Só temos batata frita com catchup graças à modificação genética feita milênios atrás

Estudo revela que hibridização natural ocorrida há 9 milhões de anos permitiu o surgimento dos primeiros tubérculos, como batata, mandioca e inhame

tomate e batata em uma cesta. Créditos: banco de imagens
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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A batata, o terceiro alimento mais consumido no mundo, pode ter surgido de um encontro totalmente improvável: o cruzamento entre um tomate e uma planta semelhante à batata, chamada Etuberosum, há cerca de 9 milhões de anos. A descoberta, publicada na revista Cell em julho, revela sobre a origem desse alimento e pode abrir caminho para o desenvolvimento de variedades mais resistentes a doenças e às mudanças climáticas.

Encontro improvável? Entenda o que originou os primeiros tubérculos

Um estudo publicado na revista científica Cell revelou que a batata moderna tem uma origem mais surpreendente do que se imagina. Os cientistas descobriram que o tubérculo compartilha um ancestral comum com o tomate e que a batata, na verdade, evoluiu a partir de um cruzamento natural entre um ancestral do tomate e uma planta do grupo Etuberosum, nativa da América do Sul, há cerca de 9 milhões de anos.

Essa hibridização natural foi decisiva para o desenvolvimento da principal característica da batata: a tuberização, processo que permitiu à planta acumular energia e nutrientes em estruturas subterrâneas. Essa adaptação foi essencial para sua sobrevivência em ambientes frios e de alta altitude, como os Andes, onde a espécie se diversificou e se tornou base alimentar de povos indígenas há milhares de anos.

Como era a batata ancestral

Etuberosums Potato. Créditos: (Agricultural Genomics Institute at Shenzhen/Chinese Academy of Agricultural Sciences (AGIS-CAAS) A batata ancestral surgiu do cruzamento entre um tomate selvagem e uma planta chamada Etuberosum. (Agricultural Genomics Institute at Shenzhen/Chinese Academy of Agricultural Sciences (AGIS-CAAS)

Na superfície, a planta ancestral da batata se parecia muito com a Etuberosum, que apresentava folhas e flores semelhantes, mas não produzia tubérculos, apenas caules finos. Já o tomate, embora também não formasse tubérculos, compartilhava semelhanças genéticas com a planta ancestral. Foi dessa combinação improvável que surgiu uma linhagem capaz de armazenar energia e nutrientes debaixo da terra.

Como os cientistas fizeram essa descoberta?

Para chegar à essa descoberta, os pesquisadores analisaram 450 genomas de espécies de batata, tanto cultivadas quanto selvagens. O mapeamento mostrou que, embora nem tomates nem Etuberosums produzissem tubérculos, o híbrido resultante desse cruzamento natural desenvolveu a capacidade de armazenar nutrientes subterrâneos.

Graças a essa característica, as batatas puderam se adaptar a diferentes habitats resistindo tanto a períodos de seca quanto ao frio intenso. É exatamente por essa razão que esse alimento é considerado um dos mais resistentes e versáteis do mundo. Além disso, o tubérculo permitiu a reprodução assexuada: cada batata é capaz de gerar novos brotos sem depender de sementes ou polinizadores.

A batata está presente no prato de bilhões de pessoas

A batata é um dos alimentos centrais da dieta humana. Ela divide espaço com trigo, arroz e milho como base da alimentação mundial, respondendo por quase 80% da ingestão calórica da humanidade. Porém, diante das pressões da crise climática, pesquisadores acreditam que conhecer a história desse legume pode ser decisivo para garantir a segurança alimentar no futuro.

A pesquisa também abre novas perspectivas para o cultivo. Cientistas acreditam que compreender a origem da batata pode ajudar no desenvolvimento de variedades de plantas mais resistentes às mudanças climáticas, pragas e doenças. Um dos projetos em andamento é estimular a reprodução das batatas por sementes, o que aumentaria a diversidade genética e reduziria os riscos de perdas em larga escala.

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