Enterrar uma usina nuclear a 1,6 km de profundidade: uma empresa americana vê motivos para tentar a ideia em 2026

A essa profundidade, a água do reator permanece em estado líquido sem gasto de energia ou materiais exóticos

Enterrar uma usina nuclear a 1,6 km de profundidade: uma empresa americana vê motivos para tentar a ideia em 2026.
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
fabricio-mainenti

Fabrício Mainenti

Redator

A indústria nuclear espera há anos o momento certo para os SMRs (reatores modulares pequenos), reatores de fissão menores, mais baratos e mais versáteis. Uma startup californiana chamada Deep Fission acredita ter a chave para o seu lançamento: enterrá-los.

160 atmosferas de graça

A maioria dos reatores comerciais do mundo opera com água pressurizada. Para isso, a água que resfria o núcleo precisa ser mantida líquida a mais de 300 °C, exigindo uma pressão imensa, em torno de 150 a 160 atmosferas. Na prática, isso se traduz em recipientes de aço de enorme espessura e custo elevado.

A proposta da Deep Fission aproveita a força bruta da gravidade para eliminar esse problema. Ao colocar o reator a 1,6 km de profundidade, dentro de um poço cheio de água, a própria coluna de líquido exerce uma pressão hidrostática natural de 160 atmosferas. Um vaso de pressão complexo torna-se desnecessário: a água do reator é mantida em estado líquido sem gasto de energia ou uso de materiais exóticos.

Há ainda outra vantagem

O segundo ponto-chave é o ambiente mineral. Em vez de construir cúpulas de concreto armado para conter a radiação em caso de acidente, a Deep Fission aproveita o ambiente circundante. A rocha sólida a essa profundidade atua como uma barreira de contenção natural e inesgotável.

Engenharia de petróleo

O que a Deep Fission propõe é usar combustível padrão (urânio pouco enriquecido), mas com técnicas de fraturamento hidráulico e perfuração de petróleo, extraindo o calor como se fosse geotérmico.

Seu reator Gravity é um módulo de 15 MW estreito o suficiente para caber em um furo de perfuração com cerca de 76 centímetros de diâmetro. Mas a promessa econômica é imensa: um custo de US$ 50 a US$ 70 (cerca de R$ 266 a R$ 373) por MWh e uma redução de 80% nas obras civis, que seriam concluídas em meses.

Há um porém

Embora a Deep Fission já tenha anunciado uma carteira de clientes potenciais no Texas e no Kansas, seu projeto tem um ponto fraco. Enquanto enterrar o reator o protege de tornados, quedas de aviões ou terrorismo, cria um pesadelo logístico para sua manutenção.

Em uma usina nuclear típica, se uma válvula falhar ou um sensor apresentar defeito, os técnicos podem acessar as áreas auxiliares com precauções. Aqui, tudo estaria a 1,6 km de profundidade. Para reabastecer ou reparar uma falha, todo o módulo teria que ser içado à superfície por meio de cabos, como um submarino em miniatura.

Atualmente, não existe um marco regulatório para "reatores de poço profundo" em nenhum lugar do mundo. Mesmo assim, a Deep Fission promete ter um projeto-piloto pronto até julho de 2026.

Imagem de capa | Deep Fission

Inicio