Em 2019 descobrimos fungos capazes de metabolizar ouro; algumas pessoas já querem transformar isso na chave para a mineração espacial

Com o ouro ultrapassando os 3.000 dólares por onça, já há pesquisadores buscando uma forma de "cultivá-lo" no espaço

Estamos entrando na era da mineração metabólica / Imagens: Dominik Vanyi | Jaap Straydo
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A história começa há mais de cinco anos em Boddington, ao sul da cidade australiana de Perth. Lá, entre animais perigosos e minas de ouro, uma equipe de pesquisadores da CSIRO (agência científica nacional da Austrália) descobriu algo realmente raro: que certas cepas do fungo Fusarium oxysporum não apenas conseguiam extrair ouro do ambiente ao redor e integrá-lo à sua estrutura, como também, ao fazer isso, conseguiam se propagar mais rapidamente que as demais.

Parecia apenas uma curiosidade, mas, nos últimos anos, a situação começou a mudar.

Já sabíamos que os fungos “desempenham um papel essencial na degradação e na reciclagem de todo tipo de material orgânico (como folhas ou cascas), mas também no ciclo de certos metais como alumínio, ferro, manganês e cálcio”. Por que seria diferente com o ouro?

Porque, como explicava Tsing Bohu, pesquisador responsável pelo projeto, “o ouro é tão inerte (quimicamente falando) que esse tipo de interação é incomum e surpreendente, eu precisava ver para acreditar”. E ele viu.

Na verdade, ele publicou na Nature Communications. Foi a primeira evidência sólida de que os fungos poderiam ter um papel relevante no ciclo do ouro na crosta terrestre.

O "cogumelo" dos ovos de ouro

Rapidamente, a indústria mineradora voltou os olhos para a pesquisa. Especialmente ali mesmo, na Austrália. A ilha-continente é o segundo maior produtor de ouro do mundo, mas o consenso entre os analistas é que, sem novas jazidas, a produção vai cair (e muito) em pouco tempo.

Num primeiro momento, a indústria pensou que a pesquisa da CSIRO poderia servir para localizar esses novos depósitos. Na Austrália, é relativamente comum fazer prospecções em florestas da família dos eucaliptos ou perto de áreas de cupinzeiros, já que elas têm uma relação estreita com o metal precioso. Por que não analisar o solo em busca dessas cepas de Fusarium oxysporum?

Mas há uma possibilidade a mais. Como afirma Eduardo Bazo numa entrevista, nos últimos anos surgiram empresas que trabalham com o que poderíamos chamar de “mineração metabólica”. Ou seja, usar organismos para extrair o ouro.

“E pra que serve isso?”, você pode estar se perguntando. “Não é mais fácil identificar onde está o ouro e extraí-lo com métodos industriais?”. Sim, aqui na Terra, é. Mas essas empresas estão olhando um pouco mais adiante: para a mineração espacial.

Durante anos falamos sobre a existência de enormes depósitos de minerais no Sistema Solar e, por quase o mesmo tempo, fantasiamos com a possibilidade de explorá-los. O problema é que, além das limitações tecnológicas atuais, à periculosidade da mineração convencional se soma o fato de que estamos falando de processar metal no espaço.

Mas e se usássemos “mineração metabólica”? A ideia de enviar cepas modificadas desses fungos (ou de outro tipo de micro-organismos) que fizessem o processamento desse mineral no nosso lugar tornaria tudo muito mais simples.

É muito menos estranho do que parece (esse tipo de abordagem é usado para inúmeros produtos que consumimos habitualmente), porém aplicá-lo ao mundo da mineração parece um pouco mais complexo por pura questão de eficiência. Mas isso deve mudar no futuro.

Enquanto você lê este texto, vários grupos de pesquisa estão cultivando todo tipo de microrganismos com a ideia de conseguir cultivar ouro mais cedo ou mais tarde.

Imagem | Dominik Vanyi | Jaap Straydo

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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