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Boas notícias: o sistema solar tem um novo planeta; más notícias: ele tá tão longe que só aparece por aqui a cada 25 mil anos

É um mundo gelado e remoto, de tamanho considerável. Sua existência desafia os modelos do enigmático Planeta Nove

planeta anão NASA. Imagem: NASA/JPL-Caltech, Sihao Cheng et al.
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A União Astronômica Internacional acaba de adicionar um novo corpo celeste ao seu catálogo de planetas menores: o objeto transnetuniano 2017 OF201.

O sistema solar acaba de ganhar um novo integrante

O 2017 OF201 foi oficialmente reconhecido como planeta menor, mas tem grandes chances de ser classificado também como planeta anão. Esse mundo gelado, que orbita muito além de Netuno, nas profundezas escuras do sistema solar, já estava presente em dados de arquivo desde 2011, mas foram necessárias 19 exposições ao longo de sete anos para analisá-lo e classificá-lo corretamente.

O que torna esse objeto transnetuniano tão fascinante são duas coisas: sua órbita absurdamente extensa e seu tamanho nada modesto. Esse novo planeta menor leva cerca de 25 mil anos para completar uma única volta ao redor do Sol.

É um planeta distante e nem tão pequeno assim

No ponto mais próximo do Sol, o periélio, ele chega a cerca de 44,9 unidades astronômicas, uma distância parecida com a de Plutão. Mas no ponto mais distante, o afélio, ele se aventura a impressionantes 1.600 UA. Para ter uma noção, Netuno, o planeta conhecido mais distante do Sol, orbita a apenas 30 UA da nossa estrela.

As estimativas do astrônomo Sihao Cheng e sua equipe, do Instituto de Estudos Avançados, sugerem que o 2017 OF201 tem cerca de 700 quilômetros de diâmetro. Isso colocaria esse corpo celeste na mesma categoria de Ceres, o maior objeto do cinturão de asteroides, com cerca de 952 km de diâmetro. Na prática, considerando a luz que ele reflete, estamos falando do segundo maior objeto já identificado em uma órbita tão ampla e excêntrica.

E se ele não estiver sozinho?

A descoberta do 2017 OF201 levanta a possibilidade de que a região além do cinturão de Kuiper — até então considerada quase vazia esteja longe de ser deserta. Esse objeto transnetuniano está atualmente a 90,5 unidades astronômicas da Terra.

Como ele só pode ser detectado em cerca de 0,5% do tempo de sua órbita, quando passa perto do periélio, é possível que existam centenas de outros corpos semelhantes, com órbitas e dimensões parecidas, escondidos na vastidão do sistema solar. Segundo Cheng e sua equipe, essa população invisível pode somar uma massa total equivalente a quase 1% da massa da Terra.

Nos afasta da hipótese do Planeta Nove

Muitos dos objetos transnetunianos extremos costumam apresentar longitudes de periélio semelhantes, um padrão que alguns astrônomos atribuem à possível influência gravitacional de um planeta massivo ainda não descoberto o misterioso Planeta Nove.

Mas o 2017 OF201 foge desse padrão. Sua longitude de periélio é de 306 graus, um valor bem diferente da concentração em torno de 60 graus observada em outros corpos similares. Essa peculiaridade orbital desafia os principais modelos que tentam provar a existência do tal planeta oculto.

De acordo com o estudo do Instituto de Estudos Avançados, se o Planeta Nove realmente existisse, ele já teria expulsado o 2017 OF201 para fora do sistema solar há centenas de milhões de anos. E como isso não aconteceu, talvez o enigma seja outro — ou talvez ainda estejamos longe de entender o mapa completo do céu.

Só falta um nome

Agora oficialmente reconhecido como parte do sistema solar, o 2017 OF201 ainda aguarda um nome mais memorável, algo à altura do mistério que carrega. Mesmo assim, sua descoberta já está lançando novas luzes sobre as origens do sistema solar e a dinâmica das regiões mais distantes e inexploradas ao seu redor.

O que mais empolga a comunidade científica é o fato de essa descoberta ter sido possível graças a dados abertos, disponíveis publicamente por meio do projeto Dark Energy Camera Legacy Survey (DECALS), do Telescópio Víctor M. Blanco, e do Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT). 

Um verdadeiro triunfo da ciência colaborativa, que mostra como o céu guarda segredos para quem sabe onde procurar — mesmo anos depois de os dados já terem sido registrados.

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