Vende-se plutônio: governo de Donald Trump negocia arsenal nuclear da Guerra Fria e empresa do criador do ChatGPT é uma das interessadas

Em busca de acelerar projetos nucleares privados e contornar gargalos energéticos, governo Trump abre acesso a plutônio de ogivas do arsenal dos Estados Unidos

Crédito de imagem: Win McNamee/Getty Images
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
joao-paes

João Paes

Redator
joao-paes

João Paes

Redator

Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

75 publicaciones de João Paes

Quando Donald Trump voltou à Casa Branca, muita gente esperava turbulência política — mas poucos imaginavam um feirão do plutônio próprio entrando na programação do governo. Depois de colocar à venda centenas de propriedades federais, liberar milhões de acres para mineração e até barganhar satélites da NASA, Trump agora mira algo muito mais problemático: parte do estoque de plutônio de uso militar dos Estados Unidos, guardado desde os tempos mais tensos da Guerra Fria.

O movimento, revelado pelo Financial Times (via Futurism), começou com um edital publicado pelo Departamento de Energia (DOE). A partir dele, empresas americanas podem se candidatar para acessar até 19 toneladas de plutônio de grau armamentista — um material tão sensível que, por décadas, foi considerado intocável fora do arsenal estratégico do país. A justificativa oficial é pragmática: acelerar a aprovação de novos reatores experimentais e reduzir a dependência de urânio importado, que hoje deixa a infraestrutura energética dos EUA em situação delicada.

Entre as empresas cotadas para receber o material está a Oklo, startup nuclear financiada — e anteriormente presidida — por Sam Altman, CEO da OpenAI. A companhia já havia sido selecionada pelo DOE para um programa que busca agilizar testes de tecnologias avançadas, o que amplia ainda mais as chances de que esteja na lista final de contempladas, prevista para ser anunciada em 31 de dezembro.

Mas, enquanto o governo celebra a medida como uma solução provisória para a crise energética agravada pelo boom tecnológico, a comunidade científica vê o plano com enorme preocupação. “Se houvesse adultos na sala e pudéssemos confiar no governo federal para impor os padrões corretos, não seria tão alarmante. Mas isso simplesmente não parece viável”, alertou Edwin Lyman, físico da Union of Concerned Scientists, em entrevista ao Financial Times.

Especialistas temem que a flexibilização no uso de material nuclear sensível abra precedentes perigosos, ainda mais quando combinada ao cenário de consumo energético recorde gerado pela inteligência artificial e por data centers cada vez maiores. De certa forma, vender a matéria-prima de ogivas antigas para acelerar projetos civis é visto como um improviso caro — e arriscado.

No curto prazo, o governo aposta que isso vai impulsionar o setor nuclear doméstico. No longo, contudo, a estratégia pode reduzir a própria capacidade bélica dos EUA, já que parte do estoque estratégico seria convertida em combustível e pesquisa privada. Um detalhe que os rivais geopolíticos provavelmente recebem com felicidade.


Crédito de imagem: Win McNamee/Getty Images

Inicio