O segredo mais bem guardado da arte: a tecnologia que Da Vinci e outros gênios usavam para pintar suas obras-primas era como uma câmera 400 anos antes da fotografia

Artista britânico aponta que pintores famosos usaram recursos ópticos como câmaras escuras e lentes para alcançar precisão em suas obras

Obra de Jean Auguste Dominique Ingres. Créditos: banco de imagens
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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As obras de arte sempre fascinaram pela perfeição com que retratam rostos, gestos e detalhes do cotidiano. Mas será que toda essa fidelidade veio apenas do talento manual dos artistas que a produzem? O pintor britânico David Hockney, ao analisar trabalhos de mestres como Jean-Auguste Dominique Ingres, Caravaggio e Leonardo da Vinci chegou a uma conclusão: muitos deles teriam recorrido em sua produção a instrumentos ópticos, como espelhos, lentes e câmeras escuras, para alcançar resultados tão precisos. Todas as informações descobertas por David Hockney foram detalhadas no livro “O conhecimento secreto”, publicado em 2001, em que argumenta que grandes artistas utilizaram dispositivos ópticos, como a câmara lúcida, para alcançar a fidelidade em seus desenhos e pinturas.

O início da descoberta

Em 1999, ao visitar a National Gallery de Londres, David Hockney se deparou com desenhos de Jean-Auguste Dominique Ingres, renomado pintor e desenhista francês. Nas obras, o que mais chamou a atenção foi o contraste entre a extrema precisão dos traços do rosto e a liberdade com que eram representadas as roupas. Essa diferença despertou a suspeita de que Ingres teria recorrido a algum recurso técnico para alcançar essa precisão. Intrigado com o efeito artístico das obras de Ingres, David decidiu investigar o assunto testando, ele próprio, a utilização da câmara lúcida em suas produções artísticas.

Entenda o que é uma câmara lúcida

Desenho de uma câmara lúcida. Créditos: banco de imagens A câmara lúcida é um dispositivo óptico que projeta a imagem do objeto sobre a superfície onde vai ser desenhado.

Mas o que é, afinal, uma câmera lúcida? A câmara lúcida é um instrumento óptico inventado em 1806 pelo físico inglês William Hyde Wollaston. Ele é um dispositivo portátil, composto por prismas e espelhos, que projeta a imagem de um objeto diretamente sobre a superfície onde vai ser desenhada. Assim, o artista pode desenhar observando ao mesmo tempo o objeto real e sua projeção, o que facilita a reprodução fiel das proporções e dos detalhes do que está sendo retratado. Isso permitia que o artista produzisse a obra de acordo com as regras da perspectiva linear, que nada mais são do que princípios matemáticos que criam a ilusão de profundidade e espaço.

Espelhos e lentes: o segredo por trás da perfeição?

Para David, a grande revolução técnica da pintura não foi apenas a perspectiva linear, desenvolvida no século 15, mas o uso de espelhos e lentes adaptados à câmara escura. Esse dispositivo já era conhecido na antiguidade, e nada mais era do que um quarto fechado com um pequeno orifício que projetava, de forma invertida, a imagem externa em uma parede interna.

Intrigado, o artista britânico decidiu reunir em sua casa um grande mural com cópias de obras de diferentes épocas, que iam do século 15 ao 19. Ao comparar lado a lado os quadros e desenhos, David percebeu que, a partir de certo momento, a precisão dos retratos aumentava, como se fossem fotografias, algo bem difícil de ser alcançado apenas com o olhar humano.

A partir dessa observação, ele concluiu que muitos pintores clássicos provavelmente recorreram a recursos ópticos para projetar as imagens sobre a tela e reproduzi-las com extrema fidelidade. Mas por que nem todo mundo sabe disso? De acordo com David, a ausência de registros escritos sobre esses instrumentos utilizados nas produções artísticas se deve ao segredo profissional, pois quanto mais preciso o retrato, maior o prestígio do pintor e, consequentemente, mais encomendas recebia.

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