Tendências do dia

Os verões são tão curtos na Finlândia que, para aproveitar as praias, a população está topando até lidar com um problema inesperado: cocô de ganso

Com humor e estoicismo, os finlandeses aceitaram que, entre o Sol, a água e a areia, sempre haverá um terceiro convidado

Finlandeses precisam conviver com cocô de ganso para aproveitar a praia / Imagem: JIP
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

1018 publicaciones de Victor Bianchin

Há poucos meses, a Finlândia foi proclamada pela oitava vez o país mais feliz do mundo. Depois vimos que nada é perfeito, porque, enquanto isso acontecia, os EUA desembarcavam para prepará-la para a próxima disputa pelo Ártico. E, entre uma coisa e outra, o verão chegou às suas praias — acompanhado de uma quantidade exorbitante de excrementos.

Breve e disputado

Quem contou foi o New York Times. Em um país onde o verão dura apenas dois meses e o Sol se torna escasso, cada dia quente é quase um milagre. Helsinque, como o resto do país, vive essas semanas com intensidade: praias lotadas, famílias inteiras de bicicleta e cidadãos ansiosos por aproveitar temperaturas que, em qualquer outro lugar, pareceriam amenas, mas que aqui são recordes históricos.

No entanto, nesse espaço de fuga, apareceu um intruso inesperado: os gansos-de-faces-brancas, aves robustas e gregárias que colonizaram parques, avenidas e, principalmente, as praias da capital. Sua presença maciça (mais de 5.000 foram contabilizados na região no verão passado) transformou a vida ao ar livre em um exercício constante de vigilância, com os frequentadores precisando medir cada passo para não pisar em excrementos que se acumulam em quantidades impressionantes.

O excremento do dia a dia

O problema, embora pareça apenas uma curiosidade, afeta diretamente o aproveitamento de um verão que os finlandeses consideram sagrado. Nas praias, antes de estender a toalha, é preciso examinar o chão; os jogadores de vôlei rezam para não aterrissar de cara em uma poça marrom e os pais vigiam com apreensão para que seus filhos pequenos não confundam o esterco com areia ou grama.

O Times relata que, nos parques, a grama fica coberta por fezes que se incrustam nas solas dos sapatos, e, nas avenidas centrais, os gansos atravessam as faixas de pedestres com a mesma naturalidade dos próprios Beatles em Abbey Road. Os números mostram a dimensão do desafio: em algumas praias, as equipes de manutenção recolhem mais de 20 kg de excremento por dia — um volume que exige verdadeiras batalhas logísticas, com equipes inteiras de trabalhadores temporários multiplicadas na última década.

Inovações fracassadas

Por anos, a prefeitura de Helsinque tentou diferentes métodos para conter a praga. Tentaram misturar as fezes com a areia, mas a água acabou contaminada. Usaram gravações de águias-marinhas para assustar as aves, mas os gansos logo se acostumaram. Chegou-se até a considerar a contratação de cães treinados, como fazem outras cidades, mas eles eram caros demais e difíceis de encontrar.

A grande esperança deste verão era uma máquina criada pela própria equipe de manutenção: uma espécie de peneira com rodas, parecida com um cortador de grama manual, que deveria separar as fezes da areia. O problema? Na prática, ela se mostrou pesada e ineficaz em solos úmidos e acabou relegada a um depósito. No fim das contas, o recurso mais confiável continua sendo o mais rudimentar: pá, luvas de borracha e uma paciência infinita.

Convivência inevitável

A batalha contra os gansos, no entanto, é limitada pela legislação e pela ética finlandesa: não é permitida a caça urbana nem o abate em massa, como acontece no Canadá ou na Califórnia, onde se opta por remoções ou extermínio controlado (culling). Em Helsinque, os gansos não são apenas um incômodo, mas já fazem parte da paisagem do verão, inseridos no imaginário urbano e na rotina diária dos moradores.

Na verdade, os próprios trabalhadores que recolhem o esterco encontram certa serenidade na tarefa repetitiva (embora o cheiro os persiga depois). A realidade é que, em um país onde o verão é curto demais para ser desperdiçado, os finlandeses parecem aceitar com resignação essa invasão incômoda como um preço a pagar para aproveitar suas praias.

Com humor e estoicismo, eles assumiram que, entre o Sol, a água e a areia, sempre haverá um terceiro convidado: o onipresente ganso… e seu rastro inevitável.

Imagem | JIP

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

Inicio