No exótico mundo da física quântica, provavelmente há poucos fenômenos mais estranhos do que o emaranhamento. Esse mecanismo quântico não tem equivalente na física clássica e consiste no fato de que o estado dos sistemas quânticos envolvidos, que podem ser dois ou mais, é o mesmo. Isso significa que esses objetos, na realidade, fazem parte de um mesmo sistema, mesmo que estejam separados fisicamente. Na verdade, a distância não importa.
Se duas partículas, objetos ou sistemas estão emaranhados por meio desse fenômeno quântico, ao medirmos as propriedades físicas de um deles, estaremos condicionando instantaneamente as propriedades físicas do outro sistema com o qual ele esteja emaranhado. Mesmo que esteja do outro lado do universo. Parece ficção científica, é verdade, mas, por mais estranho e surpreendente que nos pareça, esse fenômeno já foi comprovado empiricamente. E este na verdade é, junto à superposição de estados, um dos princípios fundamentais da computação quântica.
Estudo sugere que a gravidade é uma consequência da informação quântica
Uma forma de definir a gravidade quântica exige observá-la como a teoria da física que busca unificar a gravidade, tal como é descrita pela teoria geral da relatividade de Einstein, e a mecânica quântica. É, em suma, uma teoria do tudo que tenta explicar quais são os mecanismos que determinam o comportamento da gravidade na escala das partículas subatômicas. O problema é que, até agora, a gravidade como a entendemos desde Einstein só funciona bem no mundo macroscópico com o qual estamos familiarizados.
Físicos há muitas décadas tentam esclarecer a relação existente entre a gravidade e a física quântica. Nesse contexto, não há dúvida de que cada nova contribuição conta, e a que foi feita pelo físico e engenheiro Florian Neukart, que atua como professor na Universidade de Leiden (Países Baixos), é uma das mais surpreendentes que surgiram nos últimos anos. Isso porque o que ele propõe no artigo científico publicado na Annals of Physics é objetivamente revolucionário.
Seu texto propõe a possibilidade de que a gravidade não seja uma força fundamental, mas sim o resultado da forma como a informação quântica se organiza no universo. A razão pela qual dediquei as primeiras linhas deste artigo ao emaranhamento quântico é que Neukart sustenta que esse fenômeno tem a capacidade de condicionar diretamente a geometria do contínuo espaço-tempo. Isso significa que a gravidade poderia ser o resultado não apenas da curvatura causada pelos objetos com massa ou energia no espaço-tempo, mas também do emaranhamento quântico.
Para chegar a essa conclusão, esse cientista desenvolveu as equações de Einstein acrescentando uma variável que representa a informação quântica. Os efeitos de sua previsão são tão minúsculos que, atualmente, são indetectáveis do ponto de vista experimental, mas existe a possibilidade, caso a teoria de Neukart seja confirmada, de que seu marco teórico ajude os cosmólogos a entenderem melhor os fenômenos extremos que ocorrem, por exemplo, no interior dos buracos negros.
Além disso, esse físico sugere que o emaranhamento quântico poderia explicar de onde vem o valor da constante cosmológica. Uma forma não totalmente precisa, mas acessível, de entender o que é essa constante consiste em vê-la como uma força uniforme e contínua que estica o espaço que contém tudo. Seja como for, a proposta teórica de Neukart tem várias limitações que não devemos ignorar.
Por um lado, seus efeitos são presumivelmente perceptíveis apenas perto da escala de Planck. E, além disso, não resolve a gravidade quântica, sobre a qual falamos algumas linhas acima. Ainda assim, essa proposta é muito interessante por um motivo: sugere que, na realidade, o contínuo espaço-tempo poderia ser uma manifestação da informação quântica que o universo contém, convidando assim os físicos a explorar novas linhas de pesquisa.
Imagem | Xataka com DALL-E
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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