A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como Doença da Vaca Louca, é uma condição neurodegenerativa fatal que ganhou notoriedade global nas décadas de 1980 e 1990 devido à sua ligação com a saúde humana. A epidemia teve sua origem em uma prática de baixo custo que visava baratear a produção e aumentar a produtividade do gado.
A solução envolvia a reciclagem de proteína animal na dieta dos herbívoros, o que acabou por introduzir um agente infeccioso no rebanho, causando a deterioração progressiva e irreversível do sistema nervoso.
Risco para saúde humana
A EEB é causada por um príon, uma proteína infecciosa anormal que não é nem vírus nem bactéria. Esse príon leva ao dobramento incorreto de proteínas cerebrais normais, fazendo com que o cérebro adquira um aspecto de esponja, daí o nome espongiforme.
No gado, os sintomas incluem mudanças drásticas de comportamento (nervosismo, agressividade, medo), perda de coordenação motora (ataxia) e dificuldade para caminhar.
O grande risco para a saúde pública reside na possibilidade de transmissão para humanos. A ingestão de carne ou produtos derivados de gado doente pode causar a Doença de Creutzfeldt-Jakob variante (vCJD), que também é fatal.
A origem da contaminação: ração de baixo custo
O surto da doença foi identificado pela primeira vez no Reino Unido em 1986. A principal via de contaminação do rebanho bovino foi o uso da farinha de carne e ossos (MRO), que era adicionada à ração dos animais como um suplemento proteico barato.
Essa farinha, muitas vezes produzida com restos de animais doentes (incluindo ovinos infectados com scrapie, uma doença semelhante), serviu como o vetor que levou o príon a se espalhar rapidamente entre os bovinos.
A prática de alimentar herbívoros com proteína de origem animal, que era vista como uma solução fantástica para a produtividade, foi a catalisadora da crise global.
Vigilância no Brasil e o status atual
Em resposta aos surtos internacionais, as autoridades de saúde animal, incluindo a Defesa Agropecuária de São Paulo e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), implementaram medidas rigorosas. A principal delas foi a proibição total de alimentar ruminantes com proteína de origem animal.
Atualmente, o Brasil é reconhecido internacionalmente como país livre de EEB clássica. Os poucos casos recentes detectados são classificados como EEB atípica — uma forma que surge espontaneamente em animais mais velhos (geralmente com mais de 9 anos) e não está relacionada à ingestão de ração contaminada.
O sistema de vigilância brasileiro é considerado robusto, com monitoramento constante de animais doentes, evitando que a doença, que marcou a história da pecuária mundial, se estabeleça no país.
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