“Grande Transferência de Riqueza” não é algo apenas para os ricos: mudança demográfica concentrará a riqueza entre os mais jovens

  • Os millennials receberão 41% mais patrimônio como herança do que as gerações anteriores

  • As mudanças demográficas e econômicas entre os anos 70 e 2000, junto com a queda da natalidade, são os principais fatores para essa concentração de riqueza intergeracional

Valorização de imóveis e queda na natalidade enriquecerá millennials / Imagem: Unsplash (Roman Synkevych)
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A situação econômica e habitacional enfrentada atualmente pelos jovens na Espanha não apresenta um futuro muito promissor. No entanto, essas novas gerações têm uma carta inesperada na manga: as mudanças demográficas e a queda da natalidade nas últimas décadas na Espanha apontam para uma concentração progressiva de riqueza entre os millennials e a população mais jovem por meio de heranças.

41% mais ricos que a geração anterior

O estudo Demografia, habitação e desigualdades de riqueza, realizado pela Fundação Afi Emilio Ontiveros, conclui que a transferência de riqueza dos membros da geração baby boom para os millennials ou gerações posteriores será 41% superior ao que ela recebeu da geração anterior. Esse aumento na transferência de patrimônio não se limita a grandes fortunas, mas está relacionado a fatores como o crescimento urbanístico e socioeconômico que a Espanha viveu entre os anos 80 e 2000, além da inversão da pirâmide demográfica.

O estudo estima que as pessoas nascidas entre 1980 e 1996 herdarão, em média, 250.000 euros (R$ 1,6 milhão) da geração anterior. Seus predecessores herdaram uma média de 177.000 euros (R$ 1,1 milhão), enquanto a chamada "geração silenciosa", nascida no início do século, recebeu uma média de 91.000 euros (R$ 577 mil).

Migração e disponibilidade de habitação

Em um contexto histórico, entre os anos 60 e 90 do século passado, houve um grande movimento migratório do campo para as cidades, lançando as sementes do que hoje é conhecido como a "Espanha vazia", concentrando-se nas grandes cidades. Enquanto 27% da população residia em localidades com menos de 10.000 habitantes nos anos 80, em 2021 esse número caiu para apenas 20%.

Por outro lado, essa migração foi acompanhada por uma enorme oferta de habitação que cresceu formando novos bairros que, naquela época, constituíam a periferia das cidades, mas hoje fazem parte do núcleo urbano. De acordo com dados do estudo, o parque habitacional na Espanha é composto por 26,7 milhões de imóveis e tem uma média de idade entre 45 e 50 anos. Isso dá uma ideia do volume de construções nesse período de tempo.

O estudo estima que em torno de 80% dos baby boomers, nascidos entre 1958 e 1975, possuem uma dessas residências próprias onde residem habitualmente.

Millennials ficarão mais ricos / Imagem: Xataka

A segunda residência

Paralelamente, o estudo mostra que, além da construção de residências principais nas grandes cidades entre os anos 60 e 80, também houve um aumento na construção de segundas residências em zonas turísticas que ainda não estavam sobrecarregadas pela massificação das últimas décadas.

Essa pressão sobre a habitação fez com que muitas dessas segundas residências passassem a se tornar moradias principais ou que seus proprietários as alugassem, obtendo um benefício econômico adicional que impactará no patrimônio líquido do legado dessa geração.

Millennials ficarão mais ricos / Imagem: Xataka

Aumento nos preços das residências

O aumento nos preços das residências também representa um importante impulso para o aumento na valorização do patrimônio a ser herdado. Os dados do estudo indicam que, em 2004, o preço médio das residências novas na Espanha era de 140 mil euros (R$ 890 mil). Duas décadas depois, esse preço médio subiu para 267.078 euros (R$ 1,7 milhão). Ou seja, os investimentos imobiliários feitos entre os anos 80 e 2000 se valorizaram mais de 100% em relação ao preço de mercado atual. Isso, é claro, também aumenta a valorização do patrimônio que se herda.

A importância da natalidade

Um dos fatores chave para esse aumento na transmissão e concentração de riqueza para os millennials é a queda no número de nascimentos. Os dados de natalidade na Espanha mostram que, nos anos 60, a taxa de natalidade era de 21,70% com 2,86 filhos por mulher. Nos anos 80, essa taxa caiu para 15,22% com 2,21 filhos por mulher, enquanto no final dos anos 90, época do nascimento dos primeiros millennials, a taxa de natalidade caiu para 9,39% com 1,16 filho por mulher.

Isso implica que a geração baby boomer teve que repartir suas heranças entre quatro e dois irmãos em média, enquanto a distribuição desse patrimônio entre os millennials se concentrará entre um e dois irmãos, com o adicional de que muitas famílias optaram por não ter filhos, aumentando as opções de herança de familiares de terceiro grau (tios, por exemplo).

A desigualdade continua sendo um problema. Embora o estudo não forneça cifras concretas, ele destaca que essa concentração de riqueza nas mãos dos millennials contribuirá para aumentar a brecha patrimonial entre ricos e pobres.

O surgimento dessa crescente desigualdade está centrado na acumulação de bens imóveis em locais estratégicos ou com maior superfície construída, que foram os que mais tiveram valorização nos últimos anos. Aqueles que não possuem famílias proprietárias de uma ou mais residências continuarão em desvantagem, pois não herdarão nada e nem verão seu patrimônio se valorizar da mesma forma.

Imagem | Unsplash (Roman Synkevych)

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

Inicio