Em julho de 2025, durante uma etapa de campo do Programa de Formação em Ecologia Quantitativa, realizado na Amazônia pelo Instituto Serrapilheira, quatro pesquisadoras brasileiras levantaram uma questão nunca antes respondida: qual a função das torres erguidas por ninfas de cigarras no solo da floresta? Para encontrar a resposta, porém, elas recorreram a uma solução totalmente inesperada: o uso de preservativos como ferramenta de pesquisa. A seguir, confira como o experimento foi realizado e que foi descoberto no processo.
Torres de cigarra: para que servem essas estruturas?
As torres de cigarras são algo bem diferente na natureza e que chamam a atenção pelo seu formato. Essas estruturas, feitas de argila e excrementos dos próprios insetos, já eram conhecidas pela ciência, mas sua utilidade não. A única informação que os cientistas sabiam é que as torres surgiam cerca de um ano antes da metamorfose, quando os insetos ganham asas e deixam o solo. O formato e os diferentes tamanhos, no entanto, fizeram os pesquisadores acreditarem que havia algo além de um abrigo temporário. Para tentar descobrir qual seria essa funcionalidade, quatro pesquisadoras brasileiras decidiram fazer um experimento bem diferente.
Grupo decide testar teoria com camisinhas

A teoria surgiu entre quatro pesquisadoras integrantes do Programa de Formação em Ecologia Quantitativa, formado por Marina Méga (UFRJ), Maria Luiza Busato e Izadora Nardi (Unicamp) e Sara Feitosa (UFC), orientadas por Pedro Pequeno (INCT- SinBiAm) e Rodrigo Fadini (UFOPA). A hipótese levantada pelas quatro é que as torres poderiam funcionar como uma espécie de duto de ventilação, regulando a entrada e saída de gases que seriam essenciais à sobrevivência das ninfas, estágio imaturo e subterrâneo da cigarra.
Mas como essa hipótese foi levantada por elas? A ideia surgiu a partir da observação das construções. Durante a pesquisa de campo, acidentalmente derrubaram uma das torres. Com isso, as pesquisadoras perceberam que o interior das torres era liso, bem estruturado e firme, como se tivesse sido esculpido para facilitar a circulação do ar. Isso acabou reforçando a suspeita de que as torres não serviam apenas de abrigo, mas também apresentavam uma função fisiológica para auxiliar as ninfas. O próximo passo era encontrar uma forma de vedar as torres para verificar qual seria o efeito em condições de baixa oxigenação. No entanto, para testar a teoria, os cientistas decidiram utilizar um objeto um tanto quanto inusitado: camisinhas.
Experimento revelou algo surpreendente
Durante o experimento, foram utilizados cerca de 40 preservativos. As pesquisadoras cobriram as torres com o material e acompanharam como as ninfas reagiam à redução da circulação de ar. O resultado confirmou a hipótese que elas haviam levantado, revelando que as estruturas realmente atuam como reguladoras de trocas gasosas.
Os testes também mostraram que o tamanho das estruturas faz uma pequena diferença. Torres menores, por exemplo, após algumas horas de vedação, pararam de crescer. Já as maiores, aceleraram o desenvolvimento. Durante a pesquisa de campo, o grupo de pesquisadores ainda conseguiu bater um recorde mundial, registrando simplesmente a maior torre de cigarras já documentada no mundo: 47 centímetros.
Mas não pense que a camisinha foi o único objeto inusitado utilizado no experimento para verificar se as torres de ninfas funcionavam contra predadores, os pesquisadores criaram espécies de iscas improvisadas com farinha, água e sardinha. O teste revelou que as torres realmente ajudam a reduzir a predação, já que ninfas expostas foram mais atacadas do que as protegidas nas torres.
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