Os solteiros estão de saco cheio do Tinder; por isso, estão começando a recorrer a um velho conhecido: as agências de namoro

  • Mesmo com a força e a concorrência dos aplicativos de namoro, as agências matrimoniais conseguiram achar seu espaço.

  • “Muita gente chega pra gente cansada e frustrada”, dizem profissionais do setor. “Estamos em alta.”

Solteiros tinder relacionamento agência de namoro. Imagem:  Mark Pecar (Unsplash) y René Ranisch (Unsplash)
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Os clássicos nunca morrem. Pelo menos quando o assunto é amor. Mesmo com o sucesso de apps como Tinder, Bumble, Grindr e tantos outros, ainda tem gente que prefere buscar romance do jeito antigo: pelas agências de namoro. Elas talvez não levem mais casais até o altar como antes, mas é só dar uma olhada rápida no Google pra ver que continuam firmes, principalmente nas grandes cidades. E, segundo o pessoal do setor, o movimento tá em alta.

A grande pergunta é... como elas sobreviveram à onda dos apps de namoro?

Não diga Tinder, diga agência

Dar match hoje não é a mesma coisa que paquerar nos anos 80 ou no começo dos 2000. Mesmo que a essência seja a mesma, cada época tem suas próprias regras. E um dos marcos dessa mudança foi o lançamento do Tinder, lá em 2012. Ele não foi o primeiro site pra encontrar alguém (match.com e OKCupid já existiam), mas definitivamente mudou o jogo. Quebrou tabus, derrubou preconceitos e redefiniu a forma como as pessoas se conhecem.

Em 2013, o Tinder já estava entre os 100 apps mais baixados do mundo. Em 2018, depois de crescer 58% em cinco anos, chegou a mais de 4 milhões de assinantes pagos globalmente. E, apesar dos altos e baixos, ele ainda lidera o ranking dos aplicativos de namoro na Espanha, com uma média de 1,5 milhão de usuários mensais, segundo um estudo recente da GfK DAM. Logo atrás vêm o Badoo, com 776 mil, e o Grindr, com 635.600 usuários.

Original

E as agências de namoro?

A chegada do Tinder não mudou só a forma como as pessoas se conhecem online. Ela também sacudiu um modelo de negócio que, por décadas, dominou o mercado depois da aprovação da lei do divórcio, em 1981: as agências matrimoniais.

De repente, quem queria conhecer alguém, mas não tinha tempo ou disposição pra sair, podia fazer isso pelo celular, sem precisar pagar por um serviço profissional de "cupido". “Deixamos de ser o único caminho pra quem buscava um relacionamento e passamos a enfrentar uma concorrência pesada”, explicou Alicia López, psicóloga da agência Lazos, em entrevista ao jornal ABC em 2023.

Sobreviveram

As agências precisaram se reinventar pra continuar relevantes. Muitas começaram a oferecer workshops, diversificaram as fontes de renda e focaram nos diferenciais do atendimento personalizado pra se reposicionar depois que os apps mudaram as regras do jogo.

A maré virou

Mas, como diz o ditado, toda crise também é uma oportunidade. E parece que as agências de namoro estão conseguindo surfar essa nova onda. “Nos últimos anos, muita gente cansada do mundo digital, das mentiras e frustrações, voltou a nos procurar”, diz López.

“Se tem algo que a gente pode agradecer aos apps é que eles ajudaram a tirar o estigma de procurar ajuda pra encontrar alguém. Antes era um tabu, tipo ir ao psicólogo”, completa. Carmen del Valle, diretora da Harmony, reforçou a ideia em uma entrevista à rádio SER no início do ano, lembrando que, apesar do impacto inicial, hoje as agências estão em alta. “Agora, a gente recebe muita gente cansada e frustrada.”

O foco faz toda a diferença

O grande trunfo das agências é justamente o que as diferencia dos apps de namoro: um serviço mais personalizado e próximo. Carmen del Valle, da agência Harmony, conta que muitos dos solteiros que procuram seus serviços querem exatamente isso: “Um atendimento exclusivo e direto”. Esse modelo é apoiado em pilares como privacidade, segurança e eficiência — características que se destacam em meio à impessoalidade dos apps, como ela explicou ao León Noticias.

A lógica é simples: as agências se vendem como intermediárias profissionais, com a promessa de fazer combinações mais precisas, unir pessoas com afinidades reais e interesses em comum, e garantir altos índices de sucesso — que muitas vezes chegam a 80%. E tudo isso sem exposição pública, sem precisar subir fotos em um aplicativo ou passar pela dinâmica dos “matches”.

Não é pra qualquer bolso

Pra Alicia López, da agência Lazos, esse é o diferencial: oferecer uma alternativa pra quem prefere evitar os riscos e incertezas de encontros com desconhecidos. O processo normalmente começa com entrevistas presenciais, que ajudam a filtrar as preferências e alinhar expectativas, garantindo um nível de privacidade que os apps não conseguem oferecer.

Algumas agências organizam encontros sem que os clientes tenham visto sequer uma foto do par antes. Outras se orgulham de usar métodos de matchmaking parecidos com os processos de recrutamento de grandes empresas, analisando perfis com cuidado pra garantir a melhor conexão possível.

Mas, claro, esse serviço personalizado tem seu preço. As tarifas variam bastante, mas, segundo entrevistas recentes, podem ir de R$800 - R$3 mil, dependendo do pacote contratado, da duração e dos extras, como consultoria de imagem ou até a ajuda de um personal shopper.

Mas, afinal, quem usa as agências de namoro?

Embora cada agência tenha seu perfil de cliente, a maioria aponta para um público parecido: solteiros com renda média alta, bom nível educacional e cultural, geralmente com formação universitária e fluência em mais de um idioma. “Muitos já moraram fora, viajaram bastante e levam uma vida plena”, comenta Carmen del Valle. O que falta pra eles é tempo pra conhecer alguém da forma tradicional ou mesmo pelos apps. “Eles não têm tempo pra procurar um par compatível, e os círculos em que se movimentam não facilitam esse tipo de encontro.”

Em relação à faixa etária, os profissionais dizem que recebem clientes de todas as idades, de jovens com menos de 30 até pessoas com mais de 75. Mas a maioria está na faixa dos 45 a 60 anos, normalmente divorciados.

Talvez o termo “agência matrimonial” já não seja tão preciso, já que muitos não estão necessariamente pensando em casamento, mas as agências garantem que fazem o possível pra alinhar expectativas e apresentar pessoas com objetivos parecidos.

Foco na afinidade: “Todos têm o mesmo objetivo, e nossas apresentações são sempre baseadas em afinidades e compatibilidades”, destaca uma das agências.

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