Tendências do dia

China quer dominar o comércio mundial e tem um plano em andamento: levar o mar para suas cidades do interior

País está construindo há três anos um canal com mais de 130 quilômetros para transporte de mercadorias

Gigantesca estrutura fará parte da Nova Rota da Seda / Imagem: Departamento de Transporte de Guangxi Zhuang
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Já faz tempo que a China se dedica a megaempreendimentos. Alguns dos projetos mais importantes dos últimos anos têm a China como protagonista. A abordagem deles difere da corrida por torres que vemos entre Arábia Saudita e Emirados Árabes: as obras chinesas buscam unir o território com enormes pontes ou túneis quase impossíveis. Dentro dessa ambição estão canais como o de Pinglu, que têm como objetivo levar o mar até as cidades interiores.

E tudo isso faz parte da estratégia da China para dominar o mercado mundial.

Canal de Pinglu

Em 2023, após anos de planejamento, começaram as obras desse canal localizado na região de Guangxi, que conectará o rio interior Yu ao Golfo de Tonquim, situado no polêmico e estratégico mar do Sul da China. Será fundamental para o transporte de mercadorias, já que o canal permitirá economizar 560 quilômetros de distância que atualmente precisam ser percorridos por estradas.

Espera-se que o canal esteja concluído para começar a movimentar mercadorias em dezembro de 2026. O custo do projeto está estimado em cerca de 58,8 bilhões de reais. Todas as cifras em torno do projeto são impressionantes.

O canal de Pinglu é o primeiro grande canal construído na China desde a fundação da República Popular e será ambicioso tanto pela extensão que cobrirá — 134 quilômetros — quanto pelo seu papel na estratégia da China.

Espera-se que suporte navios com até 5.000 toneladas de peso morto e dimensões de 90 metros de comprimento, 15,8 metros de largura (boca) e cinco metros de calado. Seu sistema será baseado em duas eclusas de 300 metros de comprimento por 34 metros de largura, as quais permitirão superar desníveis de até 65 metros. Além de vencer os desníveis, essas eclusas estão sendo construídas para operar rapidamente, abrindo e fechando em pouco tempo para agilizar o tráfego.

Obra massiva em tempo recorde

Dos 134 quilômetros de extensão, apenas 6,5 quilômetros são novos, mas, para o restante, foi necessário adequar os rios para acomodar os barcos. Para isso, foram movimentados mais de 50 milhões de metros cúbicos de material e prevê-se que a escavação total ultrapasse 339 milhões de metros cúbicos. Isso equivale a mais de três vezes o volume da monumental barragem das Três Gargantas.

China

Além da tecnologia utilizada nas eclusas, a obra está usando uma mistura de concreto projetada para resistir à erosão da água do mar por mais de 100 anos, minimizando a necessidade de manutenção. Se a operação começar em 2026, como previsto, terão se passado apenas sete anos desde o início do planejamento firme da obra e três desde o começo da construção.

Movimentar essa quantidade de terra e fazê-lo em áreas próximas aos rios traz um problema: pode colocar em risco o ecossistema de algumas espécies. As preocupações ambientais se concentram principalmente nisso, já que as obras acontecem muito próximas a manguezais, que podem ser afetados pelos trabalhos.

Comércio estratégico

Navios de 5.000 toneladas são consideravelmente menores do que aqueles que cruzam os canais do Panamá e de Suez (que podem ultrapassar 65.000 toneladas), mas a ideia é que esses barcos cheguem das áreas interiores aos portos marítimos e, a partir daí, sigam seu destino como parte do grande sonho de Xi Jinping: a Nova Rota da Seda.

China

O canal de Pinglu está estreitamente ligado a esse novo corredor comercial e vai conectar o interior oeste e sudoeste da China aos mercados internacionais. Isso é uma parte muito importante da estratégia do país para fortalecer e diversificar suas rotas de exportação e importação para o restante da Ásia, África e, sobretudo, Europa.

Além dessa melhoria na conexão comercial, a China espera que o canal de Pinglu reduza os custos de transporte. Um navio é consideravelmente mais barato do que outros meios como caminhões, trens e aviões, por isso espera-se uma economia de cerca de 725 milhões de dólares anuais. Além disso, o canal ajudará a desafogar o tráfego na região, um problema que o país enfrenta em suas áreas mais industriais.

Embora o projeto seja principalmente para transporte, espera-se que traga melhorias na gestão da água para irrigação, assim como sirva como uma medida para evitar inundações na região.

Além do canal de Pinglu

Por mais impressionantes que sejam seus números e os prazos tão curtos para realizar essas obras faraônicas, o canal de Pinglu é apenas mais uma peça no tabuleiro geopolítico e comercial da China. O país tem planos para outros corredores internacionais, como o de Kra, na Tailândia, para evitar o estreito de Malaca, além de canais interiores mais modestos.

Por exemplo, os canais de Zhejiang-Jiangxi-Guangdong, Jinghan e Xianggui, que buscam unir regiões interiores por meio dessas rodovias fluviais, promovendo o comércio e indústrias como a do aço, enquanto reduzem a poluição do transporte convencional por estrada.

Tudo isso faz parte de uma ambiciosa estratégia da China para impulsionar o comércio dentro e fora da sua região, com o objetivo de aumentar sua importância no mercado e na política global.

Imagens | Departamento de Transporte de Guangxi Zhuang

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

Inicio