Ucrânia acelera o ataque à Rússia com exército de robôs aquáticos: são lanchas que carregam lançadores de foguetes

Ter uma lancha capaz de lançar mísseis guiados deixou de ser coisa de agentes secretos. De fato, agora não são necessários humanos

Drones ucranianos / Imagem: Serviço de Segurança da Ucrânia
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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No final de setembro, a Ucrânia lançou uma mensagem: já era o maior laboratório de drones do planeta, mas, com seu último “monstro” de 12 metros, queria fazer o mesmo debaixo d’água. Assim apresentava ao mundo a família de drones submarinos Toloka, um salto tecnológico que redefinia a guerra naval no Mar Negro. Esse esforço agora tem continuação em um drone que até há pouco só víamos em filmes de James Bond e similares.

Os drones navais “Sea Baby” ucranianos, que antes eram lanchas explosivas descartáveis, foram transformados em plataformas de ataque e de múltiplas missões capazes de operar a mais de 1.500 quilômetros, transportar até 2.000 quilos e montar armamento pesado controlado remotamente (lançadores múltiplos de foguetes, torretas estabilizadas, lançamento de drones secundários), ao mesmo tempo em que incorporam sistemas de autodestruição para evitar a captura e desferir um último golpe antes de se apagarem. Para completar, trazem funções assistidas por IA para reduzir erros de identificação.

Esse passo não só acrescenta potência de fogo e alcance, como converte um recurso de baixo custo em um sistema sustentado que pode penetrar, atacar, voltar e permanecer disponível (ou se autodestruir), algo que reposiciona o drone naval do consumo imediato para o capital operacional renovável.

O Mar Negro

As sucessivas ondas de drones obrigaram a Rússia a recolher a maior parte de sua frota de Sebastopol para Novorossiysk, uma mudança de postura que não responde a uma derrota pontual, mas a esse risco persistente que torna inviável manter presença avançada sem assumir perdas contínuas.

Segundo o Serviço de Segurança da Ucrânia, os “Sea Baby” foram responsáveis por onze ataques contra navios, assim como a golpes repetidos contra a ponte da Crimeia e outras instalações logísticas, produzindo um efeito em cadeia: Moscou teve que redirecionar seu transporte militar para terra e para portos mais distantes, encarecendo cada quilômetro de sustentação e reduzindo sua capacidade de condicionar as rotas comerciais ucranianas rumo à Europa.

O que antes exigia frotas de aço, estaleiros e esquadras agora pode ser imposto com plataformas baratas, reproduzíveis e controladas à distância, o que altera a regra tácita de que o domínio marítimo pertence a quem possui tonelagem: aqui, o controle emana de quem consegue infligir dano repetido a um custo menor do que o que impõe ao defensor.

O caso ucraniano supera precedentes como os mísseis costeiros do Líbano em 2006, porque não nega apenas uma costa, mas força uma reconfiguração estrutural de toda uma esquadra e de sua base principal, demonstrando que um teatro naval completo pode ser alterado sem a necessidade de uma marinha convencional.

Kiev afirma produzir cerca de 4.000 drones navais e precisar apenas da metade para sua própria defesa, abrindo caminho para vender o excedente a países parceiros enquanto a OTAN observa e ajusta sua doutrina após comprovar que esses sistemas mudaram a relação custo/efeito no mar.

O financiamento público via United24 e a coordenação com o comando político e militar tornam o programa um exemplo de como um país em guerra pode gerar tecnologia dual com projeção externa, replicando o ocorrido com os UAVs aéreos: primeiro, eficácia em combate, depois, adoção internacional e ajuste doutrinário de terceiros.

Consequências e ciclos

Não há dúvida de que o sucesso ofensivo agora exige investimento defensivo: barreiras flutuantes, sensores, guerra eletrônica redundante e camadas de defesa pontual em portos e terminais para evitar que a inovação que funcionou externamente reverta sobre a própria infraestrutura.

A Rússia tenta copiar essas plataformas e empregá-las de volta, o que gera um ciclo de inovação frente a interferências que obriga ambos os lados a adaptar comunicações, navegação e arquitetura de missão para atravessar o bloqueio eletrônico. O resultado: um ciclo de evolução acelerada em que a vantagem não está mais em possuir uma arma isolada, mas na capacidade de melhorá-la continuamente antes que o adversário supere seu efeito.

Os drones navais ucranianos demonstraram que o poder marítimo inimigo pode ser erosionado sem a necessidade de uma frota convencional, por meio de massa barata, alcance estratégico e pressão contínua sobre pontos de valor, alterando a postura do adversário e realocando seus recursos para a defesa.

O deslocamento da frota russa, o impacto logístico e a adoção internacional como referência apontam para uma mudança de época: o mar deixa de ser um domínio assegurado pelo capital investido em aço e passa a ser um espaço onde a vantagem pertence a quem controla o custo marginal do próximo impacto, e não ao tamanho dos cascos que estão fundeados.

Imagem | Serviço de Segurança da Ucrânia

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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