A Côte d’Azur (parte da costa da França) está acostumada a receber os gigantes dos mares, mas é bastante raro ver por lá os iates dos bilionários da tecnologia. Como você já deve ter percebido, o famoso estaleiro de La Ciotat, nas Bocas do Ródano, em breve receberá o Launchpad, o iate de Mark Zuckerberg, CEO da Meta.
A embarcação, avaliada em cerca de 300 milhões de dólares, fez em menos de um ano uma viagem extremamente gastadora de combustível, consumindo nada menos que dois milhões de litros de diesel e emitindo 5.300 toneladas de CO₂, o equivalente às emissões anuais de mais de dois mil carros.
Não é à toa que Zuckerberg escolheu a França. O estaleiro de La Ciotat é renomado no círculo restrito dos milionários donos de iates. A região oferece competências técnicas extremamente raras e um serviço ao mesmo tempo premium e discreto. La Ciotat já recebeu, por exemplo, o Koru, iate de Jeff Bezos.
Mas, com o passar dos anos, os grandes iates vão perdendo popularidade. O Mediterrâneo já sofre as consequências diretas das mudanças climáticas e a consciência ecológica da população só cresce. Por isso, fica cada vez mais difícil aceitar que se dê lugar às exigências desses bilionários.
Pequeno resumo das últimas viagens do iate de Zuckerberg
Nos últimos meses, o Launchpad não ficou parado. Depois de esperar em vão por seu ilustre dono no Havaí, ele realizou uma impressionante viagem de 9.600 milhas náuticas entre São Francisco e o Pacífico Sul. Um percurso de ida e volta durante o qual consumiu nada menos que 680.000 litros de diesel.
Zuckerberg e sua família não pararam por aí. Em abril, partiram para a Noruega, destino famoso pelo luxo e esportes radicais. A bordo do Launchpad e do seu navio de apoio, o Abeona, Zuckerberg praticou atividades como heliesqui (esqui assistido por helicóptero, afinal por que não?). O iate funcionou como base flutuante, permitindo que o empresário aterrissasse diretamente no convés, algo necessário devido às regulamentações norueguesas. Novamente, os locais criticaram a presença, mas o bilionário aparentemente não se importou muito.
A viagem de verão continuou pela Grécia e Itália. Entre Nápoles e Positano, por exemplo, o iate emitiu mais de 6 toneladas de CO₂ em apenas quatro dias. Esses números não são surpresa para uma embarcação equipada com quatro motores diesel MTU 20V 4000, capazes de alcançar velocidade máxima de 24 nós e que consomem mais de 1.000 galões de combustível por hora (equivalente ao consumo simultâneo de cerca de 630 carros a combustão).
Cada hora que Zuckerberg e seus convidados passam no mar representa em emissões o que um motorista médio geraria ao dar quatro voltas ao redor da Terra.
A França em plena contradição
A Côte d’Azur pode se orgulhar de suas capacidades técnicas reconhecidas internacionalmente. Atrair clientes ricos que movimentam a indústria francesa é algo positivo do ponto de vista estritamente econômico. Dito isso, a região se vê diante de um paradoxo: como conciliar a reputação ecológica que a França busca projetar com a recepção entusiasmada dada a esse tipo de embarcação superpoluente?
O caso do Launchpad é emblemático de uma desconexão entre os discursos ambientais das elites do Vale do Silício, incluindo Zuckerberg, e a realidade de suas práticas pessoais. Mesmo com os apelos por sobriedade energética crescendo na Europa, consertar tranquilamente um navio tão consumidor de energia representa um luxo que poucas regiões poderiam politicamente se dar ao luxo de oferecer sem provocar indignação pública.
O estaleiro de La Ciotat, especializado em mega-iates, se apresenta como um “spa para navios de luxo”. É exatamente esse argumento que atrai as maiores fortunas do mundo. Porém, receber uma embarcação como a de Zuckerberg, em meio a uma crise social e climática, coloca a França numa situação delicada. Os debates sobre os privilégios dos ultra-ricos estão cada vez mais acalorados, e situações como essa só alimentam essas discussões.
Este texto foi traduzido/adaptado do site JV Tech.
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