Os planetas gigantes gasosos são difíceis de conceber em nossas cabeças terrestres. O que existe sob as opacas nuvens de planetas como Urano ou Netuno? Mais gás? Um núcleo sólido, talvez? Há um limite definido ou apenas uma sucessão de camadas distintas?
Um novo estudo sugere a possibilidade de que Urano ou Netuno escondam oceanos sob suas nuvens de hidrogênio e hélio. De acordo com os resultados obtidos por meio de uma simulação computacional do interior desses planetas, é possível que existam sucessivas camadas, algumas formadas por hidrocarbonetos e outras por água.
Camadas que, assim como água e óleo, não se misturam sob a densa atmosfera desses gigantes gelados. A presença desses corpos de água pode estar relacionada aos campos magnéticos singulares desses planetas em nosso Sistema Solar.
Campos magnéticos diferentes
Quando a missão Voyager 2 se aproximou dessa região do Sistema Solar, tornou-se a primeira (e até hoje, única) sonda a visitar Urano e Netuno. Durante sua aproximação, foi capaz de estudar esses planetas e também seus campos magnéticos, que se revelaram peculiares.
O campo magnético da Terra, gerado pelos movimentos convectivos do ferro em seu núcleo, é dipolar, com um fluxo que oscila entre os polos Norte e Sul. No entanto, as observações da sonda Voyager 2 mostraram que os gigantes gelados não possuem um campo dipolar, mas sim campos magnéticos desorganizados.
Isso levou os especialistas a supor que Urano e Netuno têm interiores divididos em camadas de compostos que não se misturam, o que impede o surgimento de movimentos convectivos em larga escala, como ocorre no interior da Terra. O desafio desde então tem sido explicar quais seriam esses compostos.
Simulando o interior
O novo estudo baseou-se em simulações por computador para investigar quais condições e compostos poderiam explicar essa peculiaridade. As simulações revelaram camadas distintas de água, metano e amônia, separadas entre si, facilitadas pelo escape de átomos de hidrogênio nas camadas de metano e amônia devido à pressão. Com base nesses cálculos, a simulação sugere a possível existência de uma camada de água com cerca de 8.000 km de espessura nesses planetas.
"Agora temos, eu diria, uma boa teoria sobre por que Urano e Netuno têm campos [magnéticos] realmente diferentes dos que existem na Terra, Júpiter e Saturno", explicou Burkhard Militzer, autor do estudo, em um comunicado à imprensa. "Não sabíamos disso antes. É como água e óleo, mas o óleo fica embaixo devido à perda de hidrogênio".
Militzer detalhou sua análise em um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Uma missão para os gigantes gelados
A publicação do estudo coincidiu com outro artigo, desta vez na revista Geophysical Research Letters, que especula sobre a possibilidade de que a interação gravitacional entre Urano e suas luas possa ajudar uma futura missão ao gigante gelado a encontrar evidências de oceanos ocultos nesses satélites.
Urano e Netuno despertam grande interesse dos astrônomos, já que planetas desse tipo estão entre os exoplanetas mais comuns identificados em nossa galáxia. Sabendo disso, não surpreende que, há alguns meses, um estudo conduzido por astrônomos tenha encontrado um certo consenso na comunidade científica sobre a necessidade de organizar uma missão a Urano na próxima década.
Essa missão precisaria lançar uma sonda na primeira metade da década de 2030, aproveitando dinâmicas orbitais favoráveis que permitiriam à nave alcançar o gigante gelado em pouco mais de uma década. Isso possibilitaria o estudo detalhado não apenas do planeta, mas também de suas luas e da possibilidade de que contenham oceanos de água líquida.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
Ver 0 Comentários