A Pantone tem um talento curioso: todo ano, consegue transformar um simples pigmento em protagonista global, como um tipo de celebridade cromática capaz de movimentar tendências, campanhas de marketing e discussões que ninguém tinha pedido, mas que de repente todo mundo quer participar. Desde 1999, esse ritual define o tom (literalmente) do ano que começa. Em 2024 tivemos o pêssego calmante Peach Fuzz; em 2025, o terroso Mocha Mousse. Para 2026, a empresa resolveu dar um passo ousado — ou, dependendo do ponto de vista, nenhum passo: o escolhido é Cloud Dancer, um branco “etéreo e equilibrado”.
Sim, branco. O que imediatamente abriu a temporada de piadas, memes e indignações. Afinal, estamos falando de uma cor que muita gente nem considera cor, e que outros enxergam como símbolo de pureza, luxo… ou algo muito mais complicado. Como resumiu um usuário no Instagram: “Não consigo provar ainda, mas isso parece uma microagressão”. E esse é só o cartão de visita da reação online.
Segundo a Pantone, Cloud Dancer seria um convite à serenidade, “um símbolo de influência calmante em uma sociedade que redescobre o valor da reflexão”. Para Laurie Pressman, vice-presidente do Pantone Color Institute, trata-se de um “tecido estrutural” que permite que outras cores brilhem. Em outras palavras: o branco seria o novo preto — neutro, versátil, minimalista, pronto para virar qualquer tipo de produto.
Mas, se a intenção era transmitir paz, o tiro saiu pela culatra. Críticos chamam a escolha de “pretensiosa”, “distorcida” e até “Pantonedeaf” — um trocadilho inevitável para quem percebeu o timing desastrado de uma celebração explícita da “brancura” em meio a um cenário político internacional marcado por xenofobia, retrocessos em políticas de diversidade e discursos públicos inflamados. Como destacou o New York Times, é impossível ignorar as associações simbólicas: branco é um “tom carregado”, historicamente ligado a pureza, riqueza e, em contextos menos simpáticos, supremacia.
O curioso é que boa parte do mercado da moda nem ficou tão surpresa assim. O branco já vinha desfilando com força em passarelas — de camisetas de seda na Chanel ao look total branco usado por Meghan Markle em Paris. O movimento conhecido como “quiet luxury”, estetizado por Gwyneth Paltrow e Sofia Richie, consolidou o branco como cor-chave desse minimalismo caro, asséptico e supostamente sofisticado.
Mesmo assim, designers esperavam outra direção. Depois de um 2025 marcado por tons terrosos, muitos apostavam em um verde ligado ao discurso de sustentabilidade. Outros imaginavam algo vibrante, acompanhando desfiles que abraçam texturas naturais e cores saturadas. Eis que Pantone chega com… um branco. Nem quente, nem frio. Um branco branco.
E, claro, há o lado prático: quem nunca manchou uma roupa branca com molho de tomate? Cloud Dancer pode até simbolizar um “recomeço”, mas também é garantia de mais alvejante na lista de compras.
Crédito de imagens: Pantone
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