Operação Magna Fraus: hackers orquestraram desvio milionário de R$813 milhões do Pix dentro de um hotel 5 estrelas em Brasília

Quadrilha usou credenciais de empresa de tecnologia  C&M Software para desviar milhões de contas ligadas ao sistema Pix, tudo isso dentro de um hotel de luxo no Distrito Federal

Hacker mexendo em computador. Créditos:	Supatman/GettyImages
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Na manhã desta quinta-feira (30/10), a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Magna Fraus, que investiga uma quadrilha de hackers envolvida em um dos maiores ataques cibernéticos já registrados contra o sistema financeiro nacional. Segundo as investigações, o grupo teria desviado mais de R$813 milhões de contas usadas por bancos e instituições de pagamento ligadas ao Pix, sistema administrado pelo Banco Central. Contudo, um detalhe inusitado chamou a atenção das autoridades. O golpe milionário foi realizado em um local condizente com a quantia desviada: uma suíte do hotel Royal Tulip, em Brasília, um dos mais luxuosos da cidade.

Relembre o caso envolvendo o ataque hacker a C&M Software

O caso envolvendo o desvio milionário foi descoberto em julho deste ano, quando a empresa C&M Software, que presta serviços de tecnologia a instituições financeiras, relatou ao Banco Central um ataque às suas infraestruturas digitais. As investigações mostraram que os criminosos tiveram acesso a credenciais verdadeiras de clientes, como logins e senhas, e conseguiram entrar nos sistemas da empresa

A partir daí, os criminosos tiveram acesso a contas de reserva mantidas por bancos e instituições de pagamento no Banco Central, um tipo de conta usada para movimentar grandes valores e garantir liquidez nas operações financeiras. Essas contas, vale lembrar, não pertencem a correntistas comuns, mas às próprias instituições financeiras. Ou seja: o golpe não atingiu diretamente os clientes, mas as próprias empresas ligadas ao sistema de transferências do Pix.

Durante as investigações, a polícia identificou João Nazareno Roque, de 48 anos, como um dos primeiros suspeitos. Funcionário terceirizado da C&M, ele teria entregue seu login e senha a outros criminosos após ser aliciado. João foi preso em São Paulo e confessou ter colaborado com o grupo para facilitar o acesso aos sistemas e permitir que as transações fossem executadas.

Ataque hacker foi realizado dentro de um hotel de luxo 

O ataque milionário ocorreu entre os dias 30 de junho e 1º de julho, quando parte da quadrilha se hospedou no Royal Tulip. As investigações apontam que, no exato momento em que os valores foram subtraídos das contas, os hackers estavam reunidos dentro do hotel. Após a ação, alguns integrantes da quadrilha deixaram o Brasil. Um grupo viajou para a Europa, enquanto outro fugiu para a Argentina. O caso chamou atenção da Interpol, que passou a colaborar com as autoridades brasileiras. O episódio foi classificado pela Polícia Federal como o maior ataque hacker já realizado contra o sistema financeiro do país. O Banco Central reforçou que o Pix não foi invadido, e que o crime afetou apenas as instituições financeiras, sem causar prejuízo direto aos usuários.

Até agora, 19 pessoas foram presas envolvidas no crime

Na segunda fase da operação, foram cumpridos 42 mandados de busca e apreensão e 26 de prisão. Dentre eles, 19 são preventivas e 7 são temporárias, em 11 cidades brasileiras, incluindo Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia, Itajaí, Balneário Camboriú, João Pessoa e Camaçari.

Também houve prisões internacionais, realizadas simultaneamente na Espanha, Argentina e Portugal, com apoio da Interpol e da Brigada Central de Fraudes Informáticos da Polícia Nacional da Espanha. Até o momento, 19 pessoas estão presas, 12 no Brasil e 7 no exterior.

Além das prisões, a Justiça determinou o bloqueio de bens e valores que podem chegar a R$640 milhões, além da apreensão de veículos, jóias, relógios, armas, munições e cerca de R$1 milhão em criptoativos. Isso porque parte do dinheiro desviado teria sido convertida em criptomoedas e usada na compra de bens de luxo no Brasil e fora do país.  Os investigados devem responder por organização criminosa, invasão de dispositivo informático, furto mediante fraude eletrônica e lavagem de dinheiro.

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