Já pensou em ir ao caixa eletrônico para sacar algum dinheiro para pagar o jantar e as bebidas com seus amigos e descobrir que pode retirar todo o dinheiro que quiser, sem limites e sem que isso seja descontado do saldo da sua conta corrente?
Isso, que para 99% da população sem mais de seis dígitos no saldo bancário, acabou se transformando em um pesadelo para Dan Saunders, um humilde garçom australiano que teve sua vida virada de cabeça para baixo pela deusa Fortuna.
O caixa mágico com dinheiro infinito
A revista Vice contou a incrível história vivida por Dan Saunders, um garçom australiano de 29 anos. Em uma noite de 2011, ele saiu do bar onde estava com sua esposa e amigos para sacar um pouco de dinheiro e pagar o jantar. Quando tentou verificar quanto podia retirar de sua conta bancária quase zerada, o caixa eletrônico exibiu na tela a mensagem: "saldo não disponível no momento".
Diante da impossibilidade de saber quanto dinheiro tinha disponível, Saunders decidiu garantir, transferindo 200 dólares australianos de sua conta de crédito para a conta corrente, com o objetivo de ter saldo suficiente para realizar o saque. Não deu certo. O caixa eletrônico exibia a mensagem "Transação cancelada" e devolvia o cartão.
Diante da recusa do caixa em realizar uma operação tão comum, Saunders resolveu tentar a sorte e verificar se conseguiria sacar dinheiro de sua conta corrente.
Para sua surpresa, o caixa não apresentou nenhum impedimento e entregou os 200 dólares australianos que ele precisava para pagar as despesas. Com o dinheiro em mãos, ele voltou ao bar para se juntar à sua esposa e aos amigos.
O comportamento estranho do caixa deixou o jovem intrigado. Mais tarde, ao sair do bar, com alguns drinks a mais e sem nada melhor para fazer, Dan Saunders decidiu voltar ao caixa eletrônico para tentar a sorte novamente — apenas por curiosidade.
Ele repetiu a tentativa de transferir 200 dólares australianos para evitar que a operação ficasse negativa e, em seguida, tentou sacar 200 dólares.
Depois, repetiu o processo com 500 dólares e, por fim, sacou mais 600 dólares, totalizando 2.000 dólares. Saunders sabia que sua conta não tinha tanto dinheiro quanto o caixa havia fornecido. "Era como um truque de mágica", disse ele.
Saldo ilimitado por uma falha do banco
Na manhã seguinte, com a carteira cheia de dinheiro, Saunders ligou para o banco para verificar o saldo das suas contas. Para sua enorme surpresa, o atendente informou que o saldo permanecia exatamente o mesmo do dia anterior, tanto na conta de crédito quanto na conta corrente.
Decidido a esperar um pouco para ver se o banco levaria algum tempo para processar os movimentos, ele aguardou 24 horas. Nesse período, a conta corrente começou a refletir um saldo negativo no valor que havia sacado na noite anterior, mas a conta de crédito não registrou nenhum movimento.
Após vários testes, Saunders descobriu que, durante a madrugada, o sistema do caixa eletrônico se desconectava do banco e da internet. Ele percebeu que podia aproveitar esse intervalo de tempo para realizar transferências entre contas e sacar o dinheiro no caixa eletrônico, garantindo que nenhuma evidência das operações ficasse registrada.
O único inconveniente era que, a cada dia, Saunders precisava aumentar os valores transferidos da conta de crédito para evitar que ficassem negativos. "Eu podia 'criar' dinheiro do nada, simplesmente fazendo uma transferência entre 1h e 3h da madrugada, horário em que os caixas eletrônicos não estavam conectados ao banco", explicou Saunders.
Milionário por "arte de magia"
Em menos de quatro meses, Dan Saunders conseguiu sacar mais de 1,6 milhões de dólares australianos em suas aventuras noturnas ao caixa eletrônico — cerca de 980 mil euros na conversão atual. Ninguém no banco percebeu o que estava acontecendo, pois as operações não deixavam dívidas registradas em suas contas.
No entanto, os valores que precisava retirar a cada vez se tornaram tão altos que os caixas eletrônicos não conseguiam disponibilizar tanto dinheiro.
Para contornar o problema, Saunders adaptou sua estratégia: realizava as transferências à noite, mas passava pessoalmente no banco pela manhã para sacar o dinheiro.
"Era muito viciante saber que, com apenas um clique, eu podia fazer meu saldo aumentar em milhões; me sentia como um homem das cavernas que acabava de descobrir o fogo", relatou Saunders em entrevista à Vice.
Com esse dinheiro, Dan começou a viver como um milionário: organizava festas extravagantes com amigos, alugava jatos particulares para viagens e até pagava as mensalidades universitárias de alguns colegas. Apesar disso, nem todos estavam dispostos a participar de sua "aventura", sabendo de onde vinha aquele dinheiro.
"Quando sabem que você tem dinheiro, te tratam de forma diferente. Se alguém descobre que você tem muita grana, vai aparecer com alguma ideia para você ganhar ainda mais. Por exemplo, lembro de ter ido ao banco sacar dinheiro, e, quando a atendente viu o saldo da minha conta, mudou completamente de atitude. De repente, ela olhava para mim com admiração, como se eu fosse um cara incrível por ter milhões na conta. É assim que os ricos vivem", contou Saunders em sua entrevista.
Saunders nunca revelou à família a origem do dinheiro. "Eles teriam me dado uma bronca. Eu contei para muita gente que trabalhava com investimentos ou no mercado imobiliário. Criei tantas versões da história que já nem me lembro mais, porque conheci pessoas demais".
Não foi pego, mas sua consciência o entregou
Apesar de todo o dinheiro que havia retirado dos caixas eletrônicos usando esse método, o banco nunca desconfiou do desfalque. No entanto, os atos começaram a pesar na consciência de Dan Saunders, especialmente ao perceber a dimensão que a situação estava tomando. "Eram apenas números em uma tela. Durante mais de quatro meses, ninguém sentiu falta desse dinheiro. Na minha lógica, eu não estava roubando de ninguém", contou. Porém, a culpa começou a cobrar seu preço.
"Eu sonhava que viriam me prender. Uma noite, tive um pesadelo em que um esquadrão da SWAT estava me esperando na porta do hotel onde eu estava hospedado. Acordei encharcado de suor e, naquele momento, ouvi a campainha tocar. Pronto, acabou. Vieram me buscar, pensei ⎯o que, honestamente, teria sido um alívio⎯, mas era apenas a camareira", lembrou Saunders.
O medo de que, um dia, a polícia aparecesse em sua porta foi tão grande que ele chegou a planejar uma fuga para se esconder entre os turistas de Mallorca, na Espanha. "Eu teria fugido para a Espanha, talvez para Mallorca, e colocado todo o dinheiro em cassinos, não em bancos, porque lá ninguém faz perguntas", revelou.
Finalmente, Saunders entrou em contato com o banco para relatar a falha no sistema que havia descoberto e explicar como estava obtendo dinheiro de forma ilícita nos caixas eletrônicos. A resposta do banco foi direta: "Agora isso está nas mãos da polícia e não podemos mais falar com você. A polícia vai te chamar, mas você se meteu em uma encrenca muito grande", relatou ele em sua entrevista.
O humilde garçom australiano achava que a polícia viria imediatamente prendê-lo, mas passaram-se dois anos sem que ele tivesse qualquer notícia das autoridades. Cansado da incerteza, Saunders decidiu procurar a imprensa e tornar seu caso público. Sua história virou um documentário exibido em horário nobre, o que finalmente chamou a atenção da polícia, que então o prendeu.
Após a prisão, foi iniciada uma investigação e um julgamento. Dan Saunders foi condenado a um ano de prisão e 18 meses de serviços comunitários. Segundo seu advogado, o banco nunca havia denunciado Saunders à polícia, tentando abafar a falha de segurança em seu sistema.
Por isso, a detenção demorou tanto para ocorrer. Ironicamente, foi o próprio Saunders quem trouxe atenção ao crime, ao decidir contar sua história na televisão.
Ver 0 Comentários