Há tantas viagens planejadas para a Lua que a ONU criou um "comitê de tráfego lunar" para regulamentar o tráfego

Cinquenta satélites em órbita lunar seriam suficientes para que cada um deles tivesse que realizar quatro manobras evasivas por ano.

A corrida espacial até a Lua começou de novo | Imagem: Nasa
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Igor Gomes

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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

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A Lua está voltando a ser um tema em voga após 50 anos de relativa calmaria. Mas desta vez não se trata de uma disputa entre dois concorrentes: é uma corrida comercial que envolve potências espaciais consolidadas e emergentes, além de uma infinidade de empresas privadas.

O "engarrafamento" lunar

O interesse cresceu tanto que houve 12 tentativas de missões lunares somente nos últimos dois anos. Esse "bombardeio" de pousos, impulsionado por parcerias público-privadas como o CLPS da NASA, provou ser uma maneira rápida, barata, mas também um tanto caótica de chegar à Lua.

Mesmo assim, preocupar-se com "engarrafamentos" na Lua parece absurdo. O espaço cislunar (a região entre a órbita geoestacionária da Terra e a Lua) é gigantesco: 2.000 vezes maior que a órbita da Terra.

Se há tanto espaço, qual é o problema?

O problema é que todos querem o mesmo espaço. Assim como na Terra todos os carros usam as estradas, na Lua as missões tendem a se concentrar em um conjunto muito seleto de órbitas estáveis.

A vastidão do espaço cis-lunar é, portanto, enganosa, explicam professores de Relações Internacionais e Engenharia Aeroespacial do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em um artigo para o The Conversation.

Para piorar a situação, a maioria dos sensores governamentais que rastreiam satélites em órbita da Terra não foram projetados para detectar e monitorar objetos tão distantes. O próprio brilho da Lua torna a tarefa ainda mais difícil.

Essa incerteza tem uma consequência direta: obriga os operadores a serem excessivamente cautelosos. Diante da possibilidade de uma colisão, as agências preferem gastar combustível e realizar uma manobra evasiva, o que interrompe missões científicas e reduz a vida útil das espaçonaves.

Cinquenta satélites são suficientes para causar o caos

De acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Spacecraft and Rockets , apenas 50 satélites em órbita lunar são suficientes para que cada um deles tenha que manobrar, em média, quatro vezes por ano para evitar uma possível colisão.

Cinquenta satélites podem parecer muitos, mas, no ritmo atual de lançamentos, poderíamos atingir esse número em menos de uma década. E não é apenas teoria. Já está acontecendo. A sonda indiana Chandrayaan-2 teve que manobrar três vezes entre 2019 e 2023 para evitar aproximações perigosas (uma delas com a sonda Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA). E isso ocorreu quando havia apenas seis espaçonaves operacionais orbitando a Lua.

A ONU quer restabelecer a ordem

É aí que entra a diplomacia internacional. O Comitê das Nações Unidas para a Utilização Pacífica do Espaço Exterior (COPUOS), o principal fórum mundial de direito espacial, assumiu o assunto.

No início de 2025, o COPUOS estabeleceu formalmente um novo grupo de trabalho: a Equipe de Ação para Consulta sobre Atividades Lunares (ATLAC). O objetivo da equipe é criar uma minuta de "regras de tráfego" espacial. Eles têm até 2027 para estudar as recomendações e um possível mecanismo de consulta internacional.

Imagem | NASA



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