência de tecnologia estão sendo considerados. No entanto, Goncharov alerta que muitos parceiros ocidentais ainda não estão expandindo sua capacidade defensiva com a urgência que a situação exige e que, portanto, a Ucrânia não tem escolha a não ser continuar crescendo por conta própria para atender às suas próprias necessidades.
Oportunidade estratégica
A colaboração com a Ucrânia não representa apenas uma maneira de apoiar sua defesa no curto prazo, mas também uma oportunidade estratégica para os países aliados. A indústria de armamentos ucraniana, nascida e adaptada em meio ao conflito, acumula experiência de combate direto inestimável para qualquer potência militar. Considere que seu contato constante com a frente de batalha permite que o design e o desempenho das armas sejam ajustados de acordo com as condições reais do campo de batalha, algo que muitas indústrias ocidentais não conseguem replicar tão rapidamente.
Nesse sentido, a parceria com a Ucrânia oferece à Europa e a outras regiões uma dupla vantagem: fortalecer uma linha de suprimentos essencial para Kiev e aprender com um ecossistema militar que se mostrou extraordinariamente resiliente, inovador e eficaz sob pressão. Como conclui Goncharov, "não escolhemos estar em guerra, mas essa é a nossa realidade", e dentro dela, a capacidade de produção está pronta.
Imagem | Ministério da Defesa
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