Dizem que nunca é um mau momento para fazer algo que realmente queremos e que, muitas vezes, o que nos impede é encontrar a desculpa certa para não começar. Essa ideia pode funcionar em muitos âmbitos, mas hoje não se encaixa tão bem se o que você tem em mente é montar o seu próprio PC. Pelo menos não sem assumir que o contexto atual joga claramente contra.
Estamos assistindo em tempo real a como a chamada “crise da memória” está pressionando para cima, e de forma significativa, os preços das memórias NAND, essenciais nas unidades SSD, e das DRAM usadas em computadores e notebooks. A Micron, gigante do setor, já alerta que esses desafios vão persistir por bastante tempo.
A crise da memória continua longe de ser resolvida
A empresa colocou uma data sobre a mesa — e não é a que muitos esperavam. Em um comunicado de resultados, Sanjay Mehrotra, CEO da Micron, falou em “condições apertadas” em DRAM e NAND e afirmou que elas devem “persistir durante e além de 2026”. Em outras palavras, se hoje já estamos vendo a memória ficar mais cara, a Micron está avisando que, em 2026, não se vislumbra um retorno claro à normalidade. Esse detalhe importa, porque muda o horizonte de quem está pensando em montar ou atualizar um PC no curto prazo.
Há números que ajudam a entender por que esse fenômeno não se resume a um simples vaivém de mercado. A empresa voltou a reportar receitas recordes de 13,64 bilhões de dólares no último trimestre, contra 8,71 bilhões no mesmo período do ano anterior, impulsionada pelo avanço da IA. Isso não significa que haja produto de sobra em todos os segmentos, porque a capacidade e as prioridades industriais não se reajustam no ritmo da demanda. A Micron afirma que espera aumentar seus envios de DRAM e NAND em 20% no próximo ano, mas reconhece que esse impulso não é suficiente para colocar tudo em dia.
Para entender por que o mercado doméstico fica mais exposto, vale observar o cenário das fábricas. A Micron está direcionando seu negócio para a HBM, uma memória projetada para sistemas de alto desempenho em centros de dados, e isso tem um custo de oportunidade. Trata-se de uma tecnologia que usa três vezes mais wafers de silício do que a DRAM convencional, o que implica que, com a mesma base de capacidade, é possível produzir menos unidades para os demais segmentos. Não é que a memória de consumo desapareça, mas ela passa a ter menor prioridade.
A primeira consequência já está sendo sentida por quem acompanha preços para montar ou expandir um PC. A memória é um dos componentes que mais estão encarecendo e o efeito aparece, por exemplo, em kits de DDR5. A partir daí, a tensão começa a se espalhar pelo restante da cadeia, não apenas no preço, mas também na disponibilidade.
A decisão envolvendo a Crucial também se encaixa nessa mudança de prioridades. A Micron deixará de vender produtos de consumo sob essa marca, o que significa um ator a menos nesse mercado e maior pressão sobre aqueles que ainda seguem na disputa no setor doméstico.
Se a Micron deixa algo claro com seu roteiro é que a normalização vai demorar. A empresa está acelerando investimentos e capacidade, mas com um cronograma que se mede em anos, não em semanas, e isso obriga a olhar para 2026 de outra forma. Para quem está pensando em comprar ou montar um PC, a leitura prudente é simples: convém assumir que a memória continuará sendo um componente sensível, tanto em preço quanto em disponibilidade, por um bom período de tempo.
Imagens | Micron | Samsung
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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