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Os cartéis têm um veículo que parece saído de Mad Max: é o "narcotanque" e virou um pesadelo no México

  • Os narcotanques dos cartéis mexicanos têm torretas 360º, blindagem pesada e até sistemas antidrones


  • Eles são peças-chave na guerra contra outras facções, além de protegerem carregamentos de drogas e espalharem o terror

"narcotanque" e virou um pesadelo no México. Imagem: ZestyMasterOfZesty, Víctor González
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Os cartéis de drogas continuam sendo um problema enorme no México. Também estão em outros países da América Latina, mas é no México que dá pra ver até onde essas organizações conseguem chegar. Eles dominam setores super lucrativos, como o cultivo de abacate, a violência deles afeta o turismo e a influência é tão grande que já controlam a distribuição de 13% dos produtos no país. E nada mostra tanto esse poder quanto um veículo.

O narcotanque

A gambiarra dos narcos. Antes de falar dos veículos de guerra, vale lembrar que eles também apostam no mar. Não é só com lanchas, mas com algo muito mais ousado: os narcosubmarinos. No começo eram bem improvisados, mas foram ficando mais sofisticados. Esses submarinos artesanais são usados pelos cartéis para cruzar o oceano e transportar toneladas de drogas em cada viagem. Eles surgiram como uma solução pra levar a droga produzida.

No caso dos carros usados em terra, a ideia nem era tanto transportar a mercadoria, mas proteger a carga, espalhar o pânico entre os inimigos e mostrar a força de cada cartel. Foi assim que, há cerca de 15 anos, como mostra a BBC, começaram a aparecer os narcotanques: veículos comuns, comprados no mercado, que os cartéis adaptavam. Eles reforçavam a estrutura, colocavam camadas de blindagem e criavam máquinas feias, improvisadas, mas que funcionavam muito bem.

Monstros

A foto que abre essa matéria é a prova de que não era o trabalho mais sofisticado do mundo, mas o objetivo era claro: ter um carro pesado, protegido contra tiros e capaz de espalhar o terror entre os rivais.

O visual desses veículos acabou rendendo apelidos como "monstros" ou "rinocerontes". Assim como os primeiros narcosubmarinos, esses blindados artesanais eram montados com placas de aço de dois a três centímetros de espessura, tinham bases pra instalar metralhadoras e rifles, e reforços na frente pra atropelar o que estivesse no caminho.

Foto de Vïctor González Foto de Vïctor González
Foto de Vïctor González Foto de Vïctor González

Narcotanques

Desde o começo da década passada, esses veículos se espalharam entre diferentes facções por causa da eficiência em espalhar o pânico (imagina ver uma coisa dessas passando na sua rua) e pela resistência contra os tiros dos cartéis rivais. Mas, assim como aconteceu com os submarinos, os cartéis começaram a criar blindados cada vez mais sofisticados.

Eles continuam sendo artesanais — dá pra ver as marcas de solda e perceber que são feitos em cima de veículos comuns —, mas, em pouco tempo, deixaram de ser só umas gambiarras com chapas de aço e passaram a parecer verdadeiras tanquetas militares. Um exemplo disso é o que o youtuber Víctor González mostra neste vídeo:

Ford Super Duty

As especificações dessa caminhonete são impressionantes. Disponível em versão 4x4, com motores V8, capacidade de carga de 3,6 toneladas e força para rebocar até 18 toneladas, a Ford Super Duty é o sonho de consumo do americano médio — e também virou a base para a construção de um blindado... espetacular nas mãos dos narcos.

Foto de Vïctor González Foto de Vïctor González

No vídeo de González dá pra ver que eles não só copiaram os padrões de camuflagem dos veículos militares, como também esconderam completamente a origem do carro — o exterior foi tão modificado que é impossível dizer qual era o modelo original.

O veículo é todo coberto por placas de aço, tem vidros pequenos e blindados com vários centímetros de espessura, pequenas aberturas que podem ser fechadas e de onde saem os canos dos rifles, entradas reforçadas e até um sistema de torreta 360º no topo.

Foto de Vïctor González Foto de Vïctor González

Como a gente comentou, ainda dá pra notar alguns detalhes, como as marcas de solda, mas eles blindaram até as rodas. E quanto custa uma modificação dessas? Bem caro: pode chegar a 2 milhões de pesos, o que dá mais ou menos 100 mil dólares, segundo o Infobae. Outros modelos são mais... discretos. Por fora parecem caminhonetes comuns, mas escondem um canhão de grosso calibre dentro.

Original

Captura

E não é como se os narcos tentassem esconder isso: quando algum grupo consegue montar blindados melhores, eles fazem questão de exibir, tanto os próprios veículos quanto os que capturam de facções rivais. Como já falamos antes, é uma forma de mostrar poder e também um jeito de intimidar o inimigo. 

Só que, assim como os narcos capturam "tanques" dos rivais, as autoridades também estão na ativa há mais de uma década para "garantir" os narcotanques.

Nos últimos anos, as forças de segurança apreenderam quase 300 desses veículos blindados. Muitos deles são usados depois em centros de treinamento das polícias e dos militares. Assim, eles conseguem entender como os cartéis estão reforçando os carros, descobrir os pontos fracos e treinar manobras de combate da forma mais realista possível. Já os veículos que não servem pra treino acabam sendo destruídos.

Eficácia relativa

A grande pergunta — ou uma delas — é: quão eficazes esses tanques improvisados realmente são em combate, e não só como forma de intimidação? A resposta depende muito de quem está do outro lado. Na guerra entre cartéis rivais, em conflitos nas ruas e até contra forças policiais "comuns", esses blindados fazem diferença. Mas contra o exército, que tem veículos mais preparados e muito mais tecnologia, os narcotanques não são tão eficazes assim.

Só que eles estão evoluindo

Facções como o Cartel do Golfo começaram a investir em melhorias que vão além da blindagem: instalaram softwares nos veículos para bloquear sinais de drones inimigos. O que é certo é que os narcotanques mudaram muito em poucos anos, passando de gambiarras pesadas para verdadeiras máquinas com capacidade militar moderna.

E tudo isso é mais uma prova do poder dessas organizações e de até onde elas estão dispostas a ir para proteger seus recursos e eliminar seus rivais.

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