A Ducati tem motocicletas que definiram eras, motores que fizeram história e designs que ainda hoje são exibidos em garagens como obras de arte (Tamburini, seu designer, era chamado de Michelangelo das motocicletas).
E então temos a Indiana. A tentativa mais estranha (e certamente mais complexa) de aproximar Borgo Panigale do sonho americano das motos customizadas que reinaram nos anos 80. Um projeto que nasceu em 1986, logo após a aquisição da Ducati pela Cagiva, e que, desde o primeiro anúncio, deixou claro a quem queriam seduzir: referências ao Oeste americano, cromados estilosos e aquela vibe Harley. Alerta de spoiler: fracassou.
Uma custom italiana com motor Pantah
A Indiana era uma verdadeira moto customizada, mas com DNA Ducati em cada parafuso. O motor Pantah, herdado da Alazzurra e da Elefant, era oferecido nas versões de 350, 650 e 750 cc. Era um verdadeiro motor bicilíndrico em L, com acionamento desmodrômico das válvulas e um cilindro girado 180 graus para acomodar os carburadores entre os cabeçotes. Muito cromado, sim, mas por baixo de tudo isso ainda havia um motor que, como proclamava a propaganda da época, "nem a Harley, nem as japonesas conseguiam acompanhar em retas ou curvas". Anote essa afirmação.
Em números: 38 cv a 9.250 rpm para a 350 (cerca de 150 km/h) e 54,4 cv a 7.000 rpm para a 750 (170 km/h). Nada mal para os anos 90... e para uma cruiser.
Mas, honestamente, o mais surpreendente não era o motor, mas sim o seu desempenho. O chassi era o mesmo da Elefant, e a combinação funcionava perfeitamente. Garfo Marzocchi na dianteira com guidão de 40 mm, dois amortecedores ajustáveis na traseira, quadro de berço duplo com tubos quadrados (feio, mas eficaz) e freios Brembo de 260 e 280 mm. Até as rodas tinham personalidade: rodas de liga leve com design de estrela de três pontas, 18" na frente e 15" atrás.
Em termos de dirigibilidade, era mais lógica do que parecia. Trocas de marcha bem espaçadas, resposta suave, vibrações mínimas e ergonomia meticulosa. Guidão largo, pedaleiras perfeitamente posicionadas e um banco em dois níveis que priorizava o conforto em vez da ostentação.
Esteticamente, a Indiana tinha tudo o que precisava para entrar no clube das motos customizadas: cromados por toda parte, um tanque em formato de gota, um farol redondo, guidão arqueado… Era uma custom clássica, mas com aquele toque italiano que não se encaixava muito bem, nem nos EUA, nem na Itália.
Talvez seja por isso que foi um fracasso
O sistema de válvulas desmodrômico não agradou os entusiastas de motos customizadas (que valorizam a simplicidade em detrimento da sofisticação), a rede de concessionárias não ajudou e o público americano nunca a compreendeu totalmente. Em quatro anos, entre 1986 e 1990, a Ducati produziu pouco mais de 2.300 unidades. Quase metade delas no primeiro ano. Depois disso, foi um declínio acentuado.
Hoje, é quase uma raridade encantadora
Uma Ducati customizada pode ser encontrada por valores entre € 2 mil e € 4 mil (R$ 12,4 mil e R$ 24,8 mil), dependendo da cilindrada. Curiosamente, a 350 é considerada a mais equilibrada pelos especialistas. Não era a Ducati destinada a conquistar a América, mas é um item de colecionador para quem quer algo diferente sem gastar uma fortuna.
Imagens | Ducati
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