Tendências do dia

De repente, o Atlântico está esfriando em velocidade recorde. Isso muda tudo, até a temporada de furacões

Nos últimos três meses, as temperaturas em uma parte do Atlântico caíram mais rapidamente do que em qualquer outro momento desde 1982.

Atlentico Resfriando Em Tempo Recorde
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
sofia-bedeschi

Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Não é segredo que as previsões meteorológicas estão se tornando cada vez mais complicadas. Há apenas três meses, as principais agências do mundo estavam convencidas de que a temporada de furacões seria especialmente intensa. Um dos motivos que você provavelmente já ouviu falar era o aquecimento fora do normal do Oceano Atlântico. No entanto, três meses depois, os especialistas identificaram algo surpreendente: o Atlântico está esfriando.

Queda nas temperaturas comparando com 2023

Desde maio, um fenômeno curioso está ocorrendo, com as temperaturas do oceano Atlântico equatorial caindo rapidamente. Esse resfriamento recorde, apelidado de “La Niña Atlântica”, está acontecendo antes de uma transição prevista para uma La Niña mais fria no Pacífico. Esses eventos consecutivos podem desencadear um efeito dominó no clima global.

“Estamos começando a ver que as temperaturas médias globais dos oceanos estão caindo”, explicou Pedro DiNezio, da Universidade do Colorado, em Boulder. Segundo o serviço de previsão do tempo do governo dos Estados Unidos (NOAA, Administração Nacional dos Oceanos e da Atmosfera, em inglês),  as temperaturas globais da superfície do mar em julho foram ligeiramente mais frias do que em julho de 2023, encerrando uma sequência de 15 meses de recordes de temperatura.

Gráficos De Temperatura

O resfriamento está ocorrendo em uma faixa estreita ao longo do Equador, perto da costa africana. Durante o verão, os ventos alísios se movem para o oeste e interagem com a água do oceano, retirando parte do calor. Embora o resfriamento das águas possa variar de ano para ano, a transição para temperaturas mais frias foi a mais rápida já registrada.

O ano de 2024 começou com águas oceânicas muito quentes no Atlântico Equatorial Oriental, mas se obervou uma transição rápida a águas relativamente mais frias desde maio, junho e julho. De fato, essa foi a transição mais rápida registrada na história. “Estamos revisando a lista de mecanismos possíveis e até agora nada cumpre todos os requisitos. Se as temperaturas se mantêm 0,5ºC mais frias que a média por pelo menos mais um mês, se considerará um "La Niña do Atlântico", conta Franz Philip Tuchen, da Universidade de Miami.

Curiosamente, esse fenômeno de resfriamento coincidiu com um enfraquecimento dos ventos alísios, o que normalmente provocaria o efeito oposto. Isso tem intrigado a comunidade científica, e mais pesquisas serão necessárias para entender completamente o que está acontecendo.

Impactos no clima global e na temporada de furacões

É provável que esses eventos tenham um impacto significativo no clima mundial. A La Niña no Pacífico, por exemplo, está associada a climas secos no oeste dos EUA e chuvosos no leste da África, enquanto uma La Niña no Atlântico pode reduzir as chuvas no Sahel, na África, e aumentá-las em partes do Brasil.

Esse resfriamento pode impactar a temporada de furacões, embora a região que está esfriando no Atlântico equatorial não seja a área onde esses fenômenos se formam. A pesquisa sugere que uma La Niña Atlântica pode reduzir as chuvas no Golfo da Guiné, o que diminui as tempestades tropicais vindas da costa africana e, por consequência, limita a quantidade de ciclones tropicais.

Conflito entre os fenômenos

Assim, enquanto a La Niña no Pacífico poderia tornar a temporada de furacões mais ativa, uma possível La Niña Atlântica poderia atrasar essa hiperatividade prevista. No entanto, ainda é difícil prever com precisão como esses fenômenos vão interagir nos próximos meses. Segundo Michael McPhaden, da NOAA, “pode haver um jogo de forças entre o Pacífico tentando esfriar e o Atlântico tentando esquentar”.

Imagem | NASA Johnson, Franz Philip Tuchen/NOAA/climate.gov

Inicio