Michel Dupont, fazendeiro francês de 52 anos, teria descoberto em seu jardim um depósito de ouro no valor de 4 bilhões de euros; só que essa história, divulgada por alguns sites, é falsa

As fake news se provam populares mais uma vez

Fazendeiro descobre ouro do nada? É fake news! / Imagem: aleksandarlittlewolf (Freepik)
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A história parecia inacreditável, mas foi reproduzida por vários meios de comunicação: um agricultor da região de Auvergne, na França, teria encontrado um depósito colossal de ouro em sua propriedade. Por trás dessa fábula viral, há sites mal informados, um artigo gerado por inteligência artificial e uma mecânica bem ajustada de desinformação digital.

Um tesouro no jardim... e muitas imprecisões

“Michel Dupont, 52 anos, fazendeiro na Auvergne, descobriu pepitas de ouro enquanto caminhava perto de um riacho”. Esse é o ponto de partida de uma narrativa divulgada principalmente pelo site 75secondes.fr e até no exterior pelo La Grada Online. O site Atelier de France, origem da informação, fala de um depósito avaliado em quatro bilhões de euros que o governo teria decidido bloquear “para avaliar os impactos ambientais e históricos”.

Mas, ao olhar mais de perto, tudo soa falso. Nenhum jornal local repercute a história. As fontes são vagas, as citações não são verificáveis e as incoerências são flagrantes. Por exemplo: o famoso depósito seria composto por 150 toneladas de ouro, cerca de 14 bilhões de euros ao preço atual, e não quatro bilhões. Quanto ao especialista anônimo que teria confirmado essa estimativa, ele não existe em nenhum outro lugar além da narrativa.

Questionado pelo actu.fr, Marc Poujol, professor da área de Geociências em Rennes, não esconde seu ceticismo. “Não se encontra ouro em qualquer lugar. É preciso um ambiente geológico específico. E uma descoberta dessas teria, necessariamente, sido conhecida pela comunidade científica ou divulgada pelo BRGM”. Este último, o serviço geológico nacional, nega qualquer envolvimento no caso.

Falsas minas para verdadeiros cliques

O caso Michel Dupont não é isolado. Em 27 de abril de 2025, cerca de quinze artigos semelhantes surgiram no Atelier de France falando ora de reservas de petróleo, ora de veios de chumbo argentífero. Todos são construídos da mesma forma: protagonistas anônimos, “especialistas” nunca identificados, títulos chamativos e ausência de provas concretas. Por trás dessa avalanche de relatos fantasiosos, uma ferramenta poderosa: a inteligência artificial.

Segundo Giada Pistilli (via actu.fr), especialista em ética da IA, esses conteúdos são produzidos automaticamente a partir de scripts capazes de detectar temas com alto potencial de viralização, gerados em massa para saturar os motores de busca. O objetivo é claro: obter cliques, maximizar receitas publicitárias e ocupar nichos pouco cobertos pela mídia tradicional.

Tudo é pensado para dar a ilusão de seriedade: imagens que imitam as da imprensa profissional, títulos genéricos, perfis de redatores fictícios e citações inventadas. Mas nada se sustenta. O relato sobre Michel Dupont, por exemplo, menciona interações com “representantes do Estado”, “jornalistas” e até um “geólogo consultado”, sem jamais nomear alguém ou fornecer qualquer documento.

Na MinéralInfo, plataforma oficial dedicada à exploração mineral na França, o contraste é evidente: lá são detalhados os muitos obstáculos regulatórios, técnicos e ambientais que precisam ser superados antes de qualquer exploração. Uma realidade muito distante dos atalhos narrativos usados por esses artigos falsos.

Imagem: aleksandarlittlewolf (Freepik)


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