Quando pensamos em pirataria, a imagem que vem à mente é a de lendas de Hollywood, como o Barba Negra, aterrorizando o Caribe durante a "idade de ouro" dos séculos 16 a 19. No entanto, longe das representações romantizadas do cinema, a pirataria moderna é uma atividade criminosa em plena expansão, que realiza sequestro de tripulantes, roubo de cargas e a perturbação da economia global, gerando prejuízos anuais na casa das dezenas de bilhões de dólares.
Dados recentes confirmam que este é um problema crescente. Segundo o IMB Piracy Reporting Centre, os incidentes globais de pirataria e assalto à mão armada aumentaram 4% em 2023, em comparação com 2022. Embora o número pareça pequeno, ele esconde tendências alarmantes: a violência contra as tripulações está disparando, e zonas de risco que pareciam controladas, como a costa da Somália, voltaram a registrar sequestros de navios pela primeira vez desde 2017.
Retorno das zonas de risco e aumento da violência
O ressurgimento da atividade pirata na costa da Somália não é o único foco de preocupação. Relatórios indicam que os incidentes nas águas do Golfo da Guiné, na África Ocidental, voltaram a subir após um período de declínio. Além disso, o Estreito de Singapura atingiu em 2023 seu maior número de incidentes de assaltos à mão armada em oito anos, demonstrando que o problema é global e está se intensificando em múltiplos pontos estratégicos.
Mais grave do que a frequência é o aumento da brutalidade. O número total de tripulantes sequestrados dobrou de 2022 para 2023. Ao comparar apenas o primeiro trimestre de 2024 com o de 2023, nota-se um aumento impressionante de sete vezes.
Os piratas modernos demonstram uma ousadia crescente, chegando a usar helicópteros para abordar navios e filmar seus ataques para postar em redes sociais, como ocorreu com o navio Galaxy Leader.
Custo bilionário e impacto no Brasil
O impacto dessa atividade na economia global é astronômico. Relatórios de 2024 estimam que o custo anual da pirataria ultrapassa os 20 bilhões de dólares. Esse valor se divide em prêmios de seguro mais altos, despesas com segurança privada, pagamentos de resgate e, principalmente, o reencaminhamento de rotas de navios para evitar zonas de risco, o que causa atrasos e impacta toda a cadeia de suprimentos global. Regiões como a Costa da Somália e o Golfo de Áden acumulam, sozinhas, prejuízos que podem chegar a 12 bilhões de dólares anuais.
Embora a América do Sul esteja, em geral, fora das rotas de ataques a grandes navios cargueiros, o continente não está imune. O porto de Callao, no Peru, registrou 14 incidentes em navios ancorados, com tripulantes feitos reféns e agredidos.
No Brasil, embora grandes navios sejam pouco visados, a insegurança é uma realidade trágica para embarcações privadas. Assaltos a veleiros e barcos particulares são frequentes no litoral, muitas vezes acompanhados de violência extrema, como o caso do assassinato do velejador Sir Peter Blake em Macapá, durante um roubo ao seu veleiro.
Esses fatos e números mostram um retrato sombrio que está muito distante dos filmes de aventura. A pirataria não é uma relíquia do passado, mas uma ameaça atual e brutal que evoluiu junto com a globalização.
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