"Emergindo do oceano como um dedo do meio para o CO2": empresa de energia eólica rebate críticas de Trump e um astro de Hollywood está no centro da história que data de 2012

Da disputa por um campo de golfe à contratação de Samuel L. Jackson, a guerra de Trump contra turbinas eólicas virou uma saga sobre política, clima e o futuro da energia na Escócia

Crédito de imagem: Vattenfall
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João Paes

Redator
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João Paes

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Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

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A história poderia começar com números grandiosos sobre energia limpa ou com os 80 mil lares abastecidos pelo parque eólico de Aberdeen Bay. Mas não: tudo começou com Donald Trump, em 2012, se autodeclarando “a evidência” enquanto dava um depoimento digno de reality show no Parlamento Escocês. Antes mesmo de ocupar a Casa Branca, o então magnata já transformava a guerra contra turbinas eólicas em parte de sua persona pública — uma guerra que se fortaleceu quando os monstros de aço ameaçaram o cenário do seu campo de golfe em Aberdeenshire.

A briga é tão antiga quanto improvável e começou há quase 20 anos, em 2006. Naquele ano, Trump comprou o Menie Estate prometendo criar “o maior campo de golfe do mundo”. A promessa mal saiu do papel quando veio a fúria: 11 turbinas planejadas, usando tecnologia futurista para a época, com o intuito de erguer no mar um dos parques de energia eólica mais ambiciosos da Escócia. Para Trump, era uma afronta estética, um crime contra o horizonte. Para os defensores do projeto, era o futuro emergindo das águas, mostrando que o mar pode ser o local ideal para gerar energia limpa.

Trump levou a briga até onde conseguiu: tribunais escoceses, Suprema Corte do Reino Unido, coletiva de imprensa, aeroportos e até suas redes sociais. Perdeu em todos os lugares. E, desde então, transformou as turbinas em inimigo número um. A ponto de exigir que o Reino Unido “acabe com os moinhos e traga de volta o petróleo”, chamando de maneira pejorativa as turbinas modernas de moinhos, como os do século XVI.

A ironia é que o setor eólico escocês cresceu justamente onde o petróleo parou — não por decisão política, mas porque o petróleo do Mar do Norte está acabando. Hoje, o país planeja expandir sua geração offshore para 40 GW até 2040, enquanto o programa ScotWind deve atrair 30 bilhões de libras em investimentos. São números que fazem qualquer executivo sorrir, mas que Trump só enxerga como ameaça ao seu estilo de vida.

Nem mesmo o discurso ambiental dele convence: o suposto “massacre” de aves que Trump diz acontecer com as turbinas no mar, também não se sustenta. Câmeras instaladas exatamente no parque eólico que ele tentou barrar registraram zero colisões em dois anos. Isso mesmo: zero.

Mesmo assim, para Trump, as turbinas continuam “feias”, “caríssimas” e “ruins para os pássaros”. Já para os escoceses, elas são parte central de um futuro que não depende de perfurar o fundo do mar atrás de um petróleo que, literalmente, já deu o que tinha que dar.

Tanto que agora em agosto de 2025, a empresa de energia Vattenfall contratou Samuel L. Jackson para ser o rosto da campanha publicitária educacional, mostrando que as grandes turbinas funcionam além de sua função base, servindo até para cultivo de alimentos sustentáveis, como os snacks feitos de algas que são cultivadas no parque eólico.

“Emergindo do oceano como um dedo do meio para o CO2", como diz L. Jackson no vídeo. Um dedo do meio não só para a poluição, mas também para quem torce por ela.


Crédito de imagem: Vattenfall.

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