Por décadas, os ratos devastaram estas ilhas do Pacífico; agora, estamos descobrindo o que acontece quando eles vão embora

Bikar e Jemo são exemplos do poder devastador das pragas. Agora, mostram o caminho a seguir

Ratos em Bikar Atoll e Jemo Island / Imagens: Andrew Arch (Flickr), Google Earth e Island Conservation
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Abra o Google Earth, digite “Bikar Atoll” ou “Jemo Island” e deixe que o buscador o leve até esses pontos remotos perdidos no meio do Pacífico. O que você vê? Praias de águas turquesas e areia branquíssima, árvores frondosas, natureza em estado puro. O típico lugar que promete o paraíso na Terra e para onde qualquer um gostaria de viajar por uma semaninha.

O problema é que, até pouco tempo atrás, ambas as ilhas tinham um problema: estavam infestadas de ratos que haviam virado seu ecossistema de cabeça para baixo. Mas isso mudou.

As Ilhas Marshall, no Pacífico, são uma república insular situada na região da Micronésia, famosa por suas paisagens paradisíacas e praias de sonho. Entre seu rosário de ilhas, há duas em particular que, nos últimos meses, chamaram a atenção dos ecologistas: o atol de Bikar e a ilha Jemo, ambas incluídas na cadeia insular Ratak.

O motivo? Após um intenso trabalho de conservação e uma campanha que remonta a 2024, as duas ilhas viram sua fauna e vegetação se recuperarem aos poucos. Os ecologistas explicam que encontraram uma colônia de centenas de aves Onychoprion fuscatus (trinta-réis-das-rocas) com filhotes em uma área onde, até não muito tempo atrás, não havia um único exemplar. Isso sem contar os milhares de brotos que começaram a despontar em um solo antes infértil.

Ilhas

Um clandestino incômodo (e voraz)

Essa mudança não tem nada de misteriosa. Explica-se por uma campanha lançada no ano passado que colocou o foco no grande problema que estava devastando os ecossistemas de Bikar e Jemo: os ratos.

Embora ambas as ilhas sempre tenham se destacado por suas aves (quando os exploradores espanhóis descobriram Jemo, apelidaram-na de “Los Pájaros”), com o tempo elas acabaram sendo deslocadas por outro animal de apetite voraz: roedores que chegavam escondidos a bordo de barcos e se alimentavam de ovos e outras espécies locais, o que impactou drasticamente o delicado ecossistema insular.

As coisas começaram a mudar em julho de 2024, quando a Island Conservation, junto com a Autoridade de Recursos Marinhos das Marshall, lançou uma campanha ambiciosa para erradicar os ratos invasores. Com a ajuda de um drone, lançou iscas ao longo das ilhas — um trabalho meticuloso que exigiu cobrir cada hectare com cerca de 25 quilos de um produto desenvolvido especialmente para os roedores, sem afetar o restante das espécies nativas.

Meses depois, a equipe voltou a Bikar e Jemo para avaliar o alcance da campanha. “Assim que você pisa na ilha, seus sentidos ficam à flor da pele: você procura ratos, procura pássaros no chão, procura qualquer indício que indique se vencemos ou perdemos”, conta Paul Jacques, diretor da Island Conservation, à rede CNN. O que recebeu durante aquela visita foi “uma grande revelação”: a confirmação (ratificada por estudos) de que a praga havia recuado.

“Transformação drástica”

A fala é de Paul Jacques, que resume assim o que encontraram nas ilhas: “Uma colônia de 200 trinta-réis-escuros, onde antes não havia nenhum, alimentava centenas de filhotes”. “Também contamos milhares de plântulas da árvore nativa Pisonia grandis em apenas 60 parcelas de 12 metros monitoradas na floresta. Em 2024, não havíamos encontrado nenhuma”, relata o responsável pelo projeto, que lembra que essa regeneração é fundamental para a fauna que habita ambas as ilhotas.

Mudanças no terreno após o sumiço dos ratos Mudanças no terreno após o sumiço dos ratos
Ilhas
Filhotes de aves encontrados na ilha Filhotes de aves encontrados na ilha

“As florestas nativas são fundamentais para a nidificação das aves marinhas e cruciais para a absorção de carbono e para a saúde ecológica da ilha”, insiste. Com o desaparecimento dos ratos, as tartarugas, os caranguejos e as aves deixaram de ser acolhidos, o que logo se refletiu no restante do ecossistema.

Mais aves resultaram em mais guano, o que melhorou a fertilidade do solo, estimulando uma vegetação nativa mais abundante e recifes mais saudáveis. E, como uma imagem vale mais que mil palavras, a Island Conservation tratou de documentar a mudança com uma série de fotos que mostram o antes e depois da campanha.

Muito além de Bikar e Jemo

A mudança é importante para as ilhas, mas a Island Conservation insiste que o sucesso da campanha vai ainda mais longe. “Essa abordagem integrada oferece enormes benefícios para a biodiversidade, demonstrando como a conservação da terra e do mar, quando conectadas estrategicamente, podem aumentar a resiliência e o impacto ecológico”.

A organização também lembra que a regeneração das ilhas beneficia comunidades insulares vizinhas, como a de Likipe, que historicamente recorrem a Jemo em busca de recursos naturais. Sem ratos, agora voltam a encontrar mais caranguejos ali e esperam alcançar uma pesca sustentável.

Imagens | Andrew Arch (Flickr), Google Earth e Island Conservation

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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