A nave-cidade Chrysalis pode mesmo ser construída? Veja o que falta para que seja viável levar 2.400 pessoas para outra planeta em uma viagem com duração de 400 anos

Chrysalis replica uma cidade completa no espaço, mas falta de tecnologias ainda impede que o plano saia do papel

Nave-cidade Crysalis. cre´ditos: Crédito: Composición El Popular
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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A ideia de enviar milhares de pessoas para habitar outro planeta sempre pareceu coisa de ficção científica. Mas e se eu te disse que isso está bem mais perto de acontecer do que você imagina? A Chrysalis, um conceito de nave-cidade interestelar, propõe exatamente isso: transportar 2.400 pessoas em uma jornada de 400 anos rumo a outro planeta. O projeto da nave venceu o Project Hyperion,  uma competição internacional  anunciada em 2024, liderada pela Initiative for Interstellar Studies (I4IS), dedicado a projetar uma espaçonave conceitual para uma viagem tripulada ao espaço interestelar. A seguir, descubra o que falta para tirar essa nave-cidade do papel e avaliar se, um dia, ela poderá mesmo partir da Terra.

Chrysalis tem 58 km de extensão, múltiplas camadas e vida autossustentável

Interior do Chrysalis. O projeto de Chrysalis prevê várias camadas dedicada a uma função específica. Créditos: Giacomo Infelise, Veronica Magli, Guido Sbrogio', Nevenka Martinello e Federica Chiara Serpe

A principal ideia do Chrysalis é replicar uma cidade completa para viver no espaço. A ideia surgiu de um grupo de engenheiros, arquitetos e cientistas sociais italianos, e surpreendeu os participantes da competição pela ousadia. Basicamente, a nave apresenta um formato cilíndrico com 58 km de extensão e múltiplas camadas que giram entre si para criar gravidade artificial. Cada camada dessa, é dedicada a uma função específica, como produção de alimentos, áreas residenciais, espaços comunitários e setores industriais. Já as atividades mais pesadas ficariam a cargo de robôs, enquanto uma inteligência artificial ajudaria a monitorar recursos, equilibrar sistemas e apoiar decisões críticas.

Como a Chrysalis abrigaria gerações inteiras, a população seria rigidamente controlada para evitar sobrecarga nos recursos. O projeto prevê manter cerca de 2.400 habitantes na tripulação, com taxas de nascimento calculadas para manter o ambiente estável. Para fornecer energia e manter essa essa cidade espacial durante quatro séculos, a proposta inclui reatores de fusão, uma tecnologia ainda experimental, e sistemas fechados de reciclagem de ar, água e resíduos.

A preocupação central do projeto gira em torno da radiação cósmica. Para enfrentá-la, o conceito prevê blindagem reforçada e materiais capazes de se autorreparar, inspirados em pesquisas atuais sobre polímeros inteligentes.

A viagem de 400 anos tem destino a um planeta parecido com a Terra, com gerações que nasceriam e morreriam dentro da nave

Ao contrário das obras de ficção, a Chrysalis não prevê criogenia: ninguém dormiria por séculos esperando a chegada ao destino. A missão é pensada como uma viagem multigeracional, ou seja, os primeiros ocupantes viveriam e morreriam dentro da nave, e seus descendentes herdariam a responsabilidade de alcançar o destino, um planeta muito parecido com a Terra chamado de Proxima Centauri b, considerado um dos mais promissores da zona habitável de Alpha Centauri.

Por isso, a vida a bordo envolve não apenas logística de sobrevivência, mas também cultura. O projeto inclui parques internos, escolas, bibliotecas, salas de convivência e rotinas pensadas para preservar a saúde mental de uma comunidade confinada durante séculos. Jogos sociais, atividades artísticas e espaços de interação fariam parte da dinâmica cotidiana, com o intuito de prevenir isolamento, monotonia e conflitos prolongados.

Além disso, também seria necessário uma preparação para a viagem. As duas primeiras gerações seriam treinadas durante 80 anos em uma instalação isolada na Antártida, em condições que simulam o confinamento e o isolamento da viagem. A partir daí, seus descendentes seguiriam para o espaço.

Entenda o que falta para que a Chrysalis seja viável

É claro que um projeto grandioso e inédito como a Chrysalis não é algo fácil de planejar. Transformar a nave em algo real exige avanços tecnológicos que ainda não possuímos. Dessa forma, a nave está distante de se tornar viável e não possui um cronograma concreto.

O maior desafio é o sistema energético. Reatores de fusão nuclear, que são a peça central do projeto, ainda não funcionam de forma comercial, e especialistas consideram que podem levar décadas até se tornarem viáveis, confiáveis e compactos o suficiente para uma nave espacial. Além disso, ainda existem obstáculos como:

  • Inteligência artificial confiável, capaz de gerir sistemas críticos por centenas de anos;
  • Materiais com capacidade real de autorreparo, ainda em estágio experimental;
  • Blindagem contra radiação cósmica, mais agressiva que a encontrada em órbitas próximas à Terra;
  • Motores capazes de realizar viagens tão longas, garantindo estabilidade estrutural por gerações;
  • Protocolos sociais e psicológicos para sustentar uma civilização em movimento por 400 anos

Mesmo diante dessas dificuldades, os criadores da Chrysalis defendem que parte dessas tecnologias pode se tornar real nas próximas duas décadas.


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