Os acidentes de trânsito infelizmente são uma realidade comum e preocupante em vários lugares, inclusive no Brasil, que ocupa a posição de terceiro país com mais mortes no trânsito em todo o mundo, segundo dados do relatório Global Status Report on Road Safety, da Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), no Brasil, somente em 2024, mais de 6 mil pessoas perderam a vida em acidentes registrados nas rodovias federais.
Mas e se fosse possível evitar esses acidentes? Uma pesquisa realizada na PUC-PR, desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTF-PR), aplicou técnicas de mineração de dados e inteligência artificial para analisar quais são os fatores relacionados à ocorrência e à gravidade de acidentes nas rodovias do Paraná. A partir disso, os pesquisadores treinaram um algoritmo para prever os acidentes de trânsito e, com isso, evitá-los.
Pesquisadores analisaram variáveis para o treinamento do algoritmo
Imagine só quantas vidas seriam poupados se existisse uma forma de antever um acidente de trânsito e, com isso, evitar uma tragédia. Embora pareça improvável, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) conseguiram esse feito. Para isso, eles contaram com o apoio de uma ferramenta que está revolucionando a forma como vivemos: a inteligência artificial.
Para colher informações envolvendo os acidentes de trânsito no estado do Paraná, os pesquisadores aplicaram técnicas de mineração de dados, que englobam uma variedade de métodos para extrair informações de grandes conjuntos de dados, e a inteligência artificial. Após colher os dados, eles treinaram um algoritmo a partir dos registros de acidentes, utilizando variáveis como o perfil dos usuários, as características da infraestrutura viária, as condições ambientais e os tipos de transporte envolvidos.
O objetivo? Estabelecer medidas que diminuam o problema, como a implantação de vias de contorno, passagens em desnível, radares, lombadas eletrônicas, sinalização vertical e semáforos. Dessa forma, a tendência é que o número e a gravidade dos acidentes diminuam, trazendo maior segurança para os condutores e até pedestres.
Confira quais são os fatores que contribuem para acidentes no Paraná
Para conseguir as informações sobre os acidentes de trânsito no estado, a equipe analisou dois grandes conjuntos de dados fornecidos pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR): o primeiro, entre os anos de 2004 a 2013, e o segundo, entre 2019 a 2024. Depois, foram aplicadas quatro técnicas de mineração de dados, com destaque para o uso do software CBA (Classification Based on Associations), capaz de construir regras de classificação para prever acidentes fatais a partir de variáveis, como tipo de via, iluminação, velocidade, clima e presença de áreas urbanas. Confira a seguir quais foram os fatores que contribuíram para a frequência dos acidentes e gravidade deles, respectivamente:
- Presença de segunda ou terceira faixa (65,8%)
- Maior sinuosidade do terreno (62,2%)
- Áreas de ultrapassagem com sinalização por linha tracejada (56,3%)
- Presença de acostamento (53,9%)
- Iluminação insuficiente nas vias (48,2%).
Quanto à gravidade dos acidentes:
- Presença de perímetro urbano (93,5%)
- Maior sinuosidade do terreno (66,8%)
- Baixa iluminação (62,1%)
- Áreas de ultrapassagem (59,7%)
- Velocidades mais elevadas nas vias (44,5%).
Os modelos para prever acidentes apresentaram 90% de acerto
Apesar de ser o terceiro país com mais mortes no trânsito, os acidentes não são uma preocupação apenas do Brasil, mas de todo o mundo. Para se ter uma ideia, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que mais de 3,5 mil pessoas morrem, diariamente, em acidentes de trânsito no mundo todo, o que representa cerca de 1,3 milhão de óbitos por ano. Por essa razão, modelos como os desenvolvidos pelos pesquisadores da PUCRS são tão importantes. Além de inovadores, os modelos apresentaram altos índices de acerto, de até 94%, o que torna possível prever e evitar a ocorrência de acidentes de trânsito.
“A metodologia desenvolvida permite identificar padrões recorrentes por meio de regras de associação que revelam as causas ou fatores relacionados aos acidentes.”, explica Gabriel Troyan Rodrigues, doutorando e pesquisador do PPGTU da PUCPR, um dos responsáveis pela pesquisa.
Outro destaque é que a metodologia desenvolvida pelos pesquisadores pode ser aplicada em diferentes localidades.
“Acreditamos que a mineração de dados aplicada à segurança viária tem enorme potencial para apoiar a formulação de políticas públicas mais eficazes, com base em evidências concretas”, afirma o professor Fabio Teodoro de Souza.
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